Em questão de 24 horas, mais ou menos, o Brasil teve dois episódios de grande repercussão com algumas características em comum: envolviam preconceito e clientes “rebeldes” em estabelecimentos comerciais.

Na quinta-feira (19), em Porto Alegre, João Alberto Freitas brigou com funcionários do supermercado Carrefour, foi agredido e morto pelos seguranças da loja.

Na sexta-feira (20), em São Paulo, Lidiane Biezok ofendeu e agrediu fisicamente funcionários e clientes de uma padaria em São Paulo. Foi detida e liberada pela polícia.

E se os papéis se invertessem? Lidiane, a mulher loira, a encrencar com a caixa do mercado? Beto, o homem negro, a disparar xingamentos homofóbicos e meter a mão geral na padoca?

Se a possessa da padoca arrumasse confusão no Carrefour, estou certo, fariam cara de paisagem e a deixariam sair. Mesmo porque até furtos são tolerados de certo modo quando o infrator é branco.

Já um preto fazendo o diabo-da-tasmânia na padaria não sairia andando de lá.

Numa hipótese bastante provável, ele seria expulso na porrada pelos seguranças logo no início do show. Não teria a longa presença de palco concedida à dona Lidiane. Se ninguém filmasse, o restou do mundo nem ficaria sabendo.

Mas pode ser que, por alguma razão, fosse difícil remover o homem de cena.

Aí, talvez tivéssemos cerco policial, GATE em posição de tiro, Globocop sobrevoando a Pompeia e plantão extraordinário do Datena. Mundo cão ao vivo na TV, com um indivíduo acuado dentro da padaria e desfecho potencialmente trágico.

Um terceiro cenário plausível seria a solução Carrefour POA.

Lidiane Biezok alegou transtornos mentais para justificar o forrobodó na padoca.

Não duvido de sua palavra. Os vídeos do episódio mostram alguém bem fora da caixinha, por condição médica ou medicamentosa.

Mas é gozado que só os brancos têm o direito de –ou o tempo para– jogar a carta da doença mental sobre a mesa.

Beto, no Carrefour, também estava alterado. Ninguém, em estado lúcido, seria besta de socar um segurança de supermercado.

A diferença é que, se fosse uma madame ou um playboy, o segurança tentaria conter a própria reação para preservar a vida do cliente em fúria.

Como fizeram na padaria em São Paulo, com a dona Lidiane.

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Fonte: Folha de S.Paulo