Muita gente já viajou ou ouviu falar de Portugal, Alemanha ou Itália, mas são poucos os que já visitaram a Geórgia.

Pois a leitora Rachel di Giuseppe, que se mudou para a Estônia (uma das três repúblicas bálticas), se encantou pela Geórgia e por sua capital, Tbilisi. Tanto é que já visitou o país dez vezes, e olha que 3 mil km separam as duas cidades.

“A minha história com a Geórgia é de longa data”, diz a leitora. Ela estudou na Rússia durante a graduação e teve contato quase que diário com temas relacionados ao país. Para o mestrado, ela estudou a obra de Serguei Iessienin, um autor russo que havia morado em Tbilisi. E aí o interesse pelo país aumentou.

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Eu visitei 18 países nos últimos 5 anos e moro em Tallinn, na Estônia, desde 2017. Dentre os lugares mais legais que visitei estão Nairóbi (Quênia), Riga (Letônia), Estocolmo (Suécia) e Yerevan (Armênia). Porém, definitivamente, a viagem mais marcante da minha vida foi em maio de 2015 para a Geórgia, aquela (não tão pequena) ex-república soviética banhada pelo mar Negro e com uma história de guerras, muitas guerras. Eu gostei tanto da minha primeira vez que decidi voltar mais 9 nos últimos anos. 

A chegada em Tbilisi foi uma grande aventura. Geralmente os voos chegam ao aeroporto internacional durante a madrugada e, mesmo da janela do avião, a vista da cidade é linda, com apenas os postes de rua a iluminando. Neste momento vale combinar previamente o transporte para o hotel, hostel, casa de amigo ou onde for, já que a horda de taxistas certamente vai tentar te surrupiar. Mas vamos parar de falar da chegada que quase daria um livro por si só e falar da cidade. 

A arquitetura de Tbilisi tem três pilares muito distintos que estão misturados quase que de forma caótica. São edifícios antigos (restaurados ou não) em meio aos prédios soviéticos e pincelados por uma arquitetura contemporânea que às vezes parece que não deveria estar lá. Vale a pena visitar a avenida Rustaveli, a praça da Liberdade (Sadguris Moedani), onde fica a estátua dourada de São Jorge, a Ponte da Paz, a fortaleza de Narikala e o parque Vake, além das andanças pelas ruelas da cidade que podem te levar a locais extraordinários, como a rua Chardeni. 

O que mais me chamou a atenção em Tbilisi é o fato da comida ser sempre uma delícia, especialmente para aqueles que não negam um bocado de queijo em todas as refeições. O khachapuri adjaruli (em forma de barco que leva queijo suluguni, manteiga e um ovo inteiro), que embora não seja típico de Tbilisi, ainda sim pode ser encontrado em praticamente todos os restaurantes da cidade e vale a pena ser provado. Outro prato majestoso é o khinkali, que são bolinhos de massa recheados com carne, queijo, cogumelos ou batata e servidos cozidos ou fritos. Refeições que deixam qualquer um pronto para explorar a cidade com muita energia. 

Outro fato interessante é a hospitalidade dos locais, sempre dispostos a ajudar e com um sorrisão no rosto. Não se deixe abater pela pressa das pessoas na capital. Assim como qualquer cidade grande e em desenvolvimento, os habitantes de Tbilisi vivem em função do trabalho e das famílias (que geralmente são imensas). Como o país está em desenvolvimento, vale ser cuidadoso nas ruas e no transporte público, mas vale também aproveitar uma moeda que ainda está no processo de valorização e, claro, uma cultura milenar que está em cada canto, cada detalhe.

A Geórgia é também o berço do vinho e fazer uma visita a uma vinícola é quase obrigatório. A produção é única -em vasos gigantes de cerâmica chamados de qvevri- e as variedades são para todos os gostos. Para os amantes da bebida, os vinhos “âmbar”, das variedades Kisi e Rkatsitel, são imperdíveis!

A capital está se tornando, na boca dos mais jovens, a “nova Berlim”. Com velhas fábricas transformadas em hotéis, espaços de coworking e bares (sim, tudo isso junto) e uma cena noturna em ascensão, trazida por clubes como o Bassiani, atualmente a cidade está fervilhante e se tornando internacionalmente famosa, seja pela música eletrônica ou pela moda e estilo de vida. Vale lembrar que o diretor de criação da marca Balenciaga, Demna Gvasalia, trouxe a Geórgia para o mundo das passarelas em suas últimas coleções da Vetements. 

Saindo de Tbilisi, vale visitar Batumi nos meses de verão e molhar os pezinhos na beira do mar Negro, fazer uma visita expressa a Gori, onde o museu de Stálin está localizado, e tirar umas férias luxuosas em Kazbegi, onde o Hotel Rooms oferece serviços extravagantes com uma vista incrível para as montanhas. 

Enfim, a Geórgia é um daqueles lugares onde eu deixei um pedacinho de mim e, sempre quando posso, volto para lá só para me sentir completa novamente. 

Espero que este relato possa também te inspirar a visitar este berço de extremos, cheios de aromas, cores e vivências. 

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Aviso aos passageiros 1: Caso você tenha se interessado pela Geórgia e já começou a refletir em ir para lá, que tal dar uma passada em Moscou, que fica a cerca de 2.200 km?

Fonte: Folha de S.Paulo