SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Uma criança de dez anos foi morta com uma bala perdida no último domingo (23) em meio a uma ação policial em Lauro de Freitas, cidade da Região Metropolitana de Salvador.

Gabriel Silva da Conceição Júnior brincava na porta de casa em Portão, bairro da periferia de Lauro de Freitas, quando foi atingido no pescoço por um disparo de arma de fogo. Ele chegou a ser levado para o Hospital Geral do Estado, em Salvador, mas não resistiu aos ferimentos.

Em entrevista à TV Bahia, a mãe da criança, Samile Costa, afirmou que o filho estava brincando na calçada no fim da tarde de domingo quando policiais em uma viatura entraram na rua atirando.

“Foi a polícia que entrou atirando e eu quero justiça, que eles percam a farda deles. Tiraram um pedaço de mim, o meu sonho, a minha vontade de viver. Eles tiraram todo o prazer da minha vida, destruíram”, afirmou a mãe.

Em nota à imprensa, a Polícia Militar informou que guarnições trocaram tiros com criminosos durante patrulhamento no bairro de Portão e destacou que os policiais envolvidos na ação estão à disposição da Polícia Civil para prestarem esclarecimentos. As armas usadas na ocorrência serão passarão por perícia.

A Polícia Militar ainda disse que “lamenta profundamente” a morte de Gabriel e que se solidariza com os familiares da criança.

A morte de Gabriel gerou comoção na comunidade e desencadeou uma série de protestos nesta segunda-feira (24) em Lauro de Freitas.

Moradores bloquearam a Estrada do Coco, principal via de ligação da capital baiana com o litoral norte do estado, causando congestionamentos. Um grupo de mães sentou ao longo da rodovia, ergueu cartazes com pedidos de justiça e cantou músicas religiosas.

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil da Bahia, que informou que já realizou as primeiras diligências para apuração do caso.

Na noite desta segunda-feira, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) emitiu uma nota na qual se solidariza com os familiares de Gabriel, com a comunidade de Portão e promete prioridade nas investigações.

“Reforço meu comprometimento com a apuração dos fatos. As Polícias Civil e Técnica já estão atuando, e as investigações estão sendo encaminhadas com prioridade”, disse o governador.

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgados na última quinta-feira (20) apontaram que a Bahia foi o estado que mais registrou mortes decorrentes de intervenção policial em números absolutos no ano passado. Ao todo foram 1.464 ocorrências.

Os números de 2022 fizeram a Bahia superar o Rio de Janeiro e passar a ocupar o posto de polícia que mais mata no país. Desde 2015, o número de mortes registradas como autos de resistência quadruplicou no estado.

Em nota divulgada na última quinta-feira, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia destacou que o total de mortes violentas no estado (homicídios, latrocínios e lesões dolosas seguidas de morte) caiu 5,9% em 2022, com 5.167 registros, ante os 5.594 casos do ano anterior.

A secretaria afirmou que “não coloca homicídio, latrocínio ou lesão dolosa seguida de morte praticado contra um inocente na mesma contagem dos homicidas, traficantes, estupradores e assaltantes, entre outros criminosos, mortos em confrontos durante ações policiais”.

“Com relação às mortes em confrontos, a SSP salienta que tem investido em capacitação e inteligência policial, buscando sempre atuar na proteção da sociedade. Reforça que aqueles criminosos que atacam as forças de segurança receberão resposta proporcional e dentro da legalidade”, diz a pasta.