Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Foto: Javier Matheu\WMFE.

Quase cinco meses do combate à pandemia da COVID-19, os maiores sistemas hospitalares da Flórida lutam para evitar colapso após novo aumento de casos e internações pela Covid-19. Pelo menos 54 hospitais atingiram a capacidade de internação em UTI, segundo a Agência Estadual de Administração de Cuidados de Saúde, e condados lutam para diminuir o tempo que os pacientes passam no hospital.

De acordo com um painel on-line da agência que mostra as hospitalizações atuais pela COVID-19 em todo o estado, a capacidade de leitos de UTI adulto até esta quinta-feira, 22, é de 9,52% em Broward, 12,90% em Miami-Dade, 24,82% em Palm Beach, e 18,82% em Orange.

O departamento de saúde do estado tem registrado uma média de 100 mortes diárias, refletindo o aumento da taxa de infecção que o estado começou a ver no mês passado em torno de 10 mil casos diários.
Ao todo, até esta quinta-feira, 23, pelo menos 5.518 pessoas morreram em decorrência da doença desde que os primeiros casos do estado foram registrados em 1º de março e 389,868 se infectaram.

“Nunca estivemos tão ocupados”

“Estamos trabalhando em Estado de Emergência”, contou ao Gazeta News o enfermeiro Leonard M. Vuicsin, 53 anos, que há 9 anos trabalha como enfermeiro no Jackson Memorial Hospital.

“Nunca estivemos tão ocupados! O estado da Flórida enviou 125 enfermeiros pro Jackson Health System durante este período e vários andares do hospital foram adaptados para atender apenas pacientes com Covid-19”, relata.

Vuicsin explica a situação de dentro do hospital e a rotina nesse período de pandemia.

“Assim que há a confirmação que o paciente está infectado, uma avaliação é feita para saber qual é a gravidade do caso, e aí ele é transferido para a área de tratamento. Hoje temos 441 pacientes no Jackson Health Systems. No Jackson Main temos mais ou menos 65 patientes na UTI (fora os pacientes que estão esperando na emergência”, destaca.

Segundo o enfermeiro, pacientes não podem receber visitas e durante a internação a comunicação com a família é feita pela internet. “Usamos o Zoom ou Duo para os familiares possam ver os pacientes na UTI”, salienta.

Sobre o aumento de casos e internações nas últimas semanas, para Vuicsin, está relacionado à não efetividade das medidas preventivas. “Não sabemos exatamente o porquê, mas os números só subiram (quase 3 vezes) de abril pra cá e isso prova que as medidas preventivas não estão funcionando”, finaliza.

Capacidade dos hospitais 

O estado começou a divulgar o censo de pacientes internados pela doença no dia 10 de julho. O número de hospitalizados no final da manhã de terça-feira, 21, era de 9.436, abaixo dos 9.452 pacientes 24 horas antes.

O Baptist Health e o Jackson Health, em Miami-Dade, e o Memorial Healthcare System, em Broward, carregam altas cargas de pacientes há semanas, e todos relataram estar operando perto da capacidade, apesar de terem recebido recentemente novos carregamentos de remdesivir, um dos poucos tratamentos comprovados para reduzir as internações hospitalares, e também aumentado o quadro de profissionais de

Leonard M. Vuicsin, 53 anos, é enfermeiro no Jackson Memorial Hospital. Foto: Arquivo pessoal.

saúde.

Os sistemas hospitalares sem fins lucrativos da região sul do estado viram o início de um surto, com a Baptist Health tratando 831 pacientes com COVID na terça-feira, 21. O número representa mais de um terço dos cerca de 2.300 hospitalizados com a doença em Miami-Dade e quase o dobro do número de pacientes com COVID sendo tratados no hospital público do condado, o Jackson Health System, que tinha 453 pacientes até a manhã de terça-feira.

Bo Boulenger, diretor de operações da Baptist Health, disse ao Miami Herald que seus hospitais receberam novos envios no início da semana e que o medicamento pode reduzir a permanência dos pacientes em cerca de quatro dias. Ainda assim, o volume de pacientes nos hospitais da rede vem aumentando desde meados de junho e continua aumentando nas últimas duas semanas, disse Boulenger.

Na região central do estado, a HCA Healthcare passou a adiar os procedimentos eletivos em seus hospitais para garantir que a capacidade permaneça em um nível saudável. Localmente, a mudança afeta o Hospital Regional da Flórida Central, o Centro Médico Regional de Osceola, o Centro Médico Oviedo e o Centro Médico Poinciana.

Para evitar um colapso, o Centro de Convenções de Orange County pode ser transformado em local de um possível centro de atendimento a coronavírus, caso seja necessário.

“A capacidade do sistema de saúde é forte”, disse Mary Mayhew, secretária da Agência de Administração de Serviços de Saúde da Flórida. “Eu sei que as pessoas estão assustadas em todo o estado, mas devem ter confiança nos cuidados de saúde”.

Pensando o contrário está Chris Plance, funcionária da PA Consulting, que disse que os hospitais da Flórida terão alta demanda de pacientes num futuro próximo, o que ele acredita que pode resultar em esgotamento entre médicos, enfermeiros e outros funcionários. “Os funcionários ficarão doentes e terão problemas no nível em que estão. Isso vai se tornar cada vez mais um problema”, ressaltou.

Rosane O’Rourke é instrumentadora cirúrgica no Winnie Palmer, Orlando. Foto: arquivo pessoal.

Contratação de pessoal

Os hospitais estão se esforçando para aumentar o quadro de funcionários, principalmente enfermeiros. O Baptist Health contratou mais de 500 enfermeiros desde o início do surto, segundo Boulenger. Atualmente, cerca de 140 funcionários do sistema estão afastados do trabalho porque contraíram a COVID. Apenas metade desses funcionários são clínicos, o que, segundo o diretor, indica que suas infecções são principalmente o resultado da transmissão na comunidade e não do contato com pacientes.

O Jackson Health também tem aumentado seu corpo de funcionários. 125 enfermeiros, além de terapeutas respiratórios e técnicos de atendimento ao paciente foram enviados pelo estado, segundo o Jackson Health.

Entre os quase 12.500 funcionários da Jackson Health, cerca de 4.100 trabalhadores com sintomas ou exposição à COVID foram testados para a doença desde março.

Com o aumento de internados, hospitais Baptist Health nas áreas mais afetadas de Homestead e West Kendall têm direcionado um excesso de pacientes para outras instalações do sistema de tratamento, algumas das quais converteram novas áreas em unidades COVID.

O que ajuda a desafogar os hospitais

Além do redemsivir, o que ajuda a diminuir os dias de internação dos pacientes são o tratamento com plasma convalescente, ou soro sanguíneo rico em anticorpos, doado por pessoas que se recuperaram da doença, além de ventiladores.

No Memorial Healthcare System, distrito hospitalar do sul de Broward, o chefe médico Stanley Marks disse que os hospitais Memorial agora estão vendo uma “necessidade significativa” de ventiladores e pediram assistência ao estado para garantir mais equipamentos de oxigênio de alto fluxo e máquinas de bipap, que são medidas menos intensivas para fornecer suporte adicional de oxigênio.

O governador Ron DeSantis disse que está confiante de que a Flórida conterá em breve seu surto de coronavírus e que os hospitais poderão lidar com o fluxo de pacientes, mesmo que o número médio diário de mortes no estado seja atualmente o pior do país.

“A tendência está muito melhor hoje do que há duas semanas”, disse DeSantis. “Estou confiante de que conseguiremos superar isso. Estou confiante de que as pessoas … em nossos sistemas hospitalares continuarão fazendo um ótimo trabalho e atendendo à demanda. Há muita ansiedade e medo por aí e acho que conseguiremos superar isso.”

Fluxo maior mesmo sem atender Covid-19

Também atuando na área hospitalar em Orlando, a instrumentadora cirúrgica Rosane O’Rourke diz que a situação no Winnie Palmer só não é tão ruim porque o hospital não é direcionado a pacientes com Covid-19, mas percebeu um aumento no atendimento nos últimos dias – reflexo das lotações dos outros hospitais. 

“Onde sou instrumentadora cirúrgica não tem UTI, mas te digo que antes, no mês passado, atendíamos cerca de cinco pacientes por semana e só entre ontem e hoje já fizemos parto de seis. Isso só contando as cesarianas, não tenho os dados de partos normais”, conta.

A brasileira salienta que as cirurgias eletivas chegaram a ser suspensas no início da pandemia, em março, mas já foram retomadas e o fato de outros hospitais estarem mais cheios pelas internações, têm percebido aumento da procura.

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Fonte: Gazeta News