SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Prestes a lançar a segunda temporada do podcast “Mano a Mano”, o rapper Mano Brown contou como a primeira temporada do programa transformou sua vida e o ajudou a ser visto de uma forma diferente pelo público. O artista disse, em evento para a imprensa, que suas ideias precisam ser passíveis de questionamento e fez uma comparação com a trajetória do ex-presidente Lula -um dos convidados de maior sucesso que já passaram pelo programa.

“Quando eu me coloco em dúvida, eu pago o preço”, afirmou. “As pessoas perguntam: ‘Cadê aquele Brown das ideias que eu aprendi, ele está se questionando?’ Questione-se você também.”

Ele seguiu: “temos que tirar o Lula como exemplo [do questionamento]. O cara que teve quase 80% de aceitação e depois foi preso. Em dez anos, ele virou um ‘bandido’. Esse é o Brasil, memória curta”.

“Temos que saber em que mundo a gente vive. Muitas vezes, é bélico, uma guerra ideológica. Algumas vezes, física mesmo”, acrescentou.

Após o sucesso da primeira temporada do programa no Spotify, Brown retorna com novos episódios a partir do dia 24 de março, próxima quinta-feira. O cantor conta que fazer o podcast tem sido uma oportunidade para ele aprender e continuar estudando.

“Venho aprendendo, saí de uma zona de conforto. Entendo que posso estar me expondo e mostrando fragilidades. Tem que ter uma certa frieza, preciso me resguardar ao que tenho que fazer, e não em focar em mim. Se você tem um grande entrevistado, mas não faz uma boa pergunta, o problema é você.”

Aos 51 anos, o rapper conta que o seu maior desafio, ainda durante o programa, é controlar a ansiedade.

“Não interpelar o convidado e deixá-lo terminar o raciocínio”, revela. “Muitas vezes eu tenho que me conter e não interromper a pessoa, mas também não posso esquecer a pergunta. Às vezes, a pessoa continua, entra em outro assunto interessante e eu não lembro o que iria perguntar”, conta.

Mesmo assim, ele celebra poder mostrar um outro lado de sua personalidade: “no podcast, mostrei o Mano Brown que é muito estudioso, que é fora do óbvio. Eu sempre falei de alguns assuntos que são chavão. No podcast, falo sobre outros assuntos, como teologia, que é algo que eu tenho estudado bastante, mas que não falo na música.”

Essa oportunidade de ser visto de forma diferente, para ele, também tem mudado a percepção pública sobre sua figura.

“Uma coisa que me perturbava era uma situação em que as pessoas me colocavam num lugar muito marginal no imaginário, de um cara ignorante e intransigente. Nunca fui. Nem um, nem outro”, desabafa.

“Não tenho que provar isso, mas comecei a conviver com essa ignorância da minha intelectualidade e inteligência quando comecei a querer saber das coisas. Eu era obrigado a conviver com a alcunha de um cara burro. Agora, muita gente se surpreendeu. As pessoas ficam surpresas ao me ver falando sobre tal e tal assunto.”

Neste sentido, Brown reforça que, mesmo entre os que o compreendem como um ser pensante, ele ainda observa certa resistência. O cantor reforça que, para ele, o caminho é o estudo -e já revela o que espera para o país no futuro: “acredito muito no estudo. Se o Brasil tiver um projeto para a escola… não tem. No Brasil hoje só tem projeto de gado. Se o Brasil não investe no jovem, não pode ter futuro também.”

“O projeto do Brasil para os jovens é escola. Se o Lula ganhar, ele tem que ir para cima disso. Vai ser imperdoável se ele não for para cima disso”, avaliou.

O compositor e membro dos Racionais se orgulha de falar com as gerações mais novas e mais velhas, e conta que sempre instiga os convidados do seu programa a pensarem da mesma forma:

“Temos que falar de forma simples, com uma abordagem prática. O jovem já ouviu tudo de forma romantizada por outras gerações. Hoje, esses assuntos precisam ser abordados de forma mais direta. O convidado tem que saber que esse publico está ouvindo, e esse é o legado: falar com os mais jovens. Se eles não te entenderem, se faça entender.”

O segredo do sucesso? Comunicação clara: “não pode ser uma conversa de professor para aluno, tem que ser de companheiro para companheiro. Eu, apesar da idade, ainda estou em aprendizado. Tem gente mais nova do que eu que sabe muito mais. Emicida é um. Djonga é um. Gente jovem que traz conhecimento, aplica na profissão e, por isso, emerge. O conhecimento tem que ser compartilhado. Nossa função, de gente que está na mídia, é sempre compartilhar, e não concentrar.”

Apesar de não revelar muito sobre os próximos entrevistados da segunda temporada, Brown adianta alguns nomes:

“Dilma está no radar, posso falar? É uma das mulheres mais injustiçadas da história do Brasil. Seu Jorge está no radar, acho que é o próximo a ser gravado. Já gravamos Emicida, foi sensacional. Passou voando. O Emicida com 80 anos, né, eu com 51… foi interessante (risos). Ele é um sábio. Um oráculo.”