O pré-candidato democrata Bernie Sanders desistiu de concorrer à presidência dos EUA. O anúncio oficial ocorrerá em breve numa conferência on-line para seus apoiadores. Porém a decisão de suspender a campanha já foi definida numa reunião interna de sua equipe e divulgada em e-mail.

Sanders já estava numa situação considerada praticamente irreversível na disputa das prévias do Partido Democrata contra Joe Biden, mas insistia em manter a campanha. Com a chega da pandemia de coronavírus aos EUA, a disputa presidencial ficou em segundo plano e primárias e diferentes estados foram adiadas. Neste momento as duas campanhas democratas negociam apoio e possível fusão. Mais informações em breve.

Campanha de Biden durante a pandemia

O efeito coronavírus adiou um dos primeiros e mais importantes rituais da campanha dos Estados Unidos: a convenção nacional partidária que decide quem será o candidato oficial do partido à Presidência. Quanto aos republicanos, tudo indica que Trump vai concorrer à reeleição em novembro. Entretanto, quanto ao partido Democrata, as expectativas em relação às prévias são maiores. As campanhas dos dois principais pré-candidatos pelo partido democrata, Joe Biden e Bernie Sanders, se transformaram completamente por causa dos efeitos da Covid-19. A estratégia de Sanders tem sido defender assiduamente a sua proposta de saúde universal – tendo em vista que nos EUA o sistema de saúde é privado, e um dos efeitos do coronavírus, além de congelar as convenções, tem sido colocar a questão da saúde em evidência.

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Apesar disso, a principal bandeira de Sanders não conseguiu ofuscar o favoritismo de Joe Biden. O ex-vice-presidente de Obama tem mais de 300 delegados de vantagem em relação a Sanders, e as pesquisas indicam que, nos Estados que ainda não votaram, a vitória de Biden se repetirá. Trump, por sua vez, atingiu o nível mais alto de popularidade desde que chegou à Casa Branca, de acordo com a mais recente pesquisa do Gallup (tradicional empresa de pesquisa de opinião dos EUA) no mês de março. Entretanto, Biden tem feito seu papel como oposição e como provável adversário, e insiste em criticar duramente as ações de Trump em relação ao coronavírus. Os pontos fortes de Biden consistem em seu perfil moderado e na possibilidade de ganhar apoio do setor econômico, que na última eleição votou em Trump. Por ser uma figura do establishment do partido, possui o apoio da elite partidária, bem como carrega também uma vantagem histórica: seis dos nove vice-presidentes que concorreram às prévias desde a Segunda Guerra venceram as primárias dos seus respectivos partidos.

Porém, para Trump, talvez a vitória de Biden não seja o cenário mais vantajoso. Enquanto com Sanders Trump pode apostar em um discurso polarizado – já que neste cenário o adversário se trata da ala mais de extrema esquerda do partido Democrata –, com Biden isso não será possível por conta do seu perfil moderado e experiente. Isso não quer dizer que a candidatura do ex-vice-presidente também não apresente dificuldades. Uma das principais críticas à sua candidatura é a necessidade de se buscar um candidato mais jovem, a fim de repetir o efeito Obama, que ocorreu nas primeiras décadas dos anos 2000, e garantir uma vantagem sobre Trump, que tem 73 anos. A média de idade para a eleição de um presidente americano é 55 anos, e Biden tem 76 (um ano a menos que Sanders, com 77). Um dos desafios da campanha de Biden será lidar com o rígido código moral das pautas identitárias, um foco evidente para muitos eleitores democratas nas últimas décadas. Já vieram a público especulações sobre supostos assédios e declarações machistas de Biden no passado, dos quais ele já pediu desculpas. Quanto à pauta racial – apesar de essa ser uma das suas principais militâncias, por apresentar um longo histórico de defesa dos direitos civis e do combate ao racismo nos EUA como senador –, isso pode não ser o bastante para o eleitor militante, tendo em vista que Biden não é negro. Seu desafio será construir um discurso de campanha que consiga agradar a grupos com identidades tão fragmentadas sem que esses discursos identitários segmentem uma visão mais geral de país ou, ainda, descaracterizem a própria imagem do candidato, que indiscutivelmente se trata de um homem, branco e apoiado pelo establishment do partido. Esse não é apenas o desafio de Biden em 2020, mas tem sido o desafio dos próprios democratas desde a eleição de Donald Trump em 2016. Portanto, será possível que Biden formule um discurso abrangente que conquiste uma população mais ampla, ao mesmo tempo em que tenta corresponder às expectativas dos seus eleitores que aspiram por discursos tão específicos? Para descobrirmos, só aguardando os próximos capítulos.

Fonte: Brazilian Press