Eu hoje poderia estar numa Olimpíada. Não competindo, pois não tenho mais idade pra isso, mas talvez como comentarista de TV ou, pelo menos, ajudando a carregar a tocha. A não ser que o COI resolva promover a Olimpíada da terceira idade. Tenho condições etárias de jogar na equipe mirim de futebol de idosos, a seleção sub-60.
Na época da adolescência, como reação à impossibilidade de brilhar nas quadras e nas pistas – e decepcionado com as rigorosas aulas de piano – me refugiei atrás do violão, o que desenvolveu em mim uma musculatura especial. Nas mãos. Tenho dedos finos, ágeis, velozes, cheios de destreza. Como não encontrei nenhum esporte onde pudesse usar tanta habilidade – fora bolinha de gude – coloquei tudo isso a serviço de uma boa causa: a música popular. Mais recentemente, acrescentei ao uso do teclado do computador algumas técnicas aprendidas naquelas aulas de piano e enveredei pela literatura.
Ao longo da minha vida, conquistei várias medalhas e troféus, sempre em concursos de música ou literatura. Festival de música é uma competição esquisita, onde se escolhe a melhor canção. Como isso é uma questão de gosto, e gosto é relativo, sempre sai um resultado questionável. Por isso, muitas vezes se ouve a gritaria de “marmelada”. Nas competições esportivas é simples saber quem leva o ouro, a prata e o bronze. É fácil medir quem chega na frente. Metros, centímetros, minutos, segundos ou quantidade de gols. Em arte, a coisa é subjetiva. Ou seja, pode ser marmelada.
Ainda tenho esperança de um dia receber um troféu indiscutível, desses que se consegue nas competições esportivas. Por isso, comecei a fazer exercícios físicos, no aguardo da confirmação da Olimpíada da terceira idade.
Mesmo assim, pra não pagar mico, vou procurar me inscrever em uma modalidade que não chame muito a atenção do público e da mídia, como softbol ou badminton.
Ou, quem sabe, bolinha de gude.
Fonte: Brazilian Voice