Yusuf Abdi Ali era um dos comandantes do exército nacional e partidário do ditador Mohamed Siad Barre; corte decidiu que ele deverá pagar US$ 500 mil de indenização a vitima.

Um ex-motorista do Uber que vivia na Virgínia, nos EUA, cometeu atos de tortura durante a guerra civil da Somália no final dos anos 1980, concluiu na terça-feira (21) um júri americano. O ex-coronel Yusuf Abdi Ali era um dos comandantes do Exército nacional e partidário do ditador Mohamed Siad Barre, conforme consta no processo. Até este mês, ele dirigia para o Uber, com uma nota de avaliação alta: 4,89. Na semana passada, o cidadão somali Farhan Tani Warfaa contou que foi baleado e torturado por Ali há mais de três décadas em depoimento ao tribunal federal na cidade de Alexandria, na Virgínia.

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O júri considerou então que Ali foi responsável pela tortura de Warfaa, concedendo à vítima uma indenização de US$ 500 mil (cerca de R$ 2 milhões). Warfaa, que abriu o primeiro processo contra Ali em 2004, disse à BBC que ficou “muito feliz” com o veredito. “Estou muito, muito satisfeito com o resultado”, afirmou por meio de um tradutor do tribunal.

Sequestro

Ele contou que foi sequestrado em sua casa no norte da Somália por um grupo de soldados de Ali em 1987. Nos meses seguintes, Warfaa disse que foi interrogado, torturado, espancado e baleado sob as ordens de Ali, que era comandante de batalhão. Abandonado para morrer, ele diz que só conseguiu sobreviver subornando os coveiros para poupá-lo.

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Documentário

Ali foi identificado pela primeira vez em um documentário de 1992 da Canadian Broadcasting Corporation, que detalhava as denúncias de que Ali havia torturado, matado e mutilado centenas de pessoas enquanto trabalhava para o regime de Barre. Na época da transmissão, Ali estava morando em Toronto, onde trabalhava como guarda de segurança. No documentário, várias testemunhas no norte da Somália descreveram assassinatos brutais ordenados por Ali, conhecido como “tukeh”, que quer dizer “o corvo”. Pouco após ser exposto, Ali foi deportado do Canadá por “graves violações dos direitos humanos”, segundo consta no processo.

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Os EUA também o deportaram, mas ele retornou ao país em 1996. Não está claro como ele conseguiu entrar novamente em território americano. Ele esteve vivendo na Virgínia todo esse tempo. O processo contra ele foi acatado pela Justiça pela primeira vez em 2004, mas, segundo o jornal “New York Times”, foi suspenso por 15 anos por causa de uma batalha legal para decidir se um cidadão somali poderia dar entrada em uma ação judicial nos EUA por tortura em outro país.

Checagem de antecedentes

Em maio, repórteres da CNN deram uma volta de Uber com Ali disfarçados de passageiros. Ele contou aos jornalistas que dirigia para o Uber e o app Lyft em tempo integral, preferindo turnos de fim de semana porque “era ali que estava o dinheiro”. Perguntado se o processo de inscrição para ser motorista era difícil, Ali respondeu que era simples: “Eles só querem verificar seus antecedentes, é isso.” Ele dirigiu para o Uber por cerca de 18 meses, depois de passar por uma checagem de antecedentes realizada por uma empresa especializada. Ele agora foi “permanentemente removido” do aplicativo, segundo informou um porta-voz do Uber à BBC. A porta-voz da Lyft, Campbell Matthews, afirmou que a empresa estava “horrorizada” com as acusações contra Ali. “Nós banimos permanentemente este motorista da nossa comunidade e estamos prontos para ajudar a aplicação da lei em qualquer investigação”, afirmou Matthews.

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As verificações de antecedentes do Uber e do Lyft são conduzidas pela agência Checkr. O processo de verificação da Checkr varia de acordo com o cliente, mas inclui “fontes padrão da indústria”, como o banco de dados nacional Sex Offender (de condenados por crimes sexuais), a lista de procurados do FBI e da Interpol, várias listas de sanções internacionais, além de históricos de tribunais locais e federais. “Segundo a lei federal, as agências de informação ao consumidor que processam verificações de antecedentes dependem de registros criminais que foram arquivados em um tribunal, em vez de fontes não confirmadas, como os resultados de buscas no Google”, afirmou um porta-voz da Checkr. “A maioria dos empregadores não solicita verificações de antecedentes que incluam ações civis entre entidades privadas porque as informações são subjetivas demais para serem usadas para uma decisão de contratação”. Antes de trabalhar para o Uber e a Lyft, Ali trabalhou como guarda de segurança no Aeroporto Internacional de Dulles, perto de Washington DC.

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O veredito

A decisão de terça-feira, a favor de Wafaa, exigiu “um esforço heroico”, informou sua advogada, Kathy Roberts. Roberts faz parte do Centro de Justiça e Responsabilidade (CJA, na sigla em inglês), organização sem fins lucrativos com sede em San Francisco que busca levar à justiça suspeitos de crimes de guerra. Grande parte do processo de Warfaa, frustrado por atrasos de mais de uma década, dependia da possibilidade de Ali ser considerado culpado por um tribunal americano de um crime cometido na Somália. A Lei de Proteção às Vítimas de Tortura (TVPA, na sigla em inglês) proíbe a tortura, seja em solo americano ou no exterior, e permite que cidadãos e não cidadãos americanos apresentem denúncias de tortura e assassinatos extrajudiciais cometidos em países estrangeiros. A TVPA só permite que as ações judiciais resultem em indenização monetária, em vez de prisão.

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O caso de Warfaa incluiu os depoimentos de um ex-embaixador dos EUA, de soldados que serviram sob o comando de Ali e de outra vítima do ex-coronel, que argumentou que Ali havia ordenado atos de tortura e uma tentativa de assassinato extrajudicial. A decisão do júri dos EUA foi dividida, considerando Ali culpado apenas de tortura. Ainda assim, Warfaa está “absolutamente entusiasmado”, disse Klein. “Ele estava esperando 31 anos por este dia.” Já o advogado de Ali, Joseph Peter Drennan, afirmou à CNN que ele e seu cliente ficaram desapontados. “Yusuf Abdi Ali foi considerado culpado porque ele era comandante de um exército que serviu sob um regime que tinha um histórico frágil de direitos humanos. Mas, além do depoimento do autor do processo, não havia praticamente nenhuma evidência de que Ali torturou alguém”, declarou Drennan. Drennan disse ainda que Ali não pode se dar ao luxo de pagar pela indenização, lembrando que ele perdeu recentemente o emprego como motorista.

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Fonte: Brazilian Press