O diretor-geral da Polícia Federal, delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues, sugeriu a prisão do ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro, delegado da PF Anderson Torres, ainda na noite de domingo, 8, quando os três Poderes contabilizavam o rastro de destruição de radicais que invadiram e depredaram as dependências do Planalto, Congresso e Supremo.

Em ofício ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, Andrei propôs a avaliação da ‘oportunidade e conveniência’ da prisão de Torres, então secretário de Segurança do DF, e do coronel Fabio Augusto Vieira, então comandante da Polícia Militar no DF, considerando a ‘gravidade’ dos atos golpistas e a necessidade de ‘evitar eventuais interferências nos trabalhos de intervenção federal’ decretado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O documento do diretor-geral da PF foi assinado às 23h22 de domingo, 8, e remetido à Corte máxima junto de um relatório de 20 páginas elaborado pela Diretoria de Inteligência da PF. Cerca de cinco horas antes, Lula publicou em suas redes sociais o decreto de intervenção federal na Segurança Pública do DF, anunciando o atual secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Capelli, interventor.

O pedido de Andrei foi acolhido na mesma noite por Alexandre de Moraes. Como mostrou o Estadão, ao decretar a prisão de Torres e do coronel, o ministro do Supremo disse ver ‘fortes indícios’ de que ambos foram ‘coniventes’ com os atos golpistas.

Alexandre também ordenou que a PF vasculhasse os endereços de Torres e do militar. Durante as diligências, na terça, 10, foi encontrada, na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, uma minuta de decreto de Estado de Defesa no Tribunal Superior Eleitoral. O documento, que teria sido produzido após a vitória de Lula nas eleições, é considerado ‘embrião de um golpe’.

No ofício ao gabinete de Alexandre, o delegado Andrei argumentou que as manifestações antidemocráticas ‘alcançaram amplos níveis de violência, gerando severos danos aos bens e instituições públicas’. “Tudo em virtude da omissão do Sistema de Segurança Pública do Distrito Federal, notadamente da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Distrito Federal e do Comando da Polícia Militar do Distrito Federal, que não adotaram as medidas necessárias para a contenção de criminosos”, frisou.

O relatório da Diretoria de Inteligência da PF sustentou que as informações sobre a ida de manifestantes a Brasília eram de conhecimento das forças de segurança do DF. Também destacou que o trajeto feito pelos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, do acampamento em frente ao QG do Exército até a Praça dos Três Poderes, foi acompanhado pelos agentes de segurança do DF. Segundo a PF, ‘não foram empregadas as barreiras policiais suficientes para conter os manifestantes’.

“Essas informações indicam a possibilidade de uma eventual omissão das autoridades públicas que tinham o dever legal de agir e eventualmente se omitiram, mesmo diante das informações que alertavam para os fatos vindouros, bem como das imagens que mostraram os manifestantes se deslocando do QG-Ex para a Praça dos Três Poderes, permitindo que tamanho dano tomasse forma”, argumentou Andrei, com base no relatório.