Ao menos 160 presos por participação nos ataques golpistas aos Três Poderes em Brasília no domingo, 8, receberam algum tipo de benefício financeiro do governo federal nos últimos anos. O valor repassado aos bolsonaristas inconformados com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por meio de programas sociais e de distribuição de renda, como Auxílio Emergencial, Auxílio Brasil e Bolsa Família, chega a quase R$ 900 mil (R$ 857.103,76).

Alguns dos presos que defendem golpe militar receberam dois ou mais benefícios ao mesmo tempo. É o caso de beneficiários do Auxílio Brasil, ou que já recebiam o Bolsa Família, e acumularam o Auxílio Emergencial, programa de distribuição de renda durante a pandemia de covid-19. São 23 casos.

De 400 presos cujos casos foram analisados pelo Estadão – o total de golpistas encarcerados já chega a 1.167 -, 150 receberam o Auxílio Emergencial e outros 10 foram beneficiados por outros tipos de repasses.

Moradora de Fortaleza, Roberta Jersyka Oliveira Brasil, de 35 anos, recebeu quatro tipos de benefícios do governo federal nos últimos anos. De agosto de 2017 a outubro de 2021, embolsou R$ 7.999,00 do Bolsa Família em pagamentos mensais de R$ 171 e R$179 mensais.

Com a reestruturação do programa de transferência de renda e mudança de nome, Roberta passou a receber os repasses do Auxílio Brasil, num total de R$ 3.266,00. Ela ainda foi beneficiária de R$ 5.344,00 do Auxílio Emergencial e R$ 11.356,07 de uma bolsa do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Capturados

Caso semelhante é o de Vera Lucia Moraes Fernandes, de 44 anos, moradora de Marabá, no Pará. Ela recebeu R$ 39 mil do governo federal entre repasses do Bolsa Família, Auxílio Brasil e Auxílio Emergencial.

Há, entre os capturados pela Polícia Federal e pela Polícia Militar do Distrito Federal, servidores do governo federal, militares reformados e favorecidos por bolsas e aposentadorias de órgãos da estrutura pública.

Aqueles que foram beneficiados pela política de distribuição de renda durante a pandemia receberam em média R$ 5 mil. Em outros casos, servidores e militares reformados e da ativa foram beneficiados com salários que superam os R$12 mil mensais.

É o caso do militar reformado, suboficial da reserva Marco Antonio Braga Caldas, de 49 anos. Ele recebe remuneração mensal de R$12.893,21. Ligado ao Comando da Marinha, Braga Caldas entrou para a reserva em 17 de novembro de 2021. Não é a primeira vez que o militar responde na Justiça por supostos crimes cometidos. Em 2012, ele foi acusado de violência doméstica contra a mulher. O processo corre sob sigilo.

O subtenente da reserva José Paulo Fagundes Brandão, de 59 anos, ligado ao Comando do Exército, recebe, desde 2019, R$11.697,66 por mês. Ele estava lotado no Ministério da Defesa, na Base Administrativa da Guarnição de João Pessoa.

E há entre os presos um policial militar reformado de São Paulo. O segundo sargento Claudio Augusto Felippe, de 58 anos, está detido no Centro de Detenção Provisória II desde domingo. Ele recebe R $7,7 mil mensais do Estado de São Paulo. A Polícia Militar de São Paulo diz que ainda não há nenhuma denúncia sobre a participação de Felippe nos atos em curso na corporação.

Bolsista recebeu R$ 122 mil

Em outro caso, uma das presas, Francisca Elisete Cavalcante Farias, de 43 anos, de Marabá, no Pará, recebeu entre 2015 e 2017, R$ 122 mil por meio de uma bolsa do Ministério da Ciência e Tecnologia. Os pagamentos começaram ainda nos governos petistas, no último ano da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Um ex-estagiário do Ministério da Infraestrutura ligado ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes também está entre os presos em Brasília. Daywydy da Silva Firmino, de 30 anos, estava acampado em frente ao Comando Militar do Sudeste, em São Paulo, desde novembro do ano passado.

Nas redes sociais, Firmino registrou a rotina em frente ao quartel na capital paulista e o ato golpista em Brasília. Ao registrar a ação da PM, já no fim do ato, o estagiário diz que os agentes “estão atirando contra pessoas que estão tentando tomar de volta a casa do povo”. O ex-servidor público foi levado no domingo para a Academia da Polícia Federal, em Brasília, para uma triagem antes de ser preso. De lá, continuou a incitar a população a “defender o Brasil”.

Aposentada do Ministério da Saúde, Odiceia Andrade Campos, de 60 anos, mora em Divinópolis, Minas Gerais, e recebe cerca de R$ 4 mil mensais desde agosto de 2015, quando aderiu a um programa de aposentadoria voluntária da pasta. Ocupou o cargo de auxiliar operacional do ministério de 2006 a 2015.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.