Então a polêmica que abre a semana é a marmita de Wagner Moura numa ocupação do MTST. A patrulha direitista viu camarões na comida e saiu metralhando. O que melhor descreve meu sentimento a respeito disso é o emoji de olhinhos virados, infelizmente indisponível aqui.

Assim, buscarei me expressa por ferramentas mais convencionais de linguagem.

O ataque a Wagner e ao MTST denota ódio aos pobres, ignorância, preguiça e cinismo.

Ódio aos pobres porque acham que camarão é um manjar reservado aos ricos. O pobre que coma osso ligeiramente podre.

Ignorância porque essa gente não reconheceu, nas mãos do cineasta, um dos pratos populares mais famosos do Brasil. Ali tem camarão seco, tem vatapá, tem caruru, tem a saladinha do acarajé. Só não tem o acarajé em si, o bolinho frito, que Wagner deve ter pedido para alguém segurar –veem-se os pequenos acarajés na segunda foto do mesmo post de Instagram.

Wagner Moura é baiano. Carlos Marighella era baiano. Acarajé é baiano. Nada mais adequado do que servir acarajé ao ilustre convidado.

Preguiça porque ninguém procurou saber de que se tratava a comida. O acarajé desmembrado veio do Acarajazz, um negócio familiar do Jabaquara (zona sul de Sõ Paulo). Lá, o acarajé custa de R$ 20 (individual) a R$ 37 (para dois), menos do que uma refeição de frango num boteco qualquer da zona oeste.

É uma operação minúscula, tocada n linha de frente pelos primos Bia Souza (paulistana, filha de baianos) e Rafael Italo (de Salvador). Aliás, o camarão miúdo que vai no acarajé não é nenhuma trufa branca, nenhum limão-caviar.

O cinismo é o pior de tudo.

Enquanto Eduardo Bolsonaro atacava Wagner Moura, seu papai, o “simplão” Jair, se hospedava numa suíte em Dubai cuja diária custa o equivalente a R$ 22 mil.

O quarto do presidente foi pago pelos anfitriões árabes. Não há por que questionar uma cortesia desse tipo a um chefe de estado, quando ela não envolve dinheiro público.

A não ser que o chefe em questão carregue, para a mesma viagem, uma comitiva de inúteis cujo passeio está, sim, sendo bancado pelo nosso dinheiro.

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Fonte: Folha de S.Paulo