(FOLHAPRESS) – Uma pesquisa com hospitais paulistas concluiu que recentemente 69% deles viram aumento de crianças internadas com síndrome respiratória aguda grave (SRAG). O número de menores doentes fez com que grande parte dessas instituições também reportasse um avanço na ocupação de leitos clínicos e de UTI, indicativo que os pacientes estão evoluindo a quadros graves.

O levantamento, realizado pelo Sindhosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo), contou com a participação de 56 hospitais paulistas entre 8 e 12 de maio. E

les responderam se observam aumento de internações nos últimos 15 dias.

Crianças com infecções respiratórias nesse período do ano são mais comuns, em especial porque os patógenos são transmitidos com maior facilidade durante as estações frias.

“No período do outono/inverno prevalecem doenças respiratórias e a recomendação é que a população se previna e não esqueça da vacinação”, afirmou o médico Francisco Balestrin, presidente do Sindhosp.

Porém alguns fatores pioram o ano atual, afirma Marcelo Otsuka, vice-presidente do departamento de infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). Ele explica que, durante a pandemia de Covid-19, muitas crianças não foram infectadas pelos agentes que normalmente causam quadros respiratórios.

Com o arrefecimento da crise sanitária, esses menores estão sendo submetidos atualmente a vírus respiratórios. Além dessas, há uma quantidade de menores que normalmente já iriam se infectar no ano atual. Em conjunto, esse contingente de pequenos pode significar um número acima da média de infectados, assim como uma circulação superior dos agentes.

Os quadros mais graves das doenças também são uma realidade -carga viral mais alta e a queda na vacinação infantil são dois fatores que explicam maior gravidade, aponta Otsuka. Na pesquisa do Sindhosp, por exemplo, entre os hospitais que responderam haver aumento de internações de crianças por síndrome respiratória, 71% apontaram que o incremento de hospitalizações em leitos hospitalares foi de 21% a 39%.

Otsuka explica que a evolução de infecções virais para quadros mais complexos abre uma janela a outros problemas de saúde, como infecções bacterianas que podem levar a uma pneumonia e demandam uso de antibióticos.

Por isso, o médico recomenda que medidas preventivas devem ser tomadas. Uma das mais importantes é a vacinação. Gripe e Covid-19 são duas doenças respiratórias causadas por vírus que contam com vacinas distribuídas gratuitamente pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações).

Mas ainda não existem vacinas para alguns patógenos, como o VSR (vírus sincicial respiratório), que causa a bronquiolite em bebês. Nesse caso, higienização, isolamento de criança em caso de infecção e uma alimentação adequada são algumas ações possíveis de serem tomadas.

A importância de adotar medidas contra o VSR é ainda mais relevante porque ele é o responsável por boa parte das internações e impacta principalmente os menores, grupo de maior risco para fatalidades. “Nas crianças, o vírus sincicial respiratório segue sendo o principal vírus identificado, sendo responsável pelo cenário atual nesse público”, escrevem pesquisadores da Fiocruz no último boletim do Infogripe, projeto da instituição.

O levantamento compilou dados de até 6 de maio e concluiu que, das internações por SRAG com testes positivos a vírus respiratórios em todo o país, 47% foram ocasionadas pelo VSR, seguido pelo Sars-CoV-2, que causa a Covid-19, com 25%, e em menor grau por cepas de influenza.

O boletim também alerta que há uma tendência de crescimento moderado no país para síndrome respiratória. Por exemplo, a tendência de aumento de longo prazo, quando se observa o que ocorreu nas últimas seis últimas, foi vista em 19 estados brasileiros, mas São Paulo não está entre eles.

Leonardo Bastos, um dos pesquisadores que faz parte do Infogripe, explica que o estado está com um número estável de SRAG, mas ainda assim preocupante. “São Paulo está meio que estável, mas num patamar alto”, resume.

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, são 888 leitos de terapia semi-intensiva e de UTI para crianças em São Paulo. “Atualmente, a taxa média de ocupação pediátrica é de 72,07% para hospitais de administração direta, e de 75,64% para hospitais geridos por Organizações Sociais de Saúde (OSS).”

A Secretaria Municipal da Saúde disse que, para SRAG, 50% dos leitos de UTI estavam ocupados nesta quarta (17) na capital paulista.

Mesmo assim, o estado ainda concentra uma quantidade grande de hospitalização em menores de quatro anos por síndrome respiratórias. Na semana de 30 de abril a 6 de maio, foram registrados 2.500 novos casos de SRAG em todo o Brasil nesse público. Desses, 500 foram em São Paulo -ou seja, 20% do total.

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