SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pergunte a qualquer pessoa com conhecimento mínimo de futebol: “Quantos são os cartões presentes no jogo”? A resposta será: “Dois”.

“Quais são as suas cores?” é a questão seguinte, também bem pouco difícil. “Amarelo e vermelho.”

A terceira indagação: “Para que serve cada um?”. Sem muito aprofundamento, responde-se: “O amarelo é uma advertência, um aviso, um alerta. O vermelho é a expulsão, a exclusão da partida”.

Utilizados desde a Copa do Mundo de 1970, eles são exibidos pelo árbitro em casos de faltas duras, reclamações, indisciplina.
Até esta semana, eu (e você também, possivelmente) só sabia da existência desses dois cartões no futebol.

Pois, surpresa, há um terceiro.

Que é extraoficial, não está nas regras, não tem aval da Fifa ou do Ifab (órgão que regulamenta as leis do esporte). Que foi criado em Portugal, em 2018, pelo governo do país, via Plano Nacional de Ética no Desporto, e adotado pela Federação Portuguesa de Futebol.

E que apareceu pela primeira vez para o mundo no sábado (21), em Benfica 5 x 0 Sporting, pelas quartas de final da Copa de Portugal feminina.

Perto do fim do primeiro tempo do clássico lisboeta disputado no Estádio da Luz, soube-se que um torcedor que acompanhava o jogo nas arquibancadas estava tendo um problema de saúde.

De pronto, os médicos das duas equipes se movimentaram na direção do local e prestaram, conjuntamente, assistência à pessoa que teve um mal súbito.

Passado o susto, com os profissionais retornando às suas devidas posições no campo, bastante aplaudidos pela plateia de 15 mil torcedores, viu-se, dentro do gramado, uma cena inusitada e inédita.

A árbitra Catarina Campos, 37, tirou do bolso, levantando-o e exibindo-o na direção dos médicos, um cartão da cor branca. Feito isso, mais aplausos do público, que, entendendo ou não o gesto, apreciou-o e aprovou-o.

O cartão branco tem o objetivo de passar a mensagem de um ato de “fair play” durante a partida. No caso, a ação dos médicos das duas equipes em relação ao fã.

Fair play é traduzido como “jogo limpo”, mas nessa situação, a do cartão branco, seu emprego ganha amplitude, relacionando-se a uma conduta reconhecidamente ética e digna, de profissionalismo marcante, de auxílio imediato e vital ao próximo.

É curioso que apenas depois de cinco anos da introdução em Portugal dessa novidade ela tenha aparecido.

Será que não houve nada nesse período que merecesse um cartão branco? Ou será que a maioria dos árbitros considerava o artifício “desimportante”, nem levando o cartão da “cor da paz” ao campo?

Catarina Campos lembrou-se dele, decidiu usá-lo, ganhou holofotes pelo pioneirismo. Pode ter inaugurado uma nova era, em que o cartão branco passará a ser mais visto em Portugal e, talvez, ser adotado em outros países.

É necessário? Não. É revolucionário? Não. É positivo? Sim. É bacana? Sim.

Só não pode passar a ser utilizado corriqueiramente, mas somente em situações peculiares, para que não se torne banal e desmerecedor das devidas atenções.