No começo desta semana, a Espanha revogou o estado de emergência e inaugurou uma fase batizada como “nova normalidade”, após quase 100 dias de restrição de circulação de pessoas no país, entre muitas outras medidas rígidas para controlar o coronavírus. Ao mesmo tempo, as fronteiras entre os países da União Europeia foram majoritariamente abertas e o turismo está começando a ser reativado.

Tenho recebido mensagens de amigos e leitores do Brasil preocupados com essa nova situação, ao passo que vídeos de supostas aglomerações de pessoas, em Barcelona, Paris e outras cidades, estão rodando pela internet e a imprensa. E venho achando que, quem nos observa de fora das fronteiras da União Europeia, pode ter a sensação que estamos em clima de “liberou geral”. A realidade, no entanto, está bem longe de ser assim.

Que as fronteiras estejam abertas e que o turismo teoricamente esteja sendo reativado, não quer dizer que as pessoas começaram subitamente a viajar de novo. Para que vocês tenham uma ideia, aqui na Espanha, os aeroportos ainda estão operando com em torno de 10% da capacidade! No dia 22 de junho, por exemplo, apenas 700 voos aconteceram no país.

Após três meses e meio de total isolamento social, esta semana recebi os primeiros amigos e familiares em Menorca, vindos de Barcelona e do País Basco. Todos encontraram aeroportos praticamente desertos, com todo o comércio fechado e pouquíssimas pessoas circulando. No voo, máscaras obrigatórias, controles de temperatura e procedimentos especiais de embarque e desembarque para evitar aglomerações. Aqui na ilha, há menos de cinco hotéis abertos e a previsão é de que mais da metade nem abra este verão. Em Barcelona, tampouco há sinal de que os estrangeiros chegaram em massa. Está mais do que claro que a reativação será gradual e com muita precaução.

Mesmo com o turismo apenas ensaiando uma volta, já estamos tendo notícias de pequenos focos de contágio aqui e ali no país – muitos deles de casos “importados” das Américas. Esses “rebrotes”, como se diz por aqui, estão sendo acompanhados de perto pelas autoridades sanitárias e noticiados exaustivamente. Em seus pronunciamentos, o ministro da saúde deixa claríssimo que restrições (além das que ainda temos por aqui) podem voltar, caso seja necessário, e apela para a responsabilidade individual, as duas palavras mais importantes do dicionário em tempos de pandemia.

É certo que uma parcela pequena da população (especialmente os mais jovens) ligou o F… e está por aí sem máscara, fazendo festinha como se não houvesse amanhã. Mas, o que vejo ao meu redor, em geral, é uma postura de carpe diem (porque sim, depois do lockdown a gente merece!) com fartas doses de precaução e consciência. Tenho conversado com muita gente que acabou se metendo em roubada (tipo: um vagão de metrô muito lotado ou uma festa na qual havia muito mais gente do que deveria) meio sem querer, mas que não pretende repetir a dose. Amigos que têm frequentado a praia em Barcelona me contam que, sim, existe uma preocupação em manter a distância social. Mas, em certos momentos, isso acaba não sendo possível e a areia precisa ser fechada. Essas e outras situações estão longe de ser ideais, mas é o que temos para hoje.

Fonte: Viagem e Turismo