Evento teste da Olimpíada de Inverno da China, que vai ocorrer em 2022

Crédito, Reuters

Evento teste da Olimpíada de Inverno da China, que vai ocorrer em 2022

O governo norte-americano anunciou nesta segunda-feira (06/12) que não mandará representação diplomática ou oficial para os Jogos Olímpicos e a Paralimpíada de Inverno de Pequim, a serem realizados a partir de 4 de fevereiro de 2022. A decisão não impede a participação dos atletas dos Estados Unidos nas competições.

A porta-voz da Casa Branca cita como razão para o boicote diplomático “o genocídio e os crimes contra a humanidade em curso em Xinjiang e outros abusos de direitos humanos”. Segundo Jen Psaki, Washington continuará “a tomar ações para levar a avanços nos direitos humanos na China”.

A China detém membros da etnia muçulmana uigur em campos onde há acusações de tortura, trabalho forçado e abuso sexual. Pequim nega acusações de abuso e diz se tratar de instalações de “reeducação” usadas para combater o terrorismo.

Antes mesmo do anúncio, Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, classificou como “arrogância” a intenção dos EUA de não enviar representantes para o evento esportivo e disse que se tratava de uma “provocação política direta” que poderá respondida por Pequim com “firmes contramedidas”. Nenhuma ação foi especificada.

Em novembro último, o presidente Joe Biden já havia adiantado a possibilidade de determinar um boicote diplomático dos EUA aos jogos de inverno que serão realizados na capital chinesa.

A chancelaria chinesa declarou que a proposta de um boicote diplomático, confirmada nesta segunda-feira, só destaca “o desenvolvimento econômico e a proeza tecnológica” do país.

O anúncio ocorre a poucos dias do “Encontro pela Democracia” que será promovido pela Casa Branca em formato virtual nas próximas quinta e sexta-feira. A intenção, segundo o governo Biden, é “anunciar compromissos individuais e coletivos, reformas e iniciativas para defender a democracia e os direitos humanos dentro e fora (dos EUA)”.

Em março de 2021, um esforço coordenado pela União Europeia, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá determinou sanções à China pela situação dos uigures. As medidas incluem proibições de viagens e congelamento de bens.

A tensão nas relações EUA-China vem aumentando. Outro ponto de preocupação é a ameaça para os próximos anos de uma invasão militar de Taiwan, considerada por Pequim uma “província rebelde” e que é alvo de planos de reunificação ao território. Autoridades chinesas alertam que o envolvimento norte-americano na causa taiwanesa é “brincar com fogo”.

As acusações sobre Xinjiang

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Membros da minoria étnica uigur protestam em Istambul (Turquia), em outubro, contra a China

Estima-se que mais de um milhão de uigures e pessoas de outras minorias tenham sido detidos em campos em Xinjiang, que fica no noroeste da China e é a maior região do país. Como o Tibete, a área é autônoma, o que significa, em teoria, que tem alguns poderes de autogoverno.

Mas, na prática, ambos enfrentam grandes restrições por parte do governo central chinês.

Os uigures que vivem na região falam sua própria língua, semelhante ao turco, e se consideram cultural e etnicamente próximos das nações da Ásia Central.

O governo chinês foi acusado de realizar esterilizações forçadas em mulheres uigures e de separar crianças de suas famílias.

Uma investigação da BBC publicada em fevereiro mostrou relatos em primeira mão de estupro sistemático, abuso sexual e tortura de detidas.

Uma mulher testemunhou que as mulheres eram retiradas de suas celas “todas as noites” e estupradas por um ou mais homens chineses mascarados. Um ex-guarda de um dos campos, que falou sob condição de anonimato, descreveu a tortura e a privação de comida de presidiárias.

Com a cobertura sobre uigures e coronavírus, a China proibiu as transmissões de TV da BBC World News no país.

O país inicialmente negou a existência dos campos, antes de defendê-los como uma medida necessária contra o terrorismo. E negou as acusações de abusos de direitos humanos.

Uma outra investigação feita pela BBC mostrou que a China está obrigando centenas de milhares uigures e membros de outras minorias étnicas a realizar trabalhos manuais extenuantes nos vastos campos de algodão da região de Xinjiang.

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Fonte: BBC