Reino Unido procura passageiro que chegou do Brasil

Reino Unido procura passageiro que chegou do Brasil

Autoridades britânicas de saúde estão tentando localizar um viajante que desembarcou na Inglaterra com a nova variante do coronavírus identificada no Brasil.

A linhagem P.1, também conhecida como variante de Manaus, é uma das cepas do Sars-CoV-2 que tem gerado preocupação na comunidade internacional, por tornar o vírus potencialmente mais transmissível.

Ela foi detectada pela primeira vez no Reino Unido neste fim de semana. Foram seis casos diagnosticados — três são de residentes escoceses que voaram do Brasil para Aberdeen via Paris e Londres, e outros dois, também com passagem pelo Brasil, são da mesma família e vivem no distrito inglês de South Gloucestershire. O terceiro caso identificado na Inglaterra é o do “viajante desconhecido”.

O passageiro supostamente usou um kit de teste doméstico e não preencheu o formulário de registro com seus dados pessoais. Assim, as autoridades de saúde britânicas estão fazendo um apelo para que qualquer pessoa que não tenha recebido o resultado de um teste feito em 12 ou 13 de fevereiro ou com um cartão de registro de teste incompleto procure os órgãos de saúde.

Todos os passageiros que estiveram nos voos dos pacientes já rastreados estão sendo contactados pelas autoridades de saúde.

A agência do Departamento de Saúde do Reino Unido, a Public Health England (PHE), informou ainda que a testagem na região de South Gloucestershire está sendo ampliada para verificar se há outros casos com a mesma variante na região.

A médica Susan Hopkins, do serviço público de saúde britânico, o NHS, afirmou que as autoridades de saúde tentam “fechar o cerco” para prevenir a disseminação de novas variantes porque o risco de transmissão aumentaria muito a partir de 8 de março, quando as escolas voltam abrir na Inglaterra, depois de mais de dois meses de lockdown.

O Reino Unido tem um forte esquema de vigilância genômica e epidemiológica e é hoje a nação que realiza o maior número do sequenciamentos genéticos do coronavírus no mundo, cerca de 10 mil por semana. Responde por cerca de 200 mil entre os mais de 600 mil sequenciamentos enviados por cientistas de todo o mundo à plataforma pública Gisaid. O Brasil contabiliza pouco mais de 3,1 mil.

A presidente do Comitê de Assuntos Internos do Parlamento britânico, Yvette Cooper, disse que as autoridades do Reino Unido devem “aprender lições” de como outros países têm lidado com a questão das viagens internacionais durante a pandemia.

Ela disse que há “lacunas e pontos fracos” nas medidas para evitar que novas variantes entrem no Reino Unido e que “medidas mais fortes” são necessárias.

Cooper deu o exemplo da Coreia do Sul, que testa pessoas em aeroportos e fornece transporte fechado para pessoas dos aeroportos para suas casas, de modo que não tenham que usar o transporte público.

Todos os viajantes com destino ao Reino Unido precisam apresentar um teste covid-19 negativo feito no máximo 72 horas antes da partida.

Além disso, no dia 15 de fevereiro, entrou em vigor a regra que obriga residentes vindos de 33 países considerados de alto risco para covid-19 a fazerem uma quarentena de 10 dias em hotéis.

Antes dessa data, os passageiros podiam se isolar em suas casas por 10 dias.

Quanto maior liberdade o vírus tem para circular, maior probabilidade de desenvolver mutações

Variantes de preocupação

A linhagem do coronavírus identificada no Brasil apresenta mutações nos genes que codificam a espícula, a proteína que permite a entrada do vírus nas células humanas e, portanto, pode facilitar a infecção pelo Sars-CoV-2.

Dados divulgados pela Fiocruz no sábado (27/02) indicam que adultos infectados com a cepa têm carga viral até 10 vezes maior, o que reforça a teoria de que ela aumenta a transmissibilidade

Além dela, também são consideradas “variants of concern” — termo usado pelo especialistas para designar as novas linhagens que geram preocupação — uma identificada em dezembro no Reino Unido e outra descoberta na África do Sul.

Assim como a P.1, a B.1.1.7 (Reino Unido) e a 501Y.V2 (África do Sul) têm mutações na espícula. Duas mutações em particular chamam a atenção: a N501Y, presente nas três variantes, e a E484K, encontrada na da África do Sul e na que circula no Brasil.

No caso da N501Y, há indicativo de que ela possa tornar o Sars-CoV-2 mais transmissível — mais contagioso, o vírus poderia levar mais pessoas ao hospital e elevar o número de mortes. Não há indicativo, contudo, de que a mutação resulte em uma versão mais grave da covid-19.

No caso da E484K, estudos têm demonstrado que ela pode dificultar a ação de anticorpos, o que gera uma preocupação em relação a um possível efeito sobre as vacinas.

No início de fevereiro, a África do Sul suspendeu o uso da vacina da Oxford-AstraZeneca depois que um pequeno estudo ainda não revisado por outros cientistas sugeriu que a vacina oferece “proteção mínima” contra casos leves e moderados da variante descoberta no país. Recentemente, a Moderna anunciou já ter desenvolvido uma versão do imunizante especificamente contra a variante.

Mais estudos, entretanto, ainda são necessários para determinar o real impacto potencial das novas variantes sobre os programas de vacinação contra a covid-19.

Nesse sentido, o professor Stephen Powis, da autoridade sanitária NHS England, afirmou que as vacinas poderiam ser “adaptadas rapidamente” para lidar com as novas linhagens.

O professor Graham Medley, membro do Grupo de Aconselhamento Científico para Emergências (Sage), por sua vez, avalia que elas podem ameaçar os planos do Reino Unido de relaxar as restrições.

“Vamos enfrentar essas [variantes] nos próximos seis meses, à medida que avançamos em direção a medidas de relaxamento. Haverá desafios no caminho e sempre há o risco de ter que retroceder, e é isso que ninguém quer “, disse ele hoje.

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Fonte: BBC