SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – São duas novidades em um só personagem. O ator Fernando Caruso, 41, vive o desafio de interpretar seu primeiro papel fixo e não cômico em uma novela.

Em “Cara e Coragem” (Globo), ele é Paulo, um investigador policial, personagem que não tem nada em comum com seu intérprete -ou talvez tenha. “Ele jamais seria um bolsonarista”, afirma o ator, ideologicamente alinhado à esquerda. “É uma pessoa que tem consciência e que tem tendência a não comprar um discurso falacioso”, opina.

Em entrevista ao site F5, Caruso revela que tem como sonho ser o próximo galã da novela das 21h, fala sobre a preparação para interpretar Paulo, as eleições, e o futuro do humor. “Não adianta atirar [fazer piada] em ex-presidente, tem que mirar em quem está na cadeira.”

PERGUNTA – Como tem sido interpretar seu primeiro papel não cômico na TV?

FERNANDO CARUSO – É um mix de primeiras vezes. O Paulo de ‘Cara e Coragem’ é meu primeiro papel fixo numa novela, pois só tinha feito participações até hoje. E também é um papel não cômico, o que me desafia para conter meus instintos. É um personagem diferente de mim, pois é um cara mais seguro de si, com mais autoridade na voz, queria até ser assim, mas não sou.

Como se preparou para esse papel?

F.C. – Contei muito com a preparação de elenco. Eles me ensinaram técnicas de masculinidade, postura, voz firme, maneira de andar, mudaram minha linguagem corporal. Era para eu me tornar um cara com mais atitude que sabe o que quer e não faz curva. É um timbre que não estou acostumado a usar. Por outro lado, não ter que ser engraçado alivia a pressão, ter que fazer rir toda hora me causa neurose.

Quer mais chances na dramaturgia?

F.C. – Enquanto eu não for protagonista galã das 21h não vou sossegar [risos]. A estrutura de uma novela é muito bacana, essa que estou fazendo tem uma equipe grande e muito bem preparada, cinco diretores tocando e atores gravando em três frentes distintas ao mesmo tempo. Me sinto participando de um negócio grande e importante. Parece a sensação de quando fiz meu primeiro musical.

Em “Cara e Coragem” você vive um policial. No mundo real, acha que ele seria eleitor de quem?

F.C. – O Paulo já deu algumas falas de que reclama de salário, das condições de trabalho, então acho que ele não seria bolsonarista. É uma pessoa que tem consciência da situação econômica, do entorno, da desigualdade e que tem tendência a não comprar um discurso falacioso. Estamos vendo no país que não está tudo bem, a inflação, preços altos do gás, gasolina. Quem tem esse olhar quer mudança e não mais do mesmo.

Por falar nisso, você é um dos melhores imitadores do atual presidente…

F.C. – Não sei se fico lisonjeado ou ofendido (risos).

Caso ele deixe de ser presidente após a eleição, a piada vai acabar?

F.C. – Não, a gente vai ter outros motivos para rir, não quero ficar preso a essa imitação. Se entrar o Lula, ele é fácil de imitar. Veja bem: às vezes as pessoas têm o discurso de que tem que atirar para os dois lados, mas acho que tem que atirar para um só, e esse lado é o do poder. Não adianta atirar [fazer piada] no ex-presidente, tem que mirar em quem está na cadeira. Nossa função [do humorista] é cobrar. Vejo como se fosse um jogo de futebol invertido. Quando seu time perde você sabe que será sacaneado pelos colegas e faz parte. Na política, se seu candidato ganha, tudo o que ele fizer de merda vai cair na sua conta, só que todo mundo perde.

Você é atuante nas redes e fala muito de política. Acha que ganha mais seguidores ou haters pelo seu trabalho na novela?

F.C. – Vou ser sincero, as pessoas não se ligaram ainda que sou eu fazendo esse papel na novela das 19h. Eu jogo a hashtag #caraecoragem no Twitter e vejo falarem do Paulo, mas ninguém me marca, o que é bom sinal, pois devo estar atuando tão bem que não se tocaram que sou eu. Estou achando legal, mas pode ser que daqui uns meses eu fique carente.

Quais outros projetos terá após “Cara e Coragem”?

F.C. – Dia 21 de julho vai estrear uma série da Turma da Mônica em live-action no Globoplay e eu faço um dos personagens. Acompanho essa turminha desde sempre e poder dar vida a um desses personagens é uma baita experiência. Contracenar com essa molecada me faz perder o profissionalismo, viro criança também ao ver o Cascão, o Cebolinha. E sobre o stand-up, eu fiquei parado na pandemia, mas estou voltando. Em 2021 fiz um espetáculo em inglês para americanos em Nova York e fiz outro esses dias aqui no Brasil. Estou sentindo comichão para fazer mais humor em palco.