GUILHERME SETO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – João Farias, secretário municipal de Habitação da gestão Ricardo Nunes (MDB), pediu demissão nesta sexta-feira (26), expondo uma crise que se arrasta desde o início de maio na gestão municipal.

Internamente, Farias e o diretor-presidente da Cohab, João Cury, têm divergido fortemente a respeito de um decreto ainda não publicado para desapropriação de uma área e construção de um projeto habitacional em Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo.
Em forte discussão sobre o assunto do decreto no começo de maio, Farias e Cury chegaram a se exaltar. Segundo alguns relatos à coluna Painel, da Folha de S.Paulo, houve xingamentos e gritos, e os dois precisaram ser contidos. Outros dizem que se tratou de um bate-boca.

A área da habitação é considerada estratégica para Nunes, que aposta na construção de casas para alavancar suas chances de reeleição no ano que vem.

A crise também pode respingar no arco de alianças de Nunes para a reeleição, uma vez que Farias é uma liderança paulista importante do Republicanos, partido do governador Tarcísio de Freitas.

Procurado pelo Painel, o secretário demissionário disse que dará mais detalhes sobre o assunto na segunda-feira (29). Segundo ele, o estopim para sua decisão de sair foi o fato de membros da prefeitura estarem divulgando uma versão distorcida para a tensão interna.

Internamente, o secretário de Habitação tem criticado Cury e o secretário de Governo, Edson Aparecido, ambos do MDB, pela elaboração de um decreto que desapropriaria um terreno na Cidade Tiradentes e abriria as portas para que uma empresa específica mantivesse sua participação no programa habitacional Pode Entrar. Sem o decreto, a empresa seria desclassificada.

Segundo Farias tem argumentado, o decreto tiraria a lisura do processo de concorrência e prejudicaria a concorrência. Na iminência da publicação do decreto, ele disse a Nunes que deixaria a prefeitura se o texto saísse no Diário Oficial, o que ainda não ocorreu.

Farias então procurou Marcos Pereira, presidente nacional do Republicanos, que ligou para o prefeito e passou a intervir na questão. Na ocasião, eles propuseram a Nunes uma alternativa: se a Procuradoria-Geral do Município dissesse que o decreto não prejudicaria ninguém, eles continua no cargo após a publicação do texto.

Do outro lado, em acusação simular, a afirmação é a de que Farias que estaria criando dificuldades inexistentes para que outras empresas assumissem o empreendimento em Cidade Tiradentes. O grupo de Cury tem afirmado que os técnicos da prefeitura têm corroborado a posição dele de que o projeto deve passar pelo menos por uma análise inicial.

Em reunião com Cury, os técnicos e o prefeito, o secretário de Habitação rebateu e disse que a questão não é técnica, mas jurídica.

Além disso, os interlocutores de Cury dizem que Farias minou a autoridade do prefeito ao procurar Marcos Pereira para resolver o imbróglio.

Em nota, Cury disse que não teve “nenhuma discussão com o secretário João Farias, muito menos com xingamentos, até chegar às vias de fato.”

Sobre o Pode Entrar, afirmou que “os projetos estão sendo analisados e existe uma comissão interdisciplinar que os analisa e os aprova ou não, e eu não faço parte dela.”