Foto8 Joesley e Wesley Batista Trump subsidia brasileiros acusados de corrupção com verba de US$ 62 milhões
Os irmãos Wesley (esq.) e Joesley Batista são donos da JBS e confessaram ter subornado centenas de autoridades no Brasil

O montante investido na processadora de carnes JBS deveria ser destinado a fazendeiros que enfrentam dificuldades financeiras nos EUA

A administração Trump direcionou mais de US$ 62 milhões, dinheiro público que deveria ser destinado aos fazendeiros que enfrentam dificuldades financeiras, à companhia gigante de processamento de carne, propriedade de dois irmãos brasileiros acusados de corrupção. Em janeiro, o Departamento de Agricultura (USDA) assinou um contrato de compra de US$ 22.3 milhões em carne de porco das instalações operadas pela JBS USA, uma companhia sediada no Colorado e subsidiária da JBS AS no Brasil (das marcas Friboi e Seara), a maior processadora e empacotadora de carnes no mundo.

Na ocasião, o subsídio chamou a atenção de especialistas no mercado, pois a verba veio de um programa de US$ 12 bilhões cuja missão é ajudar os fazendeiros prejudicados nos EUA pela crescente disputa tarifária entre o Presidente Trump e outros países, principalmente a China. Entretanto, relatórios de compras obtidos pelo jornal Daily News, no início dessa semana, revelaram que a administração atual concedeu pelo menos mais 2 subsídios a JBS, mesmo que o próprio Departamento de Justiça de Trump tivesse começado a investigar a empacotadora de carnes, cujos donos são os irmãos Joesley e Wesley Batista, bilionários que confessaram ter subornado centenas de autoridades no Brasil. Eles cumpriram pena como resultado do escândalo de corrupção e não podem sair do Brasil enquanto os casos complexos envolvendo os irmãos tramitam no tribunal. No final de 2017, eles foram indiciados pela Polícia Federal (PF) pelos crimes de manipulação de mercado e uso indevido de informação privilegiada, com o agravante de abuso de poder de controle e administração.

Enquanto isso, o Departamento de Justiça (DOJ) investiga a JBS por possíveis violações do Ato Federal de Práticas Estrangeiras Corruptas (FCPA). A agência de notícias Reuters divulgou em dezembro que investigadores do DOJ interrogaram os irmãos no Brasil no final de 2018 como parte dessa investigação. Apesar disso, o Departamento de Agricultura de Trump concedeu US$ 14.5 milhões em subsídios por produtos derivados de porco da JBS, em fevereiro, e US$ 25.6 milhões no início de maio, totalizando mais de US$ 62.4 milhões, segundo relatórios de compras. Os valores altos dos subsídios provocaram ultraje em especialistas no mercado, que questionaram como subsidiar uma companhia brasileira e rica com verba destinada a ajudar os fazendeiros no coração dos EUA.

“Por que o USDA está subsidiando frigoríficos operados pela JBS, a maior empacotadora de carne no mundo, com um programa cujo objetivo é ajudar empresas e produtores domésticos que enfrentam dificuldades financeiras?” Questionou Tony Corbo, lobista da Food & Water Watch, frisando que a JBS relatou o lucro de US$ 273 milhões no 1º quadrimestre de 2019. Além disso, a JBS parece ter se beneficiado das tensões comerciais entre Beijing e Washington-DC, ou seja, fazendo com que os subsídios pareçam ser menos graves.

As exportações da JBS para a China aumentou mais de 24% em 2018, em contraste com menos de 21% em 2017, conforme arquivos públicos, gerando questões sobre a necessidade de subsídios concedidos por Trump.

“Essa companhia não parece estar passando por dificuldades”, disse Corbo.

A JBS recusou-se a comentar o assunto além do comunicado emitido em janeiro informando que, apesar de ser propriedade de uma companhia estrangeira, ela “é parceira orgulhosa de fazendeiros e rancheiros nos EUA, ajudando a criar oportunidades econômicas a centenas de cidades pequenas e rurais”.

Democratas demonstraram ultraje pelo fato de que a administração atual esteja subsidiando uma companhia que pertence à uma multinacional controladas por corruptos confessos. “É claro que o Presidente não possui o menor conhecimento sobre política comercial e nem percebe o caos que a abordagem fracassada dele tem causado”, disse Rosa DeLauro (D-CT).

Fonte: Brazilian Voice