Quando Jacqueline Burgarelli teve seu primeiro filho, aos 20 anos, jamais poderia imaginar que hoje, 14 anos depois, seria mãe de uma família tão numerosa. Entre biológicos e adotados, ela e seu marido criam sete filhos, que têm entre 3 e 15 anos. “Nossa família é muito unida, não existem brigas entre irmãos, é um cuidando do outro. Temos raças diferentes, nacionalidades diferentes, mas um único idioma: o amor!”, garante, em entrevista.

Burgarelli nasceu em Colatina, no Espírito Santo, e conheceu seu primeiro marido, que morava nos Estados Unidos, através da internet. Aos 18 anos ela se mudou para Columbus, em Ohio, para se casar, e se tornou cidadã americana. Os dois tiveram um filho, Andre, mas se divorciaram, e menos de um ano depois ela conheceu o policial Jose James, um americano de origem latina que se tornou seu segundo marido e pai de seu segundo filho, Junior.

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O choque que estourou o que ela chama de “bolha da vida perfeita” aconteceu com a morte de seu irmão, que vivia no Rio de Janeiro e era alcoólatra. “Descobrimos que ele tinha dois filhos, que viviam praticamente na rua. Isso me incomodou, pois eu não entendia como meu irmão permitiu que isso acontecesse”, diz. Em contato com a mãe das crianças, ela descobriu que a mulher tinha mais uma filha, e que estava em fase terminal de cirrose.

As três crianças, João, Daniel e Sarah, ficaram aos cuidados da mãe de Jacqueline no Espírito Santo quando a mãe delas morreu. “Eu tinha duas opções: deixava eles serem adotados por estranhos ou os adotava… sacrificamos nossa casa, dinheiro e até saúde para adotar meus filhos”, lembra, ao relatar que o processo levou três anos e que, em 2017, as crianças finalmente chegaram a Ohio.

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“A adaptação para as crianças brasileiras foi muito fácil, eles vieram do nada, então ter tudo aquilo era uma benção. Meu medo maior era com os meus filhos biológicos”, recorda ela, que diz chorar ainda hoje ao lembrar da cena: “Meus filhos pegando os brinquedos, videogames, roupas e sapatos para ver se cabiam neles. O meu filho mais velho, Andre, deu o tour da casa, falava as regras e dizia que eu era doida, mas muito legal. Que eles teriam a melhor mãe do mundo. Ali eu entendi que eles também sacrificaram tudo deles para que os irmãos estivessem em casa. Parecia que eram irmãos de vidas passadas e que finalmente se reencontraram”.

Gêmeos

Quando tudo parecia finalmente nos eixos, um ano após a chegada dos irmãos brasileiros, Burgarelli e o marido souberam, na igreja que frequentam, da história de um casal de crianças de quase 2 anos que seriam adotadas, mas cujos novos pais desistiram do processo após descobrir que a esposa estava grávida. Como a avó, que ficaria com os gêmeos, foi diagnosticada com Alzheimer, eles seriam então levados a um abrigo. Revoltada e penalizada com a situação, a brasileira se ofereceu para dar um lar temporário a Bradley e Alisson, até que surgisse uma nova família disposta a adotá-los.

Os sete filhos de Jacqueline: Sarah, de 15 anos, Andre, de 14, João Paulo, de 11, Junior e Daniel, ambos com 9, e os gêmeos Bradley e Alisson, com três — Foto: Reprodução/Instagram/FamiliaJames

Depois de quatro meses, quando a avó tentou passar um fim de semana com as crianças, mas estas choraram de madrugada pedindo para voltar aos “pais”, a situação começou a ficar clara. “Eu já entendia ali que eles nos escolheram como família, aliás, já éramos uma, eu que não aceitava”, diz. “Logo após esse episódio, a Alisson teve que fazer uma cirurgia nos olhos e foi ali que entendemos de uma vez por todas que já éramos pais deles. A avó dela estava lá, pois era a única pessoa que por lei tinha parentesco com a Alisson. Meu esposo foi educadamente convidado a se retirar da sala e não aceitou muito bem, pois a menina chorava muito vendo ele sair”, conta.

“Quando ela chegou em casa, carregada pelo meu esposo, eu vi nos olhos dele o mesmo brilho de quando nosso filho Junior nasceu. Naquela noite, todos nós pegamos os travesseiros e fomos dormir no chão do quarto dos gêmeos para cuidar da nossa menina”, recorda. “Ao amanhecer, eu comentei com as crianças que não saberia o que fazer para acomodar os gêmeos. Foi quando eu escutei dos meus filhos biológicos: ‘onde comem sete, comem nove’. A Sarah se ofereceu para dormir no quarto do porão e me disse que já não tinha nada que impedisse de a gente ficar com eles”, acrescenta.

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Decidido, o casal enfrentou inclusive os obstáculos dos problemas de saúde de Alisson, que tem autismo e microcefalia. “Acho que ela foi quem mais me desafiou como mãe, pois eu tive que me reinventar, ter criatividade para que a minha filha tivesse a vida mais normal possível. E eu com as graças de Deus consegui! Minha filha hoje fala português e inglês, até demais. Liga para a minha mãe em Colatina querendo saber das fofocas, briga com os irmãos por causa dos biscoitos dela, corre a casa toda, ora e dança”, conta.

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O processo de adoção dos gêmeos, atualmente com 3 anos, ainda não foi finalizado por causa da pandemia de coronavírus, que atrasou os trâmites legais. “Mas todos já são meus filhos e são especiais da maneira deles”, diz Burgarelli, que para receber mais duas crianças adiou novamente o sonho de cursar uma universidade. “Renunciei mais uma vez à minha tão sonhada faculdade de administração, mas quando eu olho nos olhos deles, eu entendo que, por agora, eles precisam viver os sonhos deles e o meu pode esperar mais um pouco”, afirma. “Eu achava que era feliz com dois filhos e descobri que o número da perfeição era o sete. Eu tive que amar duas vezes para amar sete”, conclui.

// Fonte: G1.

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Fonte: Brazilian Press