SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As internações em UTIs (unidades de terapia intensiva) por Covid no estado de São Paulo entraram em desaceleração nesta semana, com os novos registros diários em queda nos últimos sete dias.

No dia 1º de fevereiro, havia 4.069 pacientes em leitos de UTI no estado, com 1.169 novos registros naquele dia. Já na última terça (8), foram registradas 947 novas internações, uma redução de quase 19% na comparação entre os dois dias. O número de internados em leitos de UTI é agora de 3.804.

Na região da Grande São Paulo, que inclui a capital, foram registradas 600 novas internações em UTI no dia 1º de fevereiro e, na última terça (8), foram 428. Apenas na capital, o total de internados em leitos intensivos passou de 2.213 para 1.971 nos últimos sete dias.

As hospitalizações em leitos de enfermaria também apresentaram queda, passando de 7.330, no último dia 1º, para 6.262 na terça (8), uma redução de 14,6%. Os dados são da Secretaria Estadual de Saúde e estão disponíveis na plataforma Seade.

Mesmo com a tendência de queda, a taxa de ocupação de leitos de UTI permanece acima de 70% em todo o estado e na capital. O percentual passou de 72,33%, no estado, no dia 1º de fevereiro, para 70,7% na última terça, e de 74,8%, na região da Grande São Paulo, para 71,1%.

Por isso, e com a explosão de casos recente devido à variante ômicron, o cenário ainda pede cuidados e uma maior preocupação, segundo especialistas ouvidos pela reportagem.

O tempo de internação por Covid caiu com a ômicron, de acordo com dados levantados junto à secretaria. Agora a média é de seis dias. Em março do ano passado, em comparação, era de 11 dias.

O menor tempo de internação pode ser, em parte, pela associação da ômicron a uma infecção mais leve, por não atingir tanto os pulmões, conforme mostram estudos científicos recentes, e também pelo grande número de pessoas com esquema vacinal completo (duas doses e reforço vacinal) ou incompleto (duas doses ou dose única).

Apesar da desaceleração, ainda não é possível dizer que o pico de internações provocado pelas novas infecções no final de 2021 e começo de 2022 já passou, explica Paulo Lotufo, epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP.

“É a regra ‘dos quinze’: 15 dias para a detecção [do caso], 15 dias para as internações e 15 dias para os óbitos. Não passamos ainda desse período”, afirma ele, citando a demora nos registros e nos desfechos de dados.

Para Lotufo, porém, os grandes laboratórios privados e públicos, assim como médicos que atendem no Hospital das Clínicas da USP, já veem uma queda nos números de casos positivos. “Acredito que agora estamos vendo essa toada de internações e óbitos e depois vamos ter uma queda lenta.”

Assim como ele, outros especialistas ouvidos pela reportagem observam hoje uma maior proporção de pacientes internados nas faixas etárias mais extremas: as crianças e os mais idosos.

“É preciso ressaltar que quem recebeu a dose de reforço possui um menor tempo de internação. Quanto mais atualizado for o histórico vacinal do paciente, menor a chance de internação, de evoluir para quadro grave e morte”, alerta.

De acordo com dados da plataforma estadual Vacina Já, o estado de São Paulo apresenta 97,08% da população com mais de 18 anos com esquema primário de vacinação completo, índice que vai a 80,98% na população geral.

Nas crianças de 5 a 11 anos, mais de 2,1 milhões receberam a primeira dose da vacina, o que equivale a 52,95%. Foram aplicadas quase 18 milhões de doses de reforço, o que equivale a 37,74% da população.

Os hospitais privados de São Paulo também observam uma desaceleração no número de atendimentos de sintomas de Covid nos prontos-socorros e nas unidades de internação.

No Hospital Hcor, o número de atendidos com síndromes gripais caiu de 150 por dia, em meados de janeiro, para 30, em média, nesta semana.

Em relação aos internados, houve uma queda mais modesta: de 96 (18 na UTI) na semana passada para 81, dos quais 15 na UTI, nesta semana.

No Hospital Sírio-Libanês, 57 pacientes estavam internados na UTI nesta quarta (9), dos quais 21 na UTI. Em 28 de janeiro, eram 129, dos quais 25 na UTI.

No Hospital Albert Einstein, 124 pacientes estavam internados nesta quarta, dos quais 46 na UTI e na semi-intensiva. No dia 4 fevereiro, eram 175, dos quais 66 nas unidades de terapia intensiva e semi.

“Estamos na fase descendente desta onda da ômicron”, diz Miguel Cendoroglo Neto, diretor-superintendente médico e serviços hospitalares do Einstein.

Ele explica que todos os indicadores que sinalizam queda das internações, como o número de testes de diagnósticos e a taxa de positividade, começaram a cair nas últimas duas semanas.

Por exemplo: na semana epidemiológica 4, entre 23 e 29 de janeiro, foram 10.447 exames, com taxa de positividade de 36,3%. Na semana seguinte, encerrada no dia 5 de fevereiro, foram 8.911 exames com positividade de 28%.

“A gente vem observando desde a semana 3 uma queda consistente dessa positividade. O dado parcial desta semana já aponta 18% de positividade”, diz Vanessa Teich, superintendente de economia de saúde do Einstein.

No Sírio-Libanês, o cenário é parecido. “A partir da última semana, a gente viu o número de casos diminuindo. Como temos visto em outros lugares e em modelagens, parece que São Paulo está saindo do pico da curva”, afirma a infectologista Mirian Dal Ben, do Sírio-Libanês.

Apesar do entusiasmo com a queda, os gestores seguem cautelosos. “Muitas dúvidas continuam. Será que todo mundo que teve ômicron pode ser reinfectado novamente pela ômicron e precisar de internação? Será que pode surgir uma nova variante de infecção de Covid de quem já teve ômicron, delta e já tem três doses de vacina?”, questiona Fernando Torelly, presidente do Hcor.

Para Julio Croda, infectologista e pesquisador da Fiocruz, são claros os sinais de desaceleração da Covid em SP. “A queda nas novas internações é o dado mais adequado para se avaliar, e vemos claramente uma queda nos registros diários de UTI. Em relação ao total de internados, vemos a desaceleração nos últimos sete dias”, explica.

Já Brigina Kemp, ex-coordenadora do departamento de vigilância em saúde de Campinas e membro do Observatório Covid-19 BR, acha que ainda é cedo para falar em desaceleração.

“Há relatos de alguns municípios com sinais de queda, algo muito reduzido ainda no universo de 645 municípios. Também ouvimos municípios com pacientes aguardando leitos para internação no interior do estado”, diz.

Kemp faz uma ressalva também quanto ao atraso dos dados nos sistemas devido ao represamento de informações após o ataque hacker ao Ministério da Saúde no final do ano e por causa dos afastamentos de profissionais de saúde por Covid no início de 2022.

Questionada sobre o número de pacientes em fila de espera por leitos de UTI no estado, a secretaria estadual não informou quantos estão no aguardo. Disse, em nota, apenas que a Cross (Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde), que ajuda da distribuição de vagas, tem lidado, em média, com 500 casos diários.

Ainda segundo a secretaria, os 700 leitos anunciados pelo governo estadual, no final de janeiro, para atender à nova demanda “já estão aptos”.