Agentes da Guarda Civil Metropolitana dispararam um tiro com bala de borracha em um morador de rua que estava na Praça Marechal Deodoro, na região central de São Paulo, durante uma operação de zeladoria urbana na manhã desta terça-feira, 17. Testemunhas que acompanharam a ação afirmaram que o homem não havia reagido à abordagem e que o disparo foi feito à queima-roupa. A Prefeitura ainda não se manifestou.

A operação teve início por volta das 10h e removeu mais de uma dezena de barracas e móveis como camas e sofás dos moradores de rua que estão há mais de um ano alocados embaixo do Elevado Presidente João Goulart (Minhocão). Testemunhas ouvidas pelo Estadão afirmaram que o homem baleado estava dormindo em uma barraca durante a operação e teria acordado “no susto” enquanto ela era removida.

Segundo Valdemir Alves, o sem-teto não ofereceu resistência à ação de limpeza e os agentes de segurança retiraram os pertences dos moradores de rua com indelicadeza. “Um deles quase encostou o cano na barriga do homem e atirou”, afirma.

O homem baleado, que é conhecido entre os outros moradores da região como “Barra Funda”, foi levado para a calçada na esquina da Rua Pirineus, em frente à praça. Moradores dos prédios no entorno e pedestres que passavam ali conseguiram chamar uma ambulância do Samu que estava parada no semáforo para prestar socorro à vítima.

De acordo com o decreto n.º 59.246, assinado pelo então prefeito Bruno Covas (PSDB) em 2020, as operações e ações de zeladoria urbana devem preservar “direitos e bens de todas as pessoas, incluindo aquelas que se encontram em situação de rua”. Ele também proíbe o uso da violência e “medidas que desrespeitem a integridade física e moral das pessoas em situação de rua”.

O mesmo decreto também proíbe a “subtração, inutilização, destruição ou a apreensão” de pertences da população de rua, tais como “colchonetes, travesseiros, tapetes, carpetes, cobertores, mantas, lençóis, toalhas e barracas desmontáveis”.

No mês passado, a Praça Marechal Deodoro foi cercada com grades pela Prefeitura, na tentativa de diminuir o fluxo de tráfico e a ocupação dos moradores de rua na região. Segundo a Polícia Civil, quatro pessoas foram presas em flagrante por tráfico de drogas e mais de 800g de crack foram apreendidas no local ao longo de dezembro.

A insegurança na Marechal e em outras praças e ruas do centro de São Paulo também aumentou nos últimos meses com a dispersão da Cracolândia. Antes fixo na Praça Princesa Isabel, o fluxo de usuários de drogas se dispersou ao longo de 2022 pelos bairros da República, Barra Funda, Campos Elíseos e Santa Ifigênia.

Menos de uma hora após a operação desta terça-feira, a via abaixo do Minhocão já estava novamente ocupada por barracas e colchões. Questionada sobre o homem atingido e sobre os relatos sobre o recolhimento de pertences de moradores de rua durante a operação, a Prefeitura de São Paulo não se manifestou até a publicação deste texto.