Bailey Sheehan ficou com parte do corpo paralisado. Foto: reprodução CNN.

Especialistas que estudam a arte e a ciência do diagnóstico dizem que, em geral, quando os médicos são apresentados a uma doença rara e intrigante, de difícil diagnóstico preliminar, eles tendem muitas vezes a dizer que é um problema psiquiátrico, especialmente quando se trata de crianças.

Enfrentando a incerteza médica, alguns médicos preferem dizer aos pacientes que tudo está em suas cabeças, ou seja, é um problema mental e não físico.

“Os transtornos mentais se tornam a posição padrão para lidar com a incerteza médica”, disse Allen Frances, ex-presidente de psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Duke. “É difundido e é perigoso.”

O Dr. Mark Graber, presidente emérito da Society for Improve Diagnosis in Medicine, acrescenta: “É uma tendência que os médicos têm quando não conseguem encontrar uma causa física. É ruim. É muito ruim.”

Casal brasileiro luta para tratar doença rara dos três filhos nos EUA

AFM ou Desordem de conversão?

Bailey Sheehan era uma garotinha saudável até 28 de outubro de 2014, quando de repente não conseguiu mover o pescoço, o ombro ou a perna direita.

Um especialista em reabilitação em um hospital infantil disse que a garota não estava realmente paralisada, de acordo com sua mãe, Mikell Sheehan.

O médico disse que a paralisia foi uma reação emocional ao nascimento de sua irmã de quatro meses. Ele diagnosticou Bailey com uma condição mental chamada desordem de conversão.

Sua mãe discordou do diagnóstico. “’Você está com minha filha há 15 minutos e acha que é psicológico? Saia da minha frente’”, lembrou.

O médico então insinuou que a mãe estava instável por ter um bebê novo e não dormir direito. “Ele disse, você sabe, ‘mães com bebês novos não dormem o suficiente’”, disse indignada.

A fim de descobrir o que havia com a filha, a mãe a levou ao pediatra regular de Bailey, que conhecia a menina desde o nascimento, discordou do diagnóstico e fez mais testes. Foi quando a ressonância magnética mostrou que ela tinha Mielite Flácida Aguda (Acute flaccid myelitis -AFM) uma condição rara, mas grave que afeta o sistema nervoso, especificamente a área da medula espinhal chamada substância cinzenta, que faz com que os músculos e reflexos do corpo fiquem fracos.

Armado com o diagnóstico correto, Bailey recebeu tratamento para AFM, incluindo fisioterapia extensiva, e quatro anos depois voltou a andar.

O neurologista Benjamin Greenberg, que acompanhou casos de AFM em todo o país, disse que, mesmo este ano, quando a AFM chegou às manchetes em todo o país, os pais lhe disseram que os médicos erraram a doença e sugeriram que seus filhos estavam fingindo sua paralisia.

“As histórias que posso contar são enlouquecedoras e entristecedoras”, disse Greenberg, professor associado de neurologia do UT Southwestern Medical Center.

Álcool gel evita mais doenças em crianças do que água e sabão, aponta estudo

A experiência de Bailey não é única. Cerca de 1 em 10 crianças ouviram dos médicos que a paralisia estava em suas cabeças quando procuraram atendimento médico pela primeira vez, segundo relato dos pais em uma página oficial sobre a doença no facebook.

Os perigos da falsa certeza

Embora não existam dados que indiquem com que frequência os médicos diagnosticam erroneamente as condições físicas como os psiquiátricos, especialistas no campo do diagnóstico dizem que isso acontece com demasiada frequência.

Geralmente começa quando o paciente tem uma doença rara e os médicos sentem a necessidade de fazer um diagnóstico. “Os médicos se sentem desconfortáveis ​​por não terem respostas”, disse Frances.

No entanto, as consequências podem ser “catastróficas” , segundo o especialista, que ressalta ainda que um diagnóstico incorreto pode levar a um paciente que recebe tratamento para uma doença que não tem e a perder o tratamento para a doença que tem.

A falsa certeza é muito mais perigosa do que a incerteza

Graber, que também é professor emérito de medicina na Universidade Stony Brook, em Nova York, disse que parte do problema é que os estudantes de medicina aprendem que os sintomas físicos às vezes têm uma base psicológica. Isso é verdade, disse ele, mas os médicos precisam testar exaustivamente os problemas físicos antes de entrar em um diagnóstico psiquiátrico.

“Os médicos têm a obrigação de fazer uma investigação completa antes de se voltarem para uma explicação psicológica”, disse ele. “Quando um médico não consegue encontrar uma causa, é um ótimo momento para obter uma segunda opinião ou consultar um especialista”, alerta.

A American Medical Association e o American College of Emergency Physicians recusaram pedidos de comentários feitos pela CNN.

O post Médicos diagnosticam doenças físicas raras como transtorno mental apareceu primeiro em .

Fonte: Gazeta News