Dados divulgados nos últimos dias por diversos Estados americanos revelam uma tendência que vem preocupando especialistas em saúde pública: a população negra nos Estados Unidos registra taxas desproporcionalmente altas de infecção e mortalidade pelo novo coronavírus.

Segundo especialistas, as disparidades são resultado de desigualdades estruturais que fazem com que comunidades negras no país fiquem mais suscetíveis ao contágio e tenham mais chances de desenvolver formas graves da covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.

Enquanto as autoridades recomendam ficar em casa e seguir medidas de distanciamento social para reduzir o risco de contágio, muitos americanos negros atuam em profissões consideradas essenciais e nas quais não é possível trabalhar de casa, como motoristas de ônibus ou funcionários de supermercados, fazendo com que tenham de usar transporte público e passar o dia em contato com outras pessoas.

A população negra nos Estados Unidos também tem taxas altas de obesidade, diabetes, hipertensão e asma, que são consideradas fatores de risco para desenvolver formas graves de covid-19. Além disso, muitos americanos negros não têm plano de saúde.

Na semana passada, o presidente Donald Trump e membros da força-tarefa criada pela Casa Branca em resposta ao novo coronavírus reconheceram as disparidades.

Nos EUA, ainda não há números oficiais relativos ao país inteiro, já que muitos Estados e cidades não divulgam a etnia dos pacientes infectados e mortos pelo novo coronavírus.

Mesmo nos Estados que divulgam esses dados, há limitações, porque em nem todos os casos há informações.

Mas mesmo esse retrato parcial indica grandes disparidades no impacto do coronavírus e foi recebido com alarme por autoridades e profissionais de saúde. Até o domingo, 12, os Estados Unidos já registravam mais de 560 mil casos e 22 mil mortes.

“(Os números) estão entre as coisas mais chocantes que já vi como prefeita”, disse Lori Lightfoot, a primeira mulher negra a comandar a cidade de Chicago, ao divulgar os dados de sua cidade.

Em Chicago, 30% dos moradores são negros. Mas metade dos casos confirmados e 70% das mortes relacionadas ao coronavírus são de pacientes negros. Os números refletem desigualdades históricas na cidade, onde moradores negros têm expectativa de vida 8,8 anos menor que a dos brancos.

Em todo o Estado de Illinois, onde fica Chicago, apenas 15% da população é negra, mas 35% dos casos e 40% das mortes foram de pacientes negros.

No Estado vizinho de Michigan, 14% da população é negra, mas um terço dos casos e 40% das mortes são de pacientes negros. A governadora, Gretchen Whitmer, criou uma força-tarefa para responder a essas disparidades raciais.

Grandes disparidades também são registradas no Estado de Wisconsin. No condado de Milwaukee, onde 26% da população é negra, pacientes negros representam metade dos casos confirmados e 81% das mortes.

No Estado da Louisiana, 32% da população é negra. “Um pouco mais de 70% das mortes por covid-19 na Louisiana são de afro-americanos”, disse o governador John Bel Edwards em entrevista coletiva na semana passada.

Na cidade de New York, os negros representam 22% da população, mas dados preliminares indicam que são 28% das vítimas. Calcula-se que pelo menos 40% dos trabalhadores no setor de transportes da cidade sejam negros. Na capital Washington, 60% das mortes até agora foram de pacientes negros, apesar de apenas 46% dos residentes serem negros.

Fonte: Brazilian Press