Capa CD Marcelo Menezes O guardião do sambaRevendo os CDs que já recebi e resenhei, observei uma coisa que me deixou contente: em meio à natural presença majoritária dos trabalhos que já ultrapassaram a “síndrome do segundo CD”, há uma expressiva presença de primeiros discos.

Dentre outras, uma das minhas satisfações é perceber que o novo trabalho de quem ouvi e elogiei, e por quem torci, chegou aos ouvidos de quem ama a boa música – difícil, mas nunca impossível. Vem daí, e também, claro, da convicção que têm da qualidade de seus trabalhos, a decisão corajosa de gravar o segundo disco. Decisão essa que me alegra muito.

A dica de hoje é Guardião (independente), segundo CD do compositor, sambista e cantor Marcelo Menezes, de quem eu nunca ouvira falar. Receber seu disco me agradou. Honrou-me ter na mão um “segundo”… logo ouvi e percebi que MM fez um ótimo trabalho.

Ao convidar Paulo César Pinheiro para ser seu parceiro em pelo menos uma música, Menezes teve a ventura de ter não uma, mas catorze melodias inéditas letradas pelo poeta.

Assim PCP descreveu o papo no encarte do CD: “(…) Logo chegaram três sambas numa fita cassete [Paulinho continua fiel à velha fitinha], e um pedido para que escolhesse um deles para colocar versos. Adorei todos e fiz os três. Ele aprovou. Pedi mais e comecei a receber um rosário de canções (…)”.

Impressiona sentir que as melodias parecem vindas do mesmo ventre no qual nasceram os versos. São sambas com batida apoiada na tradição ancestral do gênero, melodias pungentes e palavras com musicalidade nata.

Os arranjos foram divididos entre três craques: são seis do violonista sete cordas Julião Pinheiro, quatro do cavaquinhista Jayme Vignoli e quatro do violonista Mauricio Carrilho. Trio que arregimentou instrumentistas altamente capacitados, como eles próprios, para tocar sambas arrebatadores.

“Guardião” empresta o título para o CD e é a melhor música da parada. Com um belo arranjo de Mauricio Carrilho (ele também está ao violão), a intro tem berimbau (Paulino Dias; que dividiu as percussões com Celsinho Silva), clarone (Pedro Paes), cavaquinho (Ana Rabello) e clarinete (Rui Alvim). Saquem só os versos de Paulinho: “O samba vai retumbar no chão/ Vou lá pra puxar o seu cordão/ Da tradição do Rei/ Eu sou guardião (…)”.

“Bala de Festim”, em tom menor e melodia delicada, tem arranjo de Jayme Vignoli (que tocou cavaquinho), Luiz Flavio Alcofra (violão) e Marcilio Lopes (bandolim). O samba vem que vem ao toque das percussões… meu Deus!

“Amor Refeito” tem participação de Cristina Buarque. Julião Pinheiro tocou o sete cordas e fez o arranjo. com as percussões, o samba vem macio. O cavaquinho está com Ana Rabello, enquanto Menezes está no violão, cantando bonito em duo com Cristina.

Marcelo Menezes tem a linhagem dos grandes sambistas cariocas. O samba que corre em suas veias nasceu das mais finas raízes. Guardião abriga o melhor de sua parceria com Paulinho Pinheiro – sambas que ganham projeção no canto e na palavra.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

Fonte: Brazilian Voice