(UOL/FOLHAPRESS) – O ex-árbitro Arnaldo Cezar Coelho analisou as novas orientações para os árbitros que atuarão no Campeonato Brasileiro 2023. Uma delas ele considera um “tiro no pé”: o anúncio por áudio e/ou no telão dos estádios da decisão tomada após checagem do VAR.

“Aqui no Brasil, e estou especificando, é um tiro no pé. Imagina um Corinthians x Palmeiras, o árbitro dá uma explicação? Tem coisas que a Fifa faz e que são para os jogos da Fifa. O que a Fifa faz em Copa do Mundo, Mundial de Clubes, não é para muitas das confederações. Especialmente aqui no Brasil. Sem falar em jogos na Argentina, Uruguai. O povo não vai aceitar explicação. Tem coisas que não têm explicação. Sempre brinco que batom no colarinho não tem que explicar”, disse Arnaldo, ao UOL.

Consequências: “Quando digo tiro do pé, é para que? Invocando a transparência. O torcedor não vai aceitar a transparência. Ninguém vai escutar. Eles querem dar transparência. Mas o futebol é interpretativo, os lances são interpretativos. O cara calçou? Não, ele tropeçou no pé. Ninguém vai dar ouvidos ao que o árbitro está falando”.

Não é uma visão muito negativa? “Não estou muito pessimista. A ideia no futebol americano, no basquete e até no vôlei? É com outro público, outro esporte. O futebol não comporta. Vamos ver como vai ser”.

Pode isso, Arnaldo? “Estou alertando. Da mesma forma que alertei quando o VAR começou: “O VAR vai dar confusão. O VAR vai demorar. Vai chamar em lances que não é para chamar”.

AS NOVIDADES QUE A CBF IMPLANTARÁ NO BRASILEIRO

– Árbitro dizendo no sistema de som do estádio a decisão que tomou após ir no monitor do VAR.
– Mudança na linha de impedimento do VAR -quando linhas que marcam posição do atacante e do defensor se tocarem, elas viram uma só, dando condição legal à jogada.
– Quem reclamar com o árbitro durante checagem ou revisão no VAR levará cartão amarelo.
– Os goleiros não podem provocar os batedores durante cobranças de pênalti.
– Atenção e critério mais rígido com os acréscimos. Até comemoração de gol conta como elemento para gerar tempo adicional às partidas.
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MAIS OPINIÕES DE ARNALDO

A nova linha de impedimento

“Era muito simples. Aumentar a linha de impedimento para 12 cm. Fizeram um que tem que ver se a linha está sobre a outra. Não! Todas as linhas do campo têm 12cm. A linha do campo, da lateral, o diâmetro da baliza. Por que a linha do impedimento não pode ter 12 cm? Se um cara está em um pedaço da linha e outro está em outro pedaço, é mesma linha. Aí, o gol não vai ser anulado. Eles não querem tantos gols anulados. Que linha é essa? É uma azul e outra vermelha? Então bota uma linha branca”.

Tempo de acréscimo

“Acréscimo nunca vai ter um critério único. Eu sou do tempo em que médico não entrava em campo para atender jogador. “Ah, machucou? Então vai sair de maca”. Eu sabia que o jogador não tinha nada. E só saía de campo quando estava ganhando. Mas quando chegava lá fora, jogava uma aguinha, batia o pé. “Quero entrar”. “Ah, é?”. Eu dava as costas para ele. Vai ficar de castigo aí fora”.

Por que demora tanto?

“Agora, entra o médico e fica cinco minutos dentro de campo. Os jogadores estão usando a prerrogativa que era dos goleiros. Está errado. A água no Brasil é milagrosa. Goleiro só cai machucado quando está ganhando. Depende do resultado do jogo. Mas isso é malandragem e cabe ao árbitro punir”.

Amarelo por reclamação durante checagem do VAR

“Já era para dar há muito tempo. Ninguém respeita ninguém. O cara puxa o braço do árbitro, coloca a mão na barriga do juiz. É uma falta de respeito”.

E os goleiros?

“O goleiro não pode provocar o atacante. Nunca pôde. O Fluminense perdeu uma Libertadores no Maracanã com o goleiro Ceballos fazendo um carnaval. Falta de autoridade”.

Respeito ao árbitro

“Na barreira, eu contava 13 passos. O spray para contar os 9,15m é falta de autoridade. Daqui a pouco vai ter que puxar outro spray, spray de pimenta para afastar jogador. Para exercer autoridade não precisa de spray”.

Desempenho geral dos árbitros

“Tem que ser melhor que no ano passado. Em 2022, Seneme disse que estava chegando, não conhecia as pessoas. Agora, já deu tempo de conhecer. Não sou contra o Seneme. Seneme é um cara sério. Eu sou contra as coisas que se criam porque foram feitas no Mundial de Clubes, no Marrocos. Que torcedor estava lá?”

Onde melhorar

“A melhora é os árbitros não fazerem concessões. Agir com autoridade e sem resenha. Na final do Paulista, a Edina Alves não deu conversa e apitou muito. Mas se o árbitro vem para conversar, os caras enrolam. Você pode conversar com Felipe Melo? Com Gabigol?”