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Novak Djokovic, definitivamente, é o nome mais comentado no mundo esportivo neste início de ano, mas não pelas vitórias em quadra. A polêmica envolvendo a entrada do tenista na Austrália para disputar o Grand Slam do país começou logo nos primeiros dias do ano. A participação de Djokovic no Aberto da Austrália era vista com muita apreensão por fãs do tênis. O sérvio foi nove vezes campeão da competição e está à procura do título que lhe permita se tornar o recordista em torneios de Grand Slam — está empatado com o suíço Roger Federer e com o espanhol Rafael Nadal, todos com 20 cada.

O sérvio, que no passado revelou por diversas vezes ser contra a vacinação, já tinha tomado, em novembro, a decisão de não se pronunciar mais sobre as suas decisões relacionadas com esta medida de prevenção. Para entrar na Austrália, o sérvio precisou de uma “permissão de isenção” do governo australiano para competir no prestigiado torneio, já que não revela se está vacinado contra a covid-19, um requisito obrigatório para os passageiros que chegam ao país da Oceania.

Essa permissão só é atribuída após análise da situação por parte de uma equipe de médicos independente, sem o conhecimento da identidade do requerente. “Se essa evidência for insuficiente, ele não será tratado de forma diferente e estará no próximo avião para casa. Não deve haver nenhuma regra especial para Novak Djokovic. Absolutamente nenhuma”, disse o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison.

Djokovic tem documentação com erro de preenchimento ao entrar na Austrália

Mas no dia 5, o tenista desembarcou em Melbourne e foi barrado no aeroporto porque teve problemas com o preenchimento de seu visto. O sérvio teria apresentado documentação errada logo após descer do avião. De acordo com a imprensa australiana, a equipe de Djokovic teria cometido um erro no preenchimento dos formulários do visto, sem acrescentar a importante informação de que ele havia obtido uma permissão médica especial para poder entrar no país sem a necessidade de comprovar a imunização contra a covid-19, requisito obrigatório para todos os que viajam à Austrália.

O diretor do Aberto da Austrália, Craig Tiley, disse a repórteres que os motivos para garantir a permissão especial podem incluir reações anteriores a vacinas, cirurgia recente, miocardite ou evidência de infecção por coronavírus nos seis meses anteriores. A mais especulada na imprensa australiana era que ele teria contraído o vírus nos últimos seis meses.

Autoridades australianas barraram a entrada do tenista sérvio porque ele não teria apresentado “padrões adequados de evidências” para entrar no país com a permissão médica especial que havia obtido na véspera. “O visto do Sr. Djokovic foi cancelado. Não há casos especiais, regras são regras, principalmente quando se trata das nossas fronteiras. Ninguém está acima destas regras. Nosso rígida política de fronteira foi essencial para a Austrália apresentar um dos menores índices de morte por covid-19 no mundo. Seguimos vigilantes”, disse o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison.

O tenista ficou retido no Park Hotel, um “hotel de quarentena” em Melbourne, enquanto seus advogados entraram com um pedido de liminar urgente para permitir que ele permaneça no país. Diversos fãs do tenista, com bandeiras da Sérvia, foram até o hotel onde Djokovic está confinado para protestar e pediram que o número 1 do mundo fosse liberado para disputar o Aberto da Austrália, que começa no dia 17 de janeiro.

Polêmica alcança o âmbito político

Até o presidente da Sérvia se manifestou sobre o caso. “A Sérvia vai fazer tudo que puder para acabar imediatamente com este constrangimento causado a Novak Djokovic”, declarou Aleksandar Vucic. “O que não é jogo limpo é a perseguição política (contra Djokovic), da qual participam todos, incluindo o primeiro-ministro da Austrália, fingindo que as regras são válidas para todos”, disse à imprensa. Belgrado disse ter entrado duas vezes em contato com o embaixador australiano na Sérvia e que a primeira-ministra, Ana Brnabic, vai falar com uma autoridade de alto escalão do governo australiano.

A Ministra do Interior da Austrália, Karen Andrews, disse que o sérvio estaria livre para deixar o hotel na cidade de Melbourne e voltar ao seu país de origem. “O Sr. Djokovic não está prisioneiro na Austrália porque ele está livre para partir a qualquer momento que decidir fazê-lo e a Força de Fronteira certamente irá facilitar isso”, disse em uma entrevista à emissora pública australiana ABC.

O sérvio enfim se manifestou publicamente pela primeira vez através de sua conta no Instagram e agradeceu o apoio dos fãs. “Obrigado às pessoas ao redor do mundo por seu apoio contínuo. Eu posso senti-lo e o agradeço enormemente”, escreveu.

Briga na Justiça se arrasta

No dia 8, a defesa de Djokovic apresentou à Justiça australiana documentos para comprovar que o tenista teria testado positivo para covid-19 em 16 de dezembro de 2021. A contaminação há pouco menos de um mês deixaria o sérvio livre para entrar na Austrálias. Segundo a agência de notícias Associated Press, os documentos apresentados pela defesa do tenista mostram que ele recebeu uma carta do médico oficial da Tennis Australia, órgão regulador do esporte no país, no dia 30 de dezembro. O texto registra “que ele (Djokovic) recebeu uma isenção médica de vacinação contra covid pois se recuperou recentemente da doença”.

A primeira-ministra da Sérvia, Ana Brnabic, afirmou na quarta-feira que Djokovic será investigado pelo governo sérvio por violar as regras de isolamento após testar positivo para a covid-19 em dezembro do ano passado. O tenista testou positivo em 16 de dezembro e no dia seguinte apareceu sem máscara no lançamento de um selo com sua imagem em um evento em Belgrado.

“Ninguém pode violar as regras de isolamento, pois coloca em risco a saúde de outras pessoas. Isso constitui uma ‘violação grave'”, disse Brnabic, em uma entrevista ao canal de TV britânico BBC. “As leis se aplicam igualmente a todos”, completou.

A apelação de Djokovic à Justiça australiana após ter sido barrado na sua chegada em Melbourne deu certo. O sérvio ganhou, através de decisão do juiz federal Anthony Kelly, o direito de entrar no país. Horas após ser liberado por um juiz e ter sua entrada na Austrália permitida, o tenista sérvio já foi para a quadra treinar e contar que pretende buscar seu 10° título no Aberto da Austrália.

“Estou satisfeito e grato que o juiz anulou o cancelamento do meu visto. Apesar de tudo o que aconteceu, quero ficar e tentar competir o Aberto da Austrália. Eu continuo focado nisso. Eu voei aqui para jogar em um dos eventos mais importantes que temos diante de fãs incríveis”.

O sérvio afirmou que esteve em evento quando ainda não sabia do seu teste positivo para covid-19, em dezembro, e disse que um membro de sua equipe cometeu “erro humano” ao preencher formulário de imigração. “Quero abordar a desinformação contínua sobre minhas atividades e participação em eventos em dezembro, antes do resultado positivo do meu teste PCR para covid”, declarou. “Esta desinformação precisa ser corrigida, particularmente no interesse de aliviar a preocupação mais ampla da comunidade sobre minha presença na Austrália e abordar assuntos que são muito dolorosos e preocupantes para minha família.”

Visto de Djokovic é cancelado e tenista pode ficar fora do Aberto da Austrália

Nesta sexta-feira, as autoridades australianas decidiram adiar a deportação de Djokovic até um pronunciamento da Justiça após o tenista ter o visto cancelado pela segunda vez. O ministro da Imigração, Alex Hawke, usou poderes discricionários para cancelar novamente o visto de Djokovic, depois que um tribunal anulou uma revogação anterior e o liberou da detenção de imigração na segunda-feira. As autoridades australianas confirmaram nesta sexta-feira que Djokovic será detido após ter o visto cancelado pela segunda vez desde que chegou ao país e que o caso retornará à Justiça.

Depois de ter o visto negado pela segunda vez, os advogados de Djokovic entraram com recurso, que foi remetido à Justiça Federal da Austrália e deverá ser julgado no domingo. Antes, o sérvio terá um encontro com a imigração neste sábado. Assim, o número 1 do mundo pode ficar fora da disputa do Aberto da Austrália, que começa na segunda-feira.

Apesar disso, a organização do Aberto da Austrália indicou que o torneio começará pelo lado superior das chaves masculina e feminina. Dessa forma, na condição de atual campeão, o sérvio teria de jogar logo na segunda-feira, muito provavelmente na rodada noturna local, que acontece a partir das 5 horas de Brasília. Seu adversário será o compatriota Miomir Kecmanovic.

Fonte: MSN