Peço perdão por falar de doces no dia seguinte à Páscoa, mas não posso evitar. Só consegui pensar em um tema para este post: bolo. Talvez porque seja meu aniversário.

O brasileiro, nesta década, desenvolveu uma obsessão por bolos. Do nada, surgiram dezenas de redes de fábricas de bolos. Assombroso. Quem come tanto bolo? O pessoal anda fazendo aniversário todo mês?

O mais intrigante do fenômeno é a sua persistência. As “bolerias artesanais” surgiram mais ou menos na mesma época das paleterias mexicanas. Enquanto estas foram pro saco, porém, os mercadores de bolo seguiram prósperos.

Num raio de 300 metros da minha casa, existem cinco fabriquetas de bolo. Além delas: três supermercados e duas padarias que vendem bolo, mais três cafés que servem bolo.

As lojas de bolo se dividem em algumas subcategorias. Aqui na vizinhança, duas seguem a linha “cozinha da vovó”: aqueles bolos sem muita calda, de sabor mais ou menos neutro, para comer no cafezinho da tarde.

Outra é franquia de uma marca que se espalhou, feito a dengue, Brasil adentro. Tem uma foto monstruosa da Ana Maria Braga na entrada e oferece 4.772 combinações de sabores de massa e recheio.

Tem ainda uma que pretende ser moderninha, americanizada, com opções fora do circuito fubá-brigadeiro: crumble de maçã, red velvet, blueberry com limão-siciliano.

Por último, temos a sobrevivente dos tempos em que bolo era algo reservado para datas especiais. A única da lista que já estava no bairro quando eu me mudei para cá, quase 20 anos atrás.

Essa doceira ainda prepara aquelas receitas rococós dos anos 1980: toneladas de ovos para fazer merengue e baba-de-moça, abacaxi com coco, nozes, oceanos de chantili.

E ameixas. Ameixas secas, pretas, camufladas no doce de leite do recheio. O maior pesadelo das minhas festinhas de criança. Dar uma dentada naquele bolo perfeitamente lindo e, pimba!, ser atacado por uma ameixa viscosa e amarga que não deveria estar ali. Em segundo lugar, quase tão insidioso, estava o damasco.

Como hoje é meu aniversário, posso falar a bobagem que bem entender. Então toma: quando eu for ditador desta bagaça, mandarei prender as pessoas más que escondem ameixas e damascos no recheio do bolo.

E tenho dito.

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Fonte: Folha de S.Paulo