MÔNICA BERGAMO (FOLHAPRESS) – O infectologista e secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde de São Paulo, David Uip, recusou o convite para participar da equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A negativa foi comunicada nesta quarta-feira (9) ao vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), que comanda os trabalhos.

A família foi o que mais pesou para que ele decidisse não colaborar na transição para o governo Lula.

Próximo de Alckmin, Uip chegou a ser anunciado como integrante do grupo técnico da Saúde ao lado dos ex-ministros petistas Alexandre Padilha, José Gomes Temporão e Arthur Chioro.

Ao declinar da tarefa, o infectologista afirmou que precisa se dedicar a assuntos pessoais e familiares neste momento, mas se disse honrado pelo convite para ajudar a reconstruir a saúde pública brasileira e o SUS (Sistema Único de Saúde) após “anos de negacionismo”.

O médico ainda se comprometeu a ajudar com informações dos projetos que implementou quando esteve à frente da Secretaria da Saúde de São Paulo e, em sua visão, poderiam ser adotados nacionalmente. Um deles seria a expansão da rede de atendimento de médicos especialistas.

No próximo ano, David Uip retornará ao cargo de reitor do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André (SP), após deixar o Governo de São Paulo. Ele também seguirá atuando em seu consultório, localizado na zona sul da capital paulista.

Como mostrou a coluna, na semana passada o infectologista deixou o PSDB depois de 27 anos de militância em que se transformou na maior referência do partido na área. Ele tomou a decisão por causa da “bolsonarização” da legenda.

No segundo turno das eleições, diversas lideranças do partido anunciaram apoio a Jair Bolsonaro, e algumas chegaram a posar com a foto do ex-prefeito Bruno Covas ao lado do então candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas -o que gerou protestos da mãe e do filho do ex-prefeito, morto em 2021.

Uip coordenou o Centro de Contingência contra a Covid-19 no governo de João Doria, e liderou a resistência dos médicos de São Paulo ao negacionismo de Bolsonaro.

Por causa disso, foi atacado diretamente pelo presidente da República e chegou a ter a sua receita pessoal de medicamentos divulgada ilegalmente em redes sociais quando se tratou da Covid-19.

O médico e sua família chegaram a receber ameaças de morte.