“Aquele que se acha esperto demais um dia acaba caindo nas garras da própria esperteza” – Ninah Alves

Quando a gente acha que já viu de tudo na vida alguma coisa acontece e nos surpreende. Trabalhei por algum tempo em uma empresa de engenharia e automação em minha cidade natal e um dia o telefone tocou logo pela manhã.

A pessoa do outro da linha se identificou como representante de uma certa Cooperativa de Produtores Rurais da distante cidade de Anauá no estado de Roraima. Ele explicou que através de uma indicação foi recomendado a procurar nossos serviços.

Nosso diretor, cauteloso, tentou pegar mais informações sobre o tipo de serviço que o homem procurava, mas o tal representante, que se identificou-se como doutor José Marques disse viria conversar em pessoa. Já que o homem tinha uma consulta médica em uma cidade vizinha, iria nos visitar ainda neste dia.

No final da tarde, assim como combinado, o representante da Cooperativa de Produtores Rurais de Anauá no estado de Roraima estava em nossa recepção. Era um senhor beirando seus 65 anos, olhos claros, andando com a ajuda de uma bengala, barba por fazer, e bem vestido se apresentou.

Durante nossa reunião, que durou cerca de 2 horas, ele contou uma história fascinante. Ele disse fez parte de um grupo de 39 jovens que em 1959 se aventuraram a povoar a cidade de Anauá, motivados pelo apoio do governo militar. Lá eles produziriam arroz para o mercado Venezuelano. Com uma história cheias de detalhes contou das dificuldades, das lutas com os índios e das doenças que enfrentaram.

O grupo de pioneiros chegaram a cultivar 320 mil hectares de arroz em plena terra virgem. Com o tempo toda a produção foi absorvida pela Venezuela, chegando o faturamento anual chegar a mais de 70 milhões de dólares. Só que com últimas loucuras do presidente da Venezuela Hugo Rafael Chávez Frías, que estatizou dezenas de multinacionais e cortou a compra do arroz da cooperativa de Anauá, uma crise se instalou.

Os agricultores contrataram a assessoria de uma empresa chamada Price Waterhouse para encabeçar o projeto de reengenharia da associação. De acordo com Marques, apenas com a automação da industrialização do arroz, cortaria em mais de 80 % a mão de obra e com o uso da biotecnologia seria possível se reposicionar e ocupar terreno em outros países, além de manterem-se competitivos para o mercado brasileiro.

Finalizado essa longa história, o doutor Marques explicou o interesse em contratar uma empresa de engenharia e automação em São Paulo, neste caso a nossa modesta empresa de Engenharia e Manutenção Predial e Industrial, para auxiliar neste processo, desenvolvendo projetos, coordenando e indicando profissionais competentes para a o sucesso e qualidade do empreendimento.

Em todo o momento o homem falou com conhecimento, demonstrando domínio em áreas como engenharia, comércio exterior, biotecnologia e toda a tecnologia de cultivo de arroz. Como toda boa história tem uma reviravolta, uma grande tragédia tinha acontecido com o doutor Marques.

Um mês antes, quando ele estava chegando em nossa região, vindo de São Paulo envolveu-se em um grave acidente com seu automóvel. Seu automóvel foi destruído após se chocar com um pedaço de pedra colocado na pista por bandidos. Foi resgatado horas após o acidente, sem dinheiro (roubaram 22 mil reais) e todos os documentos.

Para atestar a veracidade de seus relatos na hora que ele contava a história tirou uma sacola de pano do bolso com vários dentes e sorriu, quase sem dentes, mostrando a força do acidente automotivo. Ele explicou que ficou vários dias desacordado e quase teve que amputar uma das pernas, motivo de estar com uma bengala. Então foi transferido para Unicamp onde os médicos conseguiram salvar sua perna.

Sem documentos, dinheiro e telefone ficou em um abrigo que existia em Barão Geraldo, enquanto recebia seus tratamentos médicos. Seus amigos e parentes em Anauá, só foram contatados no dia anterior, através de equipamentos de rádio.

A região onde morava sofria com uma das piores chuvas dos últimos 20 anos, e só com o equipamento apropriado de rádio-escuta era possível o contato. Graças a isso o filho do doutor Marques chegaria em dois dias para busca-lo, então iria tirar a segunda via de seus documentos e voltar para a cidade de Anauá.

Em nenhum momento ele pediu dinheiro ou aceitou algum tipo de ajuda, apenas queria focar no assunto de sua visita. Disse que tinha hoje no quadro de funcionários da empresa um engenheiro chefe e se fosse de nosso agrado em cinco dias eles estaria nos visitando para explicar mais do projeto. No final ele agradeceu, aceitou um café e perguntou o caminho da rodoviária.

Eu me ofereci para leva-lo até o lugar na qual ele precisaria chegar para esperar o filho. Ele negou a gentiliza, dizendo que ficaria grato se apenas o levasse até a rodoviária.

No caminho ele contou que nunca tinha passado por tamanha humilhação como nestes últimos dias e que não se importava em ficar mais alguns dias sem comer.

Na frente da rodoviária, peguei uma nota de dez reais e ofereci para ele poder almoçar. Ele negou ao ponto de eu ter que pegar e colocar o dinheiro no seu bolso. Então ele agradeceu e seguiu em direção a rodoviária.

Quando voltei ao escritório, todos estavam rindo da situação, ainda mais depois que disse que tinha dado uma nota de dez reais para o idoso. O diretor da empresa me entregou uma folha de um artigo impresso que ele tinha acabado de encontrar na internet, Só que era de 8 anos atrás.

A reportagem contava a história de um vigarista, chamado José Marques que rodava o Brasil pregando este golpe. Uma das pessoas que caiu no golpe foi um publicitário no Rio de Janeiro que rendeu uma coluna publicada em 30/05/2005 no jornal O Globo.

Eu ao contrário do que os outros acharam, não me irritei e nem fiquei chateado com o ocorrido. Primeiro, porque fiquei conhecendo um pouco mais de geografia e história da agricultura brasileira do norte do país. Também aprendi um pouco sobre biotecnologia e automação industrial aplicada na agricultura. Quase duas horas de conversa aprendendo e ouvindo uma história sensacional.

Aprendi, como pessoa, lições valorosas. Ninguém pode acusar o suporto doutor José Marques de estelionatário, pois em nenhum momento pediu dinheiro ou favores, mentiroso sim, estelionatário, não. Pergunto qual professor ou escola de publicidade, marketing ou inteligência emocional obraria apenas dez reais para tudo isso que tive?

Eu tenho é que agradecer ao suposto doutor José Marques, da associação de agricultores de Anauá em Roraima por esta experiência. Nesta vida, cheio de caminhos e escolhas devemos sempre olhar o lado bom das pessoas, com cautela, na dúvida confirme os dados, procedência antes de qualquer negócio. Viva a vida, conheça pessoas e ouça histórias e aprenda, mesmo se for uma história de pescador.

“A maior esperteza de um homem é sempre agir com a verdade”

Wal Águia Esteves
Wendell Stein, 46, é jornalista, cineasta e escritor profissional – [email protected]

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Fonte: Brazilian Times