Um grupo internacional de cientistas encabeçado por duas pesquisadoras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriu um marcador do envelhecimento do sistema nervoso central. O trabalho, publicado na revista Ageing cell, abre novos caminhos para a compreensão do declínio cognitivo dos idosos. Também ajuda no desenvolvimento de novas drogas contra doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.

O envelhecimento do sistema nervoso é caracterizado por uma mudança progressiva na fisiologia das células cerebrais. O processo pode contribuir para déficits cognitivos. Leva à demência e ao comprometimento da qualidade de vida.

Mecanismo

O grupo encabeçado pelas neurocientistas Isadora Matias e Flávia Gomes, do Instituto de Ciências Biomédicas, investiga doenças associadas ao envelhecimento há mais de dez anos. Mesmo assim, dizem, até hoje os mecanismos de transição de um cérebro saudável e funcional para um cérebro idoso e disfuncional não são ainda bem compreendidos.

O biomarcador descrito é uma proteína, conhecida como lamina-B1. Está presente nos neurônios e nas células gliais. O papel dessa proteína normalmente é relacionado à manutenção da integridade do núcleo celular. Exerce funções que vão da manutenção da estrutura do núcleo e seu funcionamento até o reparo de DNA.

No estudo, o grupo descreve que a perda de lamina-B1 ocorre em células do hipocampo de camundongos e indivíduos humanos idosos, especialmente. “Em nosso estudo caracterizamos, de forma pioneira, um biomarcador da senescência (envelhecimento) celular, a lamina-B1, no sistema nervoso central”, contou Flávia Gomes. “É a primeira vez que esse biomarcador é identificado nessas células de tecido idoso sadio.”

No sistema nervoso central, o envelhecimento dos astrócitos representa um importante fator para as disfunções celulares e cognitivas associadas à idade. O trabalho publicado por Flávia Gomes, Isadora Matias e outros cientistas mostra que a perda da proteína lamina-B e deformações nucleares são biomarcadores desse processo.

O grupo também descreveu que astrócitos senescentes apresentam déficits em seu potencial de promover a formação de sinapses e a diferenciação dos neurônios. Isso pode favorecer o declínio sináptico associado ao envelhecimento.

Os cientistas trabalharam com roedores e com amostras de tecido cerebral humano de bancos de encéfalos da Universidade de São Paulo (USP) e de uma instituição da Holanda. Ao todo, foram analisadas 16 amostras de pessoas de meia-idade e 14 de idosos. Os pesquisadores investigaram transformações nos astrócitos. São células nervosas que dão sustentação e ajudam a controlar o funcionamento dos neurônios.

Perspectiva

Estima-se que em 2050 o número de pessoas com 60 anos ou mais será o dobro do existente na atualidade. Serão quase 2,1 bilhões de idosos em todo o mundo. Nesse contexto, é esperado um aumento substancial na incidência de doenças associadas à idade. A lista inclui câncer, diabete e doenças neurodegenerativas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.