China

Crédito, EPA

A China mostrou sua superioridade aérea enviando vários aviões na área recentemente

China e Taiwan — uma das tensões diplomáticas mais antigas e mais sérias do mundo atual — voltaram a trocar farpas nesta semana, após quatro dias consecutivos de aviões chineses tendo voado na zona de defesa aérea taiwanesa.

Esse ato militar por parte da China acendeu uma série de alertas na região, com autoridades e especialistas alertando para possíveis consequências graves, caso as tensões continuem crescendo.

O ministro da Defesa de Taiwan disse que a tensão entre China e a ilha atingiu o pior ponto em 40 anos.

Segundo Chiu Kuo-cheng, a China já teria capacidade militar de invadir Taiwan, mas que até 2025 poderia aumentar ainda mais o seu poderio militar. Um comitê parlamentar de Taiwan está avaliando um projeto de lei bilionário para construção de mísseis e navios de guerra.

As palavras vindas do lado chinês também foram duras. O jornal estatal chinês em língua inglesa Global Times avisou que Taiwan não deve “brincar com fogo”.

A briga diplomática entre China e Taiwan levou outros países a se manifestarem. O presidente dos EUA, Joe Biden, disse ter conversado com o líder chinês, Xi Jinping, que teria concordado em cumprir o acordo que vem garantindo a paz na região.

Na quinta-feira (07/10), o assessor de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse à BBC que o país está “profundamente preocupado” com a tensão entre China e Taiwan.

“Vamos nos manifestar e levantar nossa voz, tanto de forma privada quanto publicamente, quando virmos atividades que são fundamentalmente desestabilizadoras”, disse Sullivan em Bruxelas, na quinta-feira, um dia depois de se encontrar com o principal diplomata chinês na Europa, Yang Jiechi.

Questionado sobre se os EUA estavam preparados para tomar medidas militares para defender Taiwan, Sullivan disse: “Deixe-me apenas dizer uma coisa, vamos agir agora para tentar evitar que esse dia chegue”.

Questionado sobre se os EUA estão relutando em usar a força após sua recente retirada do Afeganistão, Sullivan disse que é “um erro enorme tentar tirar lições” desse conflito.

“Tentar dizer que sair do Afeganistão de alguma forma diz a qualquer país qualquer coisa sobre a profundidade e o nível de compromisso que os EUA têm em outros lugares é um erro grave.”

Sullivan disse que a China vai “defender firmemente sua perspectiva do mundo”.

E acrescentou: “Cabe a nós, como EUA, trabalharmos com aliados e parceiros para deixar claro onde estamos, defender nossos amigos, defender nossos interesses … E é isso que pretendemos fazer. “

O que aconteceu?

Na semana passada, a China enviou cerca de 150 aviões de guerra para a zona de identificação de defesa aérea de Taiwan (sigla ADIZ, em inglês), algo que jamais havia sido feito nessa escala antes. Nos últimos anos, a China já vinha aumentando esse tipo de atividade, com exercícios militares frequentes em áreas marítimas próximas da ilha.

Muitas pessoas especulam que a China está estudando formas de invadir Taiwan — algo que poderia demorar décadas ou apenas alguns anos para acontecer. As incursões dos aviões chineses seriam parte desse exercício e planejamento.

China e Taiwan foram divididos durante uma guerra civil na década de 1940, mas Pequim sempre disse que a ilha seria recuperada pelos chineses em algum momento da história. E à força, se necessário.

Muitos especulam também que Taiwan possa vir a declarar formalmente sua independência. Mas a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, disse que não pretende adotar tal medida, pois Taiwan “já é uma nação soberana”.

No entanto, Ing-wen disse que uma tomada chinesa teria “consequências catastróficas” para a paz regional e para o sistema de alianças democráticas.

Como funcionam as relações entre Taiwan e a China?

Em 1949, ao final da guerra civil chinesa, os nacionalistas derrotados (conhecidos como Kuomintang) fugiram para Taiwan e montaram um governo na ilha. Os comunistas vitoriosos batizaram a parte continental de República Popular da China.

Ambos os lados dizem representar toda a China.

Inicialmente, muitos governos, incluindo os EUA, reconheceram Taiwan em vez da China comunista.

Mas nos anos 1970, quando tanto a China como os EUA estavam em tensão com a União Soviética em meio à Guerra Fria, houve uma mudança nas relações.

Americanos e chineses se aproximaram, o que resultou nos EUA e outros países cortando laços oficiais com Taiwan em 1979, e passando a reconhecer o governo de Pequim.

A embaixada em Taipé foi fechada, mas os laços não foram completamente rompidos. Em 1979, os EUA aprovaram a Lei de Relações com Taiwan, que garante apoio à ilha, inclusive com venda de armas para que os taiwaneses possam se defender.

Os EUA mantêm uma presença não oficial em Taipei por meio do Instituto Americano em Taiwan, uma entidade privada por meio da qual desenvolve atividades diplomáticas.

O que é a ‘Política de Uma China’?

A Política de Uma China é o reconhecimento diplomático internacional de que existe apenas um governo chinês — a visão defendida pelo governo sediado em Pequim. Dentro dessa política, que é seguida pelo Brasil, EUA e pela maioria dos países do planeta, os governos estabelecem laços formais com a China, e não com a ilha de Taiwan.

Taiwan é considerada pela China como uma província rebelde, que será totalmente reintegrada um dia à China.

A política de Uma China é a base das relações China-EUA. É também um alicerce fundamental da formulação de políticas e da diplomacia chinesas.

Embora o governo de Taiwan afirme ser um país independente oficialmente chamado de “República da China”, qualquer país que deseje relações diplomáticas com a China continental precisa romper os laços oficiais com Taipei.

Isso resultou no isolamento diplomático de Taiwan da comunidade internacional.

A política de Uma China é uma tentativa da diplomacia americana de estabelecer um delicado equilíbrio na região, e vem se sustentando há décadas, apesar de diferentes momentos de tensão.

O que acontece agora?

Vários aliados ocidentais de Taiwan expressaram preocupação com os incidentes dos últimos dias. Biden disse que a Política de Uma China deverá ser respeitada.

“Falei com o [Sr.] Xi sobre Taiwan. Concordamos … respeitaremos o acordo de Taiwan”, disse o presidente Biden. “Deixamos claro que não acho que ele deva fazer outra coisa senão cumprir o acordo.

Para o correspondente da BBC na China, Stephen McDonell, os dois lados da tensão tentam evitar agora que haja algum incidente militar acidental que piore ainda mais a situação.

“Muitas pessoas, especialmente as que vivem em Taiwan, esperam que Xi Jinping tenha assumido compromissos com Joe Biden da maneira que o presidente dos EUA relatou que ele fez – e que uma solução sangrenta através do Estreito não está sendo considerada uma opção séria.”

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Fonte: BBC