(FOLHAPRESS) – Em setembro de 2018, todo mundo já sabia que o economista Paulo Guedes passaria de Posto Ipiranga a ministro da Economia em caso de vitória de Jair Bolsonaro (PL). Na atual campanha, Guedes segue firme como o mais bem cotado na Esplanada para ficar no cargo em um eventual segundo mandato de Bolsonaro. Há quem diga que é o único com cargo certo.

No caso do líder nas pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o nome ainda é uma incógnita. Há fortes razões políticas para a falta de indicados, afirmam pessoas que acompanham a campanha.

Lula não quer nem discutir sugestões. Até para deter egos e risco de disputas internas precoces. O foco é vencer a eleição. De preferência no primeiro turno. Ainda que essa meta seja atingida, a definição para os principais ministérios, incluindo o da Economia, ficará para depois do segundo turno, quando os governos estaduais estiverem definidos.

Lula tem dado recados. O mais enfático é que seu primeiro ato, se eleito, será fazer uma reunião com os governadores e pacificar as relações entre estados e União. Ele sempre foi político de alianças, mas essa competência agora escalou, dada a necessidade de garantir governabilidade a um eventual terceiro mandado.

Uma das peças mais importantes nesse xadrez nacional é o desfecho de Fernando Haddad em São Paulo. Ele segue firme na liderança das pesquisas ao governo estadual, mas a escala de titulares para a área econômica está atrelados ao resultado paulista.

Há correlações entre quem vai para onde, considerando secretaria de Fazenda do estado e Esplanada em Brasília. Se perder para governador, Haddad é nome cacifado para ministro.

O papel do vice na chapa, o ex-governador Geraldo Alckmin, é outro elemento essencial no processo de decisão.

Alckmin desmentiu pessoalmente a história de que seria cotado para ministro da Economia. Essa conversa que circulava nos bastidores há quase um mês. Aliados já vinham descartando a suposição. Ninguém pensa em escalar o vice para um cargo passível de demissão. Também dizem que Alckmin tem mais o que fazer, pois não será vice decorativo.

Lula também passou o recado de que pretende viajar muito ao exterior. Quer recompor a imagem do Brasil, e a sua própria. Pretende aproveitar as boas relações com chefes de Estados da Europa para resgatar os laços ambientais. Também quer reatar os vínculos com os emergentes. Tem a ambição de assumir um papel internacional.

Pessoas próximas à campanha dizem que essa agenda global de Lula tende a cacifar Alckmin para o papel de vice-gestor –daí a expectativa de que ele será ouvido por Lula quando chegar a hora de validar ministros em postos chaves, como o da Economia. Alckmim terá de se relacionar com eles.

A chamada turma da Faria Lima, avenida que reúne a sede das principais instituições financeiras do país, é a mais ansiosa para saber quem vai tutelar a Economia em caso de vitória de Lula.

Os economistas e analistas têm pressa em balizar o rumo da política fiscal e da Petrobras. De certo, até agora, é que o super ministério da Economia seria desmembrado, porque o PT não abre mão de fazer planejamento e política industrial. Está em análise a criação de um conselho de assessores econômicos, nos moldes do que existe na Casa Branca.

Vira e mexe, a Faria Lima solta balões de ensaio com eventuais cotados que considera mais palatável. Saiu de lá a ideia de colocar Alckmim como Ministro da Economia. Feito o desmentido, agora, estão dizendo que ele vai para a Agricultura. Outro nome recorrente nos escritórios envidraçados é o de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central de Lula.

Nesta segunda, Meirelles participou de um evento promovido pela campanha petista, mas, em entrevista à Folha, condicionou seu apoio à manutenção de propostas econômicas semelhantes às da primeira gestão de Lula.

GESTÕES ANTERIORES TIVERAM PETISTAS NA CONDUÇÃO DA ECONOMIA

Um eventual Lula 3 será bem diferente dos Lula 1 e 2, mas a história das gestões petistas mostra uma predileção por empossar na economia nomes internos do partido. Antonio Palocci (janeiro de 2003 a março de 2006) tinha uma longa trajetória na esquerda e sigla. Guido Mantega o ministro mais longevo (março de 2006 a dezembro de 2014) é amigo pessoal de Lula até hoje.

A única vez que um ‘estrangeiro’ assumiu o posto o resultado foi considerado desastroso. O economista Joaquim Levy resistiu apenas 11 meses (janeiro a dezembro de 2015).

Ele deixou o cargo de diretor-superintendente do Bradesco Asset Management praticamente uma semana depois de o então presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco, recusar a mesma proposta numa reunião com a recém reeleita Dilma Rousseff. No encontro, também estava presente Lázaro Brandão, presidente do conselho de administração do Bradesco.

Levy tinha de cumprir a espinhosa missão de implantar o pragmatismo pós-eleitoral –adotar uma agenda econômica bem diferente da anunciada na campanha por Dilma. Foi incinerado pelo fogo amigo e pelas diligentes pautas bomba, encampadas pelo então presidente da Câmara Eduardo Cunha. Levy é considerado a vítima da anti-sala do impeachment.

O PT reassumiu a pasta com um correligionário de 30 anos, o economista Nelson Barbosa (dezembro de 2015 a maio de 2016). Aquele momento tenso, no entanto, volta à memória toda vez que o nome de Trabuco ressurge nas rodas informais sobre candidatos a ministro da Economia.

Já está dado que o próximo titular da pasta terá o desafio de trabalhar pela recuperação do Orçamento, em diferentes sentidos. Recompor as contas e também riscar o chão para retomar a gestão transferida para o Congresso. Lula já disse que aptidão política seria um atributo desejável.

Nos círculo do PT, prevalecem sugestões com trajetórias partidárias.

O deputado Alexandre Padilha (PT-SP), que foi ministro das Relações Institucionais no governo Lula, ministro da Saúde no governo Dilma e conhece que Alckmin. Disputou com ele, e perdeu, a eleição a governo de São Paulo em 2014.

Wellington Dias, que se desvinculou do cargo de governador do Piauí para disputar uma vaga no Senado. Economista Rui Costa, governador da Bahia, encerrando o segundo mandato com uma trajetória bem-sucedida.

Existe a expectativa de que Alckmin possa fazer a sua sugestão, numa eventual aliança liberal na economia.

Nomes importantes dessa corrente adotaram a agenda social, o que facilitaria uma eventual aproximação. A presidente do partido, deputada Gleise Hoffmann (PT-PR), por exemplo, se interessou pelo reposicionamento do economista André Lara Resende. Um dos formuladores do Plano Real, ele considera superado o receituário macroeconômico adotado no país.

O preferido de Alckmin, todo mundo sabe, é o economista Pérsio Arida, que coordenou o programa econômico na disputa à presidência em 2018. Arida tem estofo e currículo.

Um dos pais do Plano Real, foi presidente do Banco Central e do BNDES, além cofundador do BTG Pactual. Ele tem dado contribuições a todos os candidatos. Está no chamado grupo dos seis, que reuniu progressista em torno da elaboração de proposta para o próximo governo.

Arida não tem afinidade com a agenda petista, e a recíproca é verdadeira. Pessoas próximas dizem que seria difícil convencê-lo se o seu nome ganhar força. É mais fácil que sua namorada, Priscila Cruz, presidente-executiva e cofundadora do movimento Todos pela Educação, venha a participar de alguma gestão petista.

É claro que tudo é possível na política, mesmo Arida não sendo da política. A demonstração disso foi o gesto simbólico de assinar o manifesto dos economistas em defesa da reeleição de Rodrigo Garcia ao governo de São Paulo. Petistas interpretaram a adesão como um sinal.

Enquanto segue o jogo da campanha, não faltam apostas para todos os lados. O senador Jaques Wagner (PT-BA) é constantemente citado como opção para Casa Civil. Demitido por Bolsonaro, ex-diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ricardo Galvão poderia ser Ministro de Ciência e Tecnologia.

O ex-ministro Aloízio Mercadante, que hoje participa da coordenação do plano de governo, também já foi citado para esse posto. A Petrobras poderia ter uma nova presidente mulher, Magda Chambriard, ex-diretora-geral da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis). Mas neste ponto da campanha, tudo são conjecturas.