Achillina Bo, carinhosamente chamada de Lina, pode ter nascido na Itália, mas foi no Brasil que ela se encontrou, criou conexões e deixou um legado inestimável na arquitetura, principalmente em São Paulo. Seu estilo moderno focado na simplicidade, clareza e convivialidade fizeram-na um dos maiores nomes da arquitetura mundial. Não à toa, no último dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, Lina recebeu o Leão de Ouro Especial póstumo pelo conjunto da sua obra, concedido pela 17ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza. 

Nascida em Roma, onde se formou em arquitetura em 1939, Lina se mudou para o Brasil em 1946. Acompanhada de seu marido, o jornalista, historiador e crítico de arte, Pietro de Maria Bardi, eles tinham como primeiro desejo morar no Rio de Janeiro, mas quis o destino que o casal se mudasse para São Paulo em razão do convite feito a Pietro para fundar e dirigir o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, o MASP. E foi na capital paulista que Lina faria história não só com o projeto do próprio MASP, mas também outras famosas obras como o Sesc Pompeia, a Casa de Vidro e o Teatro Oficina. 

Reconhecimento póstumo

A paixão pelo Brasil fez com que Lina tomasse a decisão de se naturalizar em 1951. “Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu não nasci aqui, escolhi este lugar para viver. Por isso, o Brasil é meu país duas vezes, e eu me sinto cidadã de todas as cidades, desde o Cariri ao Triângulo Mineiro, às cidades do interior e da fronteira”, afirmou na época. 

O prêmio da Bienal de Veneza vem coroar o crescente reconhecimento da obra de Lina, que se deu de modo mais intenso após a sua morte, em 1992, do que em seus anos de atuação. A arquiteta enfrentou as mais variadas adversidades por ser mulher e imigrante e passou longos períodos no ostracismo, o que não a impediu de se reinventar como designer, cenógrafa, editora de revistas, curadora e até estilista, chegando a desenhar roupas e jóias. Para ela, no fim, era tudo arquitetura. 

O número de obras projetadas e construídas por Lina Bo Bardi no Brasil não passam de dez. Entre elas estão algumas das mais notáveis edificações do Brasil moderno, sempre focadas no convívio e na interação das pessoas com a obra. Para Lina, a arquitetura deveria ter como protagonista o ser humano e não o espaço.

Confira a seguir cinco obras da arquiteta. 

MASP,  São Paulo

Uma das condições para que ali fosse autorizada a construção do museu foi que a vista para a cidade se mantivesse desimpedida. Nascia assim a ideia para a criação do vão do MASP, um espaço aberto de 74 metros que foi pensado por Lina para ser usado como praça, local de convivência, além de integrar o que é externo e interno ao museu. O resultado tornou o MASP um dos locais mais emblemáticos de São Paulo, hoje ponto de encontro, de lazer e descanso.  

SESC Pompeia, São Paulo 

O Sesc Pompeia foi originalmente uma fábrica e Lina viu ali um enorme desafio para implementar mais uma vez seu estilo moderno. Ela preservou os elementos originais, como a imponência das três torres principais moldadas em concreto e destinadas a abrigar atividades esportivas e culturais. Em 2016, o Sesc Pompeia foi reconhecido pelo jornal britânico The Guardian como a 6ª melhor construção em concreto do mundo. 

Casa de Vidro, São Paulo

Considerado um dos projetos pioneiros do modernismo no Brasil, a Casa de Vidro, construída em 1951, é a construção que melhor revela o estilo de Lina Bo Bardi. Foi lá que ela e o marido viveram por cerca de 40 anos. Suspensa por finos pilotis, a casa é invadida por plantas e desafia a noção de “dentro” e “fora”. De modo a tirar o máximo proveito da privilegiada vista, as grandes janelas não possuem guarda-corpo. Em 1987, a residência foi tombada como patrimônio histórico do estado de São Paulo e desde 1995 é sede do Instituto Lina Bo e P. M. Bardi. O lugar abriga parte da coleção de arte adquirida pelo casal. É um passeio imperdível!

Teatro Oficina, São Paulo

O Teatro Oficina Uzyna Uzona, ou simplesmente Oficina, localizado na Bela Vista, abriu as portas em 1958. O local já havia passado por um incêndio antes de ser tombado em 1982. Lina capitaneou a reforma e foi uma de suas últimas obras. No novo projeto a ideia era aproximar a rua do palco. Assim, o palco avança por uma passarela central ladeado por um imenso paredão de vidro. O público é posicionado em andaimes em quatro diferentes níveis. O projeto do Oficina rendeu a Lina o prêmio da Bienal de Praga em 1999.  

Museu de Arte Moderna da Bahia – Solar do Unhão, Salvador

Trata-se de uma das principais obras de Lina Bo Bardi fora de São Paulo. O Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) fica ao lado do Solar do Unhão. Esse talvez tenha sido um dos maiores desafios para a arquiteta por se tratar de um patrimônio tombado e havia uma série de impeditivos no que diz respeito ao projeto. A parte mais icônica do museu é a “Escada de Lina”, um caracol que liga os andares do museu. A obra é de madeira maciça e foi inspirada nos carros de boi, tão peculiares na Bahia rural. O MAM possui oito salas de exposição, auditório, sala de vídeo e biblioteca. Um dos programas mais bacanas ali é o Jam no MAM, com apresentações musicais aos sábados.

Restaurante Coati, Salvador

Além de idealizar o Museu de Arte Moderna da Bahia, Lina projetou o restaurante Coati, na Ladeira da Misericórdia, hoje abandonado. Deslize a galeria acima para ver algumas fotos feitas pelo jornalista especialista em arquitetura, Raul Juste Lores.

Fonte: Arch Daily

Fonte: Viagem e Turismo