SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sem espaço para discurso no Cannes Lions 2022, o Festival Internacional de Criatividade, a ativista indígena Txai Suruí, do povo Paiter Suruí, fez uma manifestação no palco do evento em prol da Amazônia, nesta segunda-feira (20).

A convite da agência África, ela foi a Cannes receber o Leão de Ouro na categoria Outdoor pela peça “O Jatobá Refugiado”. Na entrega do prêmio, Suruí abriu um cartaz com a frase “save the Amazon”.

A ideia foi aproveitar a visibilidade do festival e chamar a atenção para o que acontece hoje com a Amazônia, além de sensibilizar para a violência enfrentada pelos ativistas, a exemplo do ocorrido com o jornalista britânico Dom Phillips, 57, e o indigenista Bruno Pereira, 41.

“Isso não é um caso isolado, mas a realidade do que os ativistas vivem na Amazônia, sob constantes ataques e ameaças pela defesa dos seus direitos e da Amazônia. As pessoas precisam entender que perder a Amazônia significa não ter mais planeta, que afetará a todos”, afirma a indígena.

Pelo fato de o Cannes Lions ser o principal festival de publicidade do mundo, o objetivo da manifestação também foi sensibilizar o mercado publicitário presente no evento.

“Estamos falando das pessoas quem ditam o que moda, o que será comprado. Estamos falando de publicidade, das pessoas que sabem vender as coisas. É muito importante que as empresas que participam do festival também se conscientizem disso [do que acontece com a Amazônia], que se sintam envergonhadas, porque muitas têm consciência do que está acontecendo. Então, que a gente consiga deixá-los desconfortáveis a ponto de fazer alguma coisa também”, diz Suruí.

A ativista disse à reportagem que, ao subir no palco com o cartaz, notou que o apresentador e quem entregou o prêmio não entenderam a manifestação. “O meu objetivo foi o de explicar e usar o cartaz para levar uma mensagem para lá.”

A campanha, produzida pela agência África para a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), também conquistou uma Prata e um Bronze na mesma categoria —em 2021, a agência havia conquistado um Grand Prix com um trabalho sobre o aquecimento global.

O curta-metragem alerta para o desmatamento na Amazônia, expõe o drama da ameaça ambiental e faz um apelo sobre o Jatobá, uma das espécies ameaçadas de extinção na região. No filme, a árvore busca refúgio em embaixadas de países estrangeiros por correr perigo de desaparecer.

“Proibimos o desmatamento ou em 15 anos a Amazônia deixará de ser uma floresta tropical”, é uma das mensagens do curta.

A floresta amazônica perdeu 3.360 km² nos cinco primeiros meses de 2022, maior valor registrado para o período em 15 anos de monitoramento.

A área corresponde a cerca de 2.000 campos de futebol de mata nativa desmatados por dia. Os dados são do SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento) do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).

Em maio de 2022, foi registrado o desmatamento de 1.476 km², correspondendo a 44% do total de área perdida nos cinco primeiros meses do ano. Esse valor é o pior para esse mês nos últimos 15 anos.

Fonte: MSN