Exatos 3 anos depois de ser agredida pelo ex companheiro em Nova York, Luiza Brunet retorna a cidade imbuída de sua nova missão de ativista do combate a violência doméstica.

Ela foi convidada a palestrar no Consulado do Brasil, na rua 41 em Manhattan, para a comunidade radicada nos Estados Unidos. “Depois do meu caso, muitas mulheres se sentiram encorajadas a falar do assunto e denunciar o marido. Tenho muito orgulho da minha história”, diz. Luiza fará uma turnê mundial com palestras, em países como Japão, Itália, Inglaterra e Kenia. “E um movimento irreversível, os homens precisam ter medo antes de levantar a mão.” 

BT- Luiza, o seu caso de violência ficou conhecido por todos  por você ser uma mulher famosa, ter uma história bacana, e uma longa carreira de sucesso no Brasil e no mundo. O que mais doeu nesta história toda?

LB– Saber que tantas mulheres sofrem em um relacionamento abusivo, e não conseguem sair antes de se salvarem. Assim como eu demorei para tomar uma atitude e por um ponto final, o fim de outras mulheres é o feminicídio. Minha intenção é romper este ciclo de violência compartilhando minha história. Quero fazer parte do enfrentamento da violência contra mulheres no Brasil e agora nos Estados Unidos  com as mulheres imigrantes. Abracei esta causa e é uma causa importante para mim na sociedade. Quero ser reconhecida como uma referência e legitimar a verdade de milhares de mulheres. Aquelas que não têm voz.

BT- O que você faria diferente nesta história de violência, lá no começo das agressões?

LB– Poderia ter suportado menos. Creio que é uma situação muito difícil porque nenhuma mulher que sofre no relacionamento, consegue sair imediatamente, mas acredito que chega um momento que é  aquele do “basta”!

Algumas se perdem ao insistirem e podem pagar com a própria vida. Aí é o fim. O último estágio da violência contra mulheres.

BT- Muitos casos de violência contra as mulheres acabam se arrastando e não obtendo justiça por várias razões. No seu caso você obteve a justiça que você esperava?

LB– Sempre acreditei na justiça. Jamais perdi a esperança ou desisti de lutar. 

Quando fui atacada, por haters, e o próprio agressor, me tornei mais forte ainda.  

Suportei muita coisa. Julgamentos terríveis de muita gente que não tinha a menor noção da real história. 

Mas no fim me senti vitoriosa. A verdade prevaleceu. Apenas tive a coragem de relatar para um promotor o que eu sofri. 

A partir daí passei a decisão para a promotoria avaliar, investigar, e aceitar a denúncia.

Houve julgamento e uma pena pelo crime. Precisamos ter paciência pois a justiça tem seu tempo.

BT- Eu tenho uma filha, você tem uma filha, somos muitas mães: qual o melhor conselho de mãe para filha você daria para não passar por situações de violência doméstica?

LB– O que muitas mulheres estão  fazendo: Tem que denunciar! O trabalho, o espaço que jornalistas e os meios de comunicação tem dado é extraordinário e imprescindível.  É preciso conscientizar todas as filhas,  filhos, mulheres, e homens de que isso é crime e que nós, e toda a sociedade, não vamos tolerar esse tipo de comportamento.

Precisamos criar e educar novas gerações, com respeito ao próximo, e principalmente, respeito às mulheres para que homens não pensem em ferir, espancar, ou até mesmo matar suas companheiras.

O Feminicídio é um crime terrível e destruidor. Pensa: uma mulher morta, um homem/pai  preso. 

Lembrando que a pena é de até 30 anos de prisão. E por último, as crianças órfãs, o preço para elas é também muito alto. Perdidas nesta situação, sem entender direito, é um drama que afeta de forma terrível a vida e o desenvolvimento delas deixando um trauma para o resto da vida. 

BT-Depois desta experiência ruim e triste na sua vida, quais são as características importantes em um homem você gostaria de ter como companheiro?

LB– Eu diria que é importante observar o comportamento dele de modo geral. O respeito que ele dedica as mulheres e, principalmente, a própria mulher.  

Um relacionamento que tem na base o respeito, a atenção e a gentileza não dá espaço para atitudes de grosseria que podem resultar em violência. Observar as atitudes e principalmente entender se existe, por exemplo, histórias de violências ou mau tratamentos quanto a, ex mulher, ex companheira, ou ex namorada. Tipos violentos tem sempre um rastro no passado. Quase sempre vão deixar escapar a forma como tratou as exs e isso vem a tona. Se ele foi assim em algum momento, fique atenta, você poderá ser a próxima a ser tratada assim. O modelo de comportamento do homem agressor é sempre o mesmo. 

BT-Como aconteceu o convite para sua participação neste  evento contra a violência doméstica em Nova York?

LB– O convite veio em um momento muito importante, pois nunca se falou tanto quanto agora desse assunto.  

Poder compartilhar minha história, dar esperança e encorajar outras mulheres através do meu depoimento é algo maravilhoso. Fazer parte desta palestra no Consulado do Brasil em NYC, ao lado de pessoas especiais, que querem contribuir para uma sociedade mais justa e humana será um privilégio. Vai de encontro com o meu desejo de alertar as mulheres porque passei por esta situação.  

Precisamos desmistificar de uma vez por todas que, a violência atinge todas as mulheres independente de classe social, cor, ou credo. Estou muito feliz com este convite. 

BT- Qual é a sua rotina quando você não tem compromissos de trabalho?

LB– Minha rotina hoje é muito em função deste tema. Tenho uma agenda até Dezembro repleta de palestras, encontros e conversas com mulheres. Europa , Estados Unidos, e Asia. Assim como em algumas cidades do Brasil.

BT-O quanto te incomoda o passar do tempo? Você vive isso tranquilamente?

LB– Estou muito tranquila. Acho que envelhecer e ter uma ocupação é a melhor opção. Cuidar da saúde e do corpo é necessário.

Qualidade de vida é viver todas as fases em paz com a consciência.

BT- O que vc faz para ficar em forma?

LB– Desde muito jovem sempre fiz muitos exercícios e procurei ter uma alimentação saudável. Não sou adepta de nada radical, porém procuro escolher o que acho que é melhor para mim. Evito frituras, açúcares e refrigerantes. Adoro comer em casa e cozinhar. 

BT- Qual o seu look básico para o dia? 

LB– Me considero uma mulher clássica no vestir. Gosto de calças de alfaiataria, saia lápis, camisas e jeans. Gosto de um Look básico para o dia a dia. Cores neutras, de preferência. 

BT-Cite três coisas que estão na sua lista de desejos? 

BT– Viajar é uma coisa que amo. Poder estar sempre com meus filhos, em família . Lutar para que as leis a favor das mulheres endureçam muito e que possamos nos sentir seguras em uma sociedade respeitosa e livre.

BT- Da sua experiência de trabalho internacional, existe um país especifico que você se sente em casa?

LB– Sou uma mulher curiosa e me adapto fácil com o novo.  Irei ao Japão em Julho, Tokyo, e mais 3 cidades. Justamente para fazer palestras para mulheres . Japão é um país que tenho um carinho muito especial. Vou ficar 15 dias e já programei uma visita a Kyoto . Também irei a Europa, Paris, e Londres, Milão, e Venezia. Sempre para palestrar sobre enfrentamento da violência contra mulheres . Me sinto em casa em Nova York. Cidade cosmopolita e aconchegante.

BT- Dois livros importantes e inesquecíveis para você?

LB– “O diário de uma Gueixa” do Artur Golden. É a fascinante trajetória de uma gueixa. Neste livro fantasiei de conhecer Kioto e realizarei em breve este sonho.

“Trilogia suja de Havana do Pedro Juan Gutierrez”. Adoro a forma como escreve seus livros. Sua própria história já valeria um livro incrível. Ele acumula tantas funções. Além de escritor e pintor, ele é jornalista. Diria que ele tem um realismo sujo. Me fez viajar e fantasiar Cuba através da forma como ele escreve e descreve suas histórias.

“Perdas e Ganhos”  da autora Lya Luft e suas crônicas. 

Me fez  amadurecer e me obrigou a fazer muita faxina nos armários da alma, e nas bolsas também.

Resistir a certas tentações é burrice, mas fugir de outras pode ser um crescimento, e muito mais alegria. 

Ela escreve o que experimentei.

BT- Você é uma mulher linda e que tem muitas histórias de sucesso, uma das realizações  mais importante da sua vida até agora?

LB– Considero que ser mãe é o maior milagre. Quero dizer porém que minha última realização está sendo agora. Poder estar inteira e responder com total confiança você nesta entrevista, me faz  feliz. Tenho  orgulho de quem eu fui e de quem me tornei. Minha responsabilidade como mulher e cidadã é contribuir para  esta causa que abracei confiante.

A mulher, a menina, os filhos da violência, é um assunto delicado, mas que precisa ser falado, precisa ser exposto.

BT- Você faz alguma coleção? Se sim, o que você coleciona?

LB– Não faço nenhuma coleção específica, mas tenho mania de guardar vidros que acho bonitos. Também tenho um apego a determinadas roupas, tenho  um acervo pessoal, vintage, que minha filha Yasmim, de vez em quando, quando me visita, ela usa. 

BT- Você tem algum talento secreto?

LB– Adoraria ter. 

BT- Se você pudesse mudar alguma coisa no seu passado, na sua carreira, ou na sua vida, o que você faria diferente?

LB– Não mudaria nada. Não me arrependo de nada na minha vida. Tenho muitas histórias boas e felizes. E como todo mundo, tenho também histórias ruins.

BT- Qual é o seu mantra Luiza?

LB– O que importa é o presente. Não podemos chorar sobre o leite derramado. Meu lema é,  pegue o papel tolha, limpe e recomece. Com certeza o dia seguinte será melhor. Não se desespere porque tudo passa. 

Muito obrigada pela entrevista e muito sucesso para você.

Fonte: Arilda McClive- Brazilian Times

Fonte: Brazilian Times