(FOLHAPRESS) – O deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) tenta atrair para a aliança de sua pré-candidatura ao Governo do Rio de Janeiro políticos que responsabilizou, no passado, pelo crescimento das milícias.

Foram apontados desta forma pelo deputado o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PSD), e o ex-prefeito César Maia (PSDB). O segundo é cotado para a vice na chapa de Freixo.

O convite a Maia é visto na campanha de Freixo como um movimento comparável à aliança entre o ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB). O objetivo é reforçar a guinada ao centro do deputado, que tenta se descolar da imagem de radical de esquerda, construída em razão da filiação por 16 anos ao PSOL.

A menção à aliança no plano nacional foi feita pelo próprio Freixo, na sabatina Folha/UOL deste ano, ao explicar a tentativa de atrair Paes, apesar das críticas do passado.

“Se pegar dez anos atrás, jamais você imaginaria o Alckmin sendo vice do Lula. A conjuntura era completamente diferente. Hoje é uma necessidade e vai fazer muito bem ao Brasil”, disse o deputado.

Presidente da CPI das Milícias da Assembleia Legislativa, em 2008, Freixo apontou Paes e Maia como políticos que lucraram eleitoralmente com o domínio de territórios por esses grupos criminosos.

As críticas mais duras foram dirigidas a Paes na eleição de 2012, quando os dois disputaram a prefeitura.

Na sabatina Folha/UOL daquele ano, Freixo disse que o prefeito, à época candidato à reeleição, financiava com verbas públicas centros sociais ligados a milicianos.

“Da CPI para cá foram 720 prisões, e o número de milícias aumentou. Por quê? Porque os centros sociais continuam funcionando e muitos deles alimentados pela prefeitura que tem na milícia sua base legislativa e sua base de poder local.

Ele [Paes] não é dono de milícia. Mas ele tem responsabilidade no crescimento das milícias”, afirmou ele.

Uma das principais críticas de Freixo na ocasião era o fato de Paes ter feito, em seu primeiro mandato, a licitação para o serviço de vans através de cooperativas. Relatório da CPI das Milícias presidida pelo deputado orientava que as permissões fossem dadas diretamente aos motoristas, a fim de fugir da influência dos grupos criminosos nas entidades.

“Tem foto de uma reunião na prefeitura em 2009 do atual prefeito com vários donos de cooperativas. Entre eles, inúmeros indiciados por nós em 2008. Reunidos para discutir e ganhar a licitação das vans”, afirmou ele em 2012.

“Isso significa que se possa prender o prefeito? Não. Significa que você pode, e deve, fazer um debate de responsabilidade política de quanto esses grupos, que são criminosos e violentos, tem na sua base territorial uma base eleitoral que interessa não só à milícia, mas a muita gente que lucra com esse domínio eleitoral.”

Em debate posterior, promovido pela Folha e a Rede TV! naquele ano, Paes ironizou as acusações de Freixo.

“Recebo muita gente no meu gabinete e não peço certidão de antecedentes criminais. Sou obrigado a saber todo mundo que está citado no relatório do CPI das Milícias? Aquilo não é a Bíblia.”

Maia também foi alvo das críticas de Freixo na ocasião. Para ele, a responsabilidade política não era apenas da gestão Paes, mas também das anteriores. O antecessor de Paes era César Maia, que esteve à frente da prefeitura por três mandatos.

Freixo criticou o fato de o ex-prefeito ter chamado as milícias de “autodefesas comunitárias” e de “mal menor” em comparação ao tráfico de drogas para a realização dos Jogos Pan Americanos, em 2007.

“O prefeito do Rio de Janeiro chamou por muito tempo as milícias de autodefesa comunitária. Isso não é fechar os olhos. Isso é abrir os olhos e buscar um conceito para milícia que seja positivo”, disse Freixo, em 2008, último ano da gestão Maia.

“Se o poder público tivesse fechado os olhos, as milícias não teriam crescido tanto. Ele abriu os olhos, se interessou pelas milícias, ajudou a eleger pessoas que ocupavam cargos na segurança pública, incentivou. Estou falando de ações concretas como ajuda orçamentária a centros sociais controlados por milícias, permissão para que os chefes de milícias se candidatassem utilizando suas legendas.”

Questionado sobre as críticas do passado a Paes e sua tentativa de atraí-lo para a aliança, Freixo afirmou na sabatina Folha/UOL deste ano que “a responsabilidade pelo crescimento das milícias é de todo mundo que estava no poder público”.

“Muita gente não imaginou que a milícia ia chegar onde chegou. Muita gente no início falava em mal menor, porque imaginava que o poder do tráfico, por ser muito danoso, era pior. Não enxergava o tamanho do que viria a ser a milícia. A gente precisa juntar todo mundo, independente de quem acertou mais ou errou mais em relação às milícias.”

Freixo afirma que Maia declarou voto nele no segundo turno de 2016, quando tentou a prefeitura, e vai contribuir com sua campanha e eventual governo.

“Tenho uma grande admiração por ele. Foi um administrador muito importante”, disse o deputado.

“Eduardo Paes é muito importante para a reestruturação do Rio de Janeiro. Temos diferenças, mas elas são muito menores do que temos em comum para resgatar o estado”, disse o deputado.

Maia e Freixo estão mais próximos, a partir da articulação de Rodrigo Maia (PSDB), filho do ex-prefeito. O objetivo do deputado do PSB, porém, é atrair também Eduardo Paes. Uma das possibilidades é tornar o ex-presidente da OAB, Felipe Santa Cruz (PSD), atual pré-candidato ao governador, candidato ao Senado pela chapa. Ele atualmente é o pré-candidato de Paes ao governo estadual.

Paes tem resistido à aliança e tenta desidratar a candidatura de Freixo. Ele chegou a articular uma aliança com o PDT, mas a indefinição sobre o cabeça de chapa desfez o acordo. Os pedetistas defendem a candidatura do ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT).