Efeito colateral do avanço do novo coronavírus no Brasil. Mais de 1 mil estudantes brasileiros que conquistaram bolsas de estudos para várias universidades americanas – de graduação, mestrado e doutorado – correm ansiosos contra o tempo para obter o visto de estudante para entrar nos Estados Unidos. Segundo o grupo, os consulados e a embaixada do país no Brasil estão com esse serviço praticamente parado.

O Escritório dos EUA em Belo Horizonte confirmou ao Estado de Minas que as “chamadas rotineiras para emissão de vistos de não imigrantes” estão suspensas devido à pandemia da COVID-19 e que estão sendo buscadas formas de dar prioridade aos estudantes na retomada do serviço que, entretanto, não tem data para ocorrer. Sem a permissão, que depende de entrevista presencial, alguns simplesmente perderão a oportunidade. Diante da situação, 1.134 estudantes de todas as partes do país se uniram para enviar uma carta ao Itamaraty pedindo que providências sejam tomadas. O Itamaraty diz que está fazendo “todo o possível” para que o problema seja resolvido.

A mineira Ana Clara Gonçalves Sampaio, de 19 anos, é uma das estudantes que enfrenta o drama da incerteza e teme não poder realizar o sonho de estudar nos EUA. A jovem passou em uma seleção para curso de estudos internacionais e ciência política – International Studies e Political Science – na University of Kentucky, nos Estados Unidos, no ano passado. Uma vitória que exigiu muito estudo: “Desde o meu 9º ano do ensino fundamental já sonhava em ampliar os conhecimentos fora do Brasil”, contou. Depois da conquista vieram os entraves. “Fiz meu primeiro semestre online, com agendamento do visto marcado para dezembro. Ele foi cancelado. Meu segundo semestre também foi online, com agendamento para maio e, na terça-feira, ele foi cancelado”. Ana conta que recebeu um e-mail informando o cancelamento sem justificativa alguma e, mais uma vez, tentou remarcar a entrevista para obtenção do visto.

“Porém, ficamos à mercê das vagas, que agora só estão disponíveis no final do ano em todos os consulados brasileiros”, contou a jovem, que precisa estar nos Estado Unidos no semestre que vem. Do contrário, poderá perder vaga de trabalho no câmpus e ainda terá que fazer uma pausa na iniciação científica. Ana Clara conquistou uma bolsa de cerca de US$ 30 mil por ano e corre o risco de perdê-la. “Sem contar esse trabalho no câmpus de que falei, que me garante alimentação e acomodação e é supercomplexo de conseguir. Passei por todo o processo de seleção, consegui, vai me dar uma mega-ajuda pra me bancar, e agora corro o risco de perder tudo”, lamentou a jovem, angustiada. Ela está com tanto medo de não conseguir ir em agosto para os EUA que agendou entrevistas em representações americanas no Chile e Equador. Mas a alternativa traz também outras dores de cabeça: voos constantemente cancelados, muito mais investimento financeiro e o medo de esses países fecharem suas fronteiras aos viajantes em decorrência da COVID-19.

”O Chile mesmo está fechado atualmente, mas meu agendamento é para agosto”, contou. A família de Ana, contratou uma empresa para tentar “desembolar” a obtenção do visto. “Já chorei tantas vezes… fica uma angústia sem fim. Buscamos respostas, nos mobilizamos, mandamos e-mails, e até agora, nada”, lamentou a jovem. Ela agendou entrevista também no Equador, em junho: “A única data que achei.” Ingrid Possa, de 26, é do Rio de Janeiro e não tem recursos para tentar tirar o visto para os Estados Unidos em outro país. “Não tenho condição financeira, sou de baixa renda e, para mim, viajar para outro país para conseguir tirar visto é praticamente impossível”, contou a jovem, que passou no doutorado em biologia molecular da University of Illinois Urbana-Champaign. “O curso tem uma duração de cinco anos e vou receber bolsa durante todo esse período. Nos primeiros anos, minha bolsa é de US$ 64 mil”, contou.

A estudante conquistou a bolsa no ano passado. “Minha carta de aceite foi enviada em abril, para começar (o curso) em agosto de 2020. Só que eu tive que pedir o prazo de um ano para me apresentar. Dia 23 de agosto as se iniciam as minhas aulas, mas tenho que estar na faculdade, no máximo, até 16 de agosto, quando começa o meu contrato”, contou. Segundo Ingrid, as normas da universidade não permitem que ela atrase o ingresso no curso por mais um período. No caso dela, aulas on-line não são opção. Biomédica, Ingrid atua em pesquisas na área de saúde, que exigem trabalho em laboratório. “Preciso estar no laboratório para fazer minhas pesquisas. É necessário comparecer fisicamente à faculdade”, acrescentou. A biomédica tenta agendar entrevista para obtenção do visto desde abril do ano passado, mas não encontra datas disponíveis. “A única opção que tenho agora é um visto de emergência, mas poucos conseguem acesso a esse serviço”, explicou, relatando um misto de ansiedade e desesperança diante da situação: “Há vários casos de pedidos de emergência de colegas da área de saúde que foram negados. Você se esforça por anos para ter uma oportunidade e simplesmente, por questões burocráticas, você não consegue”, lamentou.

Fonte: Brazilian Press