Extraditada para ser julgada nos Estados Unidos após decisão histórica da Justiça brasileira, a carioca Claudia Cristina Sobral Hoerig, de 53 anos, foi acusada formalmente de homicídio qualificado e vai comparecer a um Tribunal de Ohio nesta sexta-feira, dia 19.
A audiência está marcada para acontecer na parte da manhã no Condado de Trumbull, e consiste na primeira etapa antes de seu julgamento. Durante a sessão, vai ouvir a leitura formal das acusações.
Claudia é acusada de ter assassinado o então marido, Karl Hoerig, ex-piloto da Força Aérea Americana, no dia 12 de março de 2007.
Ela chegou aos Estados Unidos na noite desta quarta-feira, por volta das 23h, em um voo fretado pelos Estados Unidos e repleto de agentes da Interpol, a polícia internacional.
No Facebook, o congressista John Boccieri, que serviu com Hoerig na Força Aérea dos Estados Unidos em Youngstown, disse que a “Justiça foi feita”.
“A Justiça foi feita (…). O último capítulo foi escrito. Obrigado ao promotor do Condado de Trumbull Dennis Watkins, o congressista Tim Ryan, o congressista Bill Johnson e nossa delegação estadual no Legislativo que manteve essa história viva. Na verdade foi o irmão de Karl, Paul, que visitou o Brasil durante nossa entrevista ao o 48 Hours (programa da emissora de TV americana CBS), deu rosto a esse caso e gerou um movimento no Brasil”, disse.
Hoerig e Claudia ficaram casados por dois anos antes do assassinato. Eles se conheceram em um site de namoro.
Ele era divorciado e tinha dois filhos do primeiro casamento. Sua filha, Eva, que descobriu estar grávida meses antes da morte de seu pai, disse que Hoerig estava “empolgado para ser avô”.
Casamento e morteKarl Hoerig e Claudia Cristina Sobral Hoerig.Karl Hoerig e Claudia se conheceram pela internet. Ele era um veterano das guerras do Afeganistão e do Iraque e, depois de voltar aos Estados Unidos, trabalhava como piloto comercial.
Em 2005, eles se casaram, ela adotou o sobrenome dele e o casal foi morar em Newton Falls, um vilarejo de cerca de 5 mil habitantes em Ohio, onde Hoerig nasceu. O casamento, no entanto, não durou nem dois anos.
O corpo de Hoerig foi encontrado em 15 de março de 2007, na casa dos dois, com perfurações de balas nas costas e na cabeça. Apenas três dias antes, no suposto dia da morte do piloto, um vizinho do casal teria visto Claudia sair de casa com pressa.
Naquele dia, ela voou para o Brasil, deixando para trás boa parte dos pertences pessoais. As investigações da polícia de Ohio concluíram que Hoerig havia sido alvejado por disparos de um revólver Smith & Wesson, calibre 357 – semelhante a um modelo que Claudia havia comprado apenas cinco dias antes da descoberta do homicídio.
Testemunhas disseram tê-la visto praticando tiro com a arma em um alvo próximo à casa. Para a polícia americana, ela se converteu na suspeita número um. Um pedido de prisão foi expedido.
A Interpol a incluiu na lista de procurados e o Estado americano entrou com um processo no Brasil para que ela fosse devolvida a território americano para ser julgada.
Naturalização
A volta de Claudia é também um marco para a história das relações internacionais brasileiras e abre a possibilidade de que mais brasileiros que tenham obtido cidadania de outras nações possam enfrentar processos semelhantes ao dela.
Naturalizada americana, Cláudia Cristina Sobral, nasceu no Rio de Janeiro, mas se mudou para os Estados Unidos ainda nos anos 1990. Casou-se com o médico nova-iorquino Thomas Bolte e, graças à união, conseguiu o Green Card – a licença permanente para viver e trabalhar no país.
Nos Estados Unidos, se tornou contadora. Em 1999, já divorciada de Bolte, resolveu concluir o processo de naturalização como cidadã americana. A mudança facilitaria a atuação profissional de Claudia, que teria aumentado seus rendimentos em cinco vezes depois da alteração de nacionalidade, de acordo com o que disseram os advogados dela no processo brasileiro.
Mas Claudia acabou destituída da nacionalidade brasileira. Em julho de 2013, o Ministério da Justiça oficializou a anulação.
No Supremo, os ministros da Primeira Turma levaram em conta que, quando Claudia optou pela nacionalidade americana em 1999, sua nacionalidade brasileira estava definitivamente anulada.
Isso porque a Constituição brasileira prevê, em seu 12º artigo, a perda da nacionalidade brasileira quando outra é adquirida, com algumas exceções – nenhuma delas, para a corte, aplicável ao caso de Claudia.
O Estado de Ohio possui previsão de pena capital e prisão perpétua, mas nenhuma das duas penas poderá ser aplicada à Cláudia caso ela seja condenada em um julgamento, cuja data ainda não está definida.
Em sua decisão, o Supremo concordou com a extradição de Claudia desde que lhe fosse aplicada, na pior das hipóteses, a pena máxima de 30 anos de prisão.
Consultado, o Ministério da Justiça afirmou em nota à BBC Brasil que “a efetivação da extradição só ocorreu após os EUA terem formalmente apresentado ao Brasil o compromisso de a extraditada não ser condenada à pena de morte ou de prisão perpétua “.
Fonte: Redação – Brazilian Times

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