Foto23 Prisao ICE Uma vez protegidos, imigrantes cubanos são deportados dos EUA
Durante o ano fiscal de 2018 463 cidadãos cubanos foram deportados à ilha, ou seja, 7 vezes mais com relação a 2016

Mudanças de política, fizeram que os cidadãos cubanos sejam tratados como estrangeiros de qualquer outra parte do mundo

Após décadas provendo refúgio aos imigrantes que fugiram de Cuba, a mudança de política nos EUA nos últimos anos resultou que cada vez menos deles são permitidos a entrar nos EUA e mais estão sendo deportados. Jesus Ávila está entre as centenas, senão milhares, de cubanos afetados pela mudança de política. Ele tem vivido nos EUA desde que os pais dele fugiram de Cuba quando ele tinha 8 anos de idade. Ele tornou-se residente legal permanente, mas nunca aplicou para a cidadania.

“Eu acho que crescendo numa comunidade que era toda imigrante, não senti a necessidade de tornar-me cidadão”, disse Ávila, de 42 anos, que trabalha na construção civil. “Eu pensava: ‘Para que? Eu sou um residente. Qual é a diferença?’ Eu não via a diferença”.

Ávila tomou conhecimento da diferença quando retornou à Miami (FL) da lua de mel dele na República Dominicana, em 2018. As autoridades federais o tiraram da fila no Aeroporto Internacional de Miami e o interrogaram sobre a condenação por posse de cocaína em 2012, pela qual ele realizou serviço comunitário.

“Eu não deveria estar aqui”, disse Ávila por telefone no centro de detenção da imigração em Key West (FL). “Nós fomos para a lua de mel e tudo foi bonito e ótimo e isso foi um grande tapa na cara do país. Eu tenho vivido aqui quase a minha vida inteira”.

Ávila enfrenta a possibilidade de ser deportado para um país que quase não se lembra. “Eu não tenho família em Cuba. Eu não conheço ninguém em Cuba”, comentou.

“As pessoas estão definitivamente chocadas. Eu fiquei chocada a princípio, pois era algo que nunca esperei que fosse mudar”, comentou Tatiane Silva, advogada que defende casos de imigrantes cubanos em Miami (FL). “A prioridade agora são todos”.

Em 2014, o então Presidente Barack Obama anunciou que restauraria as relações com Cuba. Posteriormente, sem alerta prévio, ele extinguiu a política “pé-molhado, pé-seco”, a qual permitia que os cubanos permanecessem nos EUA se chegassem ao país de barco, contanto que pusessem um pé em terra firme. As pessoas em barcos que eram interceptadas no mar eram enviadas de volta a ilha. A administração Obama cancelou a política em parte porque o governo cubano concordou em facilitar a repatriação de cidadãos cubanos. Previamente, o governo cubano não aceitava a maioria dos seus cidadãos que enfrentavam deportação nos EUA.

Trump assumiu a presidência e ampliou dramaticamente as deportações. Enquanto Obama priorizava a deportação de imigrantes indocumentados que cometeram crimes violentos, a administração atual informou que deportaria qualquer indocumentado, incluindo os cubanos.

“Antes, os cubanos, mesmo que tivessem ordem final de deportação, eles não eram retirados fisicamente do país”, disse Silva. “Agora, isso mudou. Você escuta coisas que nunca havia escutado antes, que a deportação real de cubanos para Cuba”.

Durante o ano fiscal de 2016, 64 cubanos foram deportados à ilha, segundo o Departamento de Imigração (ICE). Dois anos depois, em 2018, esse número pulou para 463, ou seja, mais de 7 vezes.

“Há atualmente mais cubanos em centros de detenção do que qualquer outro período em que me recordo”, disse Santiago Alpizar, advogado de imigração em Miami. “Os cubanos são tratados como qualquer outro imigrante de qualquer parte do mundo”.

Alpizar detalhou que o “Cuban Adjustment Act” é a única proteção restante para os imigrantes cubanos. Assinada em 1966, ela permite que os cidadãos cubanos apliquem para o green card depois de viverem nos EUA durante 1 ano e 1 dia. Entretanto, o cidadão cubano tem que ter entrado legalmente nos EUA para aplicar e isso tem se tornado cada vez mais difícil. Não somente a política “pé-molhado, pé-seco” foi extinta, mas a administração Trump anunciou em abril que os vistos para os cubanos serão limitados a 1 e 3 meses, em contraste com 5 anos anteriores.

Fonte: Brazilian Voice