BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse considerar o seu ex-ajudante de ordens preso, tenente-coronel Mauro Cid, como um filho. E, ao mesmo tempo, afirmou que “alguém fez besteira” no episódio de fraude no cartão de vacinas.

Em entrevista à revista Veja, divulgada nesta sexta-feira (19), Bolsonaro disse ainda que “não há motivos” para uma eventual prisão: “Para ter algum motivo que justificasse isso, eu precisaria ter feito pelo menos 10% do que ele [presidente Lula] fez. E eu fiz 0%”.

A PF (Polícia Federal) realizou operação no último dia 3 de busca e apreensão na casa do ex-chefe do Executivo, e prendeu três dos seus principais auxiliares, dentre eles Cid. A suspeita é de que o militar tenha arquitetado esquema que adulterou dados públicos de vacinação de suas filhas, de auxiliares e do próprio Bolsonaro.

“Ao que tudo indica, alguém fez besteira. Não estou batendo o martelo. Da minha parte não tem problema nenhum. Eu não precisava de vacina para entrar nos EUA. A minha filha também não precisava de nada”, disse o ex-mandatário.

Ainda que admite a possibilidade de “besteira”, Bolsonaro não diz quem seria o autor, apesar dos indícios da apuração da PF.

Ele diz ainda que Cid era considerado “um filho”. O pai do ajudante, o general Mauro Cesar Lourena Cid, foi da turma de Bolsonaro na Aman (Academia Militar de Agulhas Negras).

“É filho de um general da minha turma, considero um filho. (…) Ele atendia o telefone, às vezes um parlamentar, organizava algumas missões que eu dava. Também ficava com ele o meu cartão do Banco do Brasil. Ele movimentava minhas contas, pagava as contas da Michelle, mas não participava das decisões do governo, não interferia. Não era, como alguns acham, um conselheiro”, disse.

A proximidade de Cid com Bolsonaro sempre causou ruídos dentro do governo. Braço-direito do ex-presidente, ele era apontado por aliados como um integrante da ala mais radical, e era responsabilizado por supostamente incendiar o então presidente em alguns temas, como urnas eletrônicas.

O tenente-coronel fez o powerpoint de apresentação aos embaixadores no ano eleitoral, em que Bolsonaro lança dúvidas sobre as urnas, sem provas. O episódio rendeu uma investigação contra ele.

O ex-presidente passou o seu governo lançando dúvidas sobre o sistema eleitoral, e, quando perdeu a reeleição, não reconheceu a derrota e deixou o país antes do final do mandato, para evitar o rito democrático tradicional de passar a faixa para o seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Agora, adota postura diferente: “Página virada”. E, se quando estava à frente do Palácio do Planalto, não media ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal), nesta sexta, disse que não quer polemizar nem “botar lenha na fogueira”.

Ele também rechaça os ímpetos golpistas de aliados, em especial no final do mandato. Disse à Veja que, que se havia alguém que defendesse golpe, não chegou ao seu conhecimento. Aliados falavam em tom de desabafo, afirmou, sem especificar o que seria o “desabafo”.

Bolsonaro também minimizou sua proximidade com o ex-major do Exército Ailton Barros, que enviou áudios golpistas a Cid, conforme descobriu a PF.

“O Ailton não mobiliza meia dúzia de jogadores de dominó. (…) Se você conversar com ele, em trinta segundos já não quer mais conversa”, afirmou.