Progressão geométrica. Talvez os leitores se lembrem de quando estudaram esse conteúdo da matemática no ensino fundamental. Mas o que ele tem a ver com o novo coronavírus? Os epidemiologistas dizem que tudo.

Os departamentos de saúde pública em todo o mundo estão trabalhando incansavelmente para responder à pandemia do COVID19 – o novo coronavírus (SARs-CoV-2), causador da doença respiratória covid-19, que se propaga mais rápido do que seu predecessor o SARS -Severe acute respiratory syndrome- (SARS-CoV), e até melhor do que a gripe.

Pois bem. Há uma geometria da pandemia. A propagação rápida e contínua do vírus é o que preocupa. A regra que os epidemiologistas aprenderam e tem divulgado para esse tipo de crise é a do 80/15/5. Cerca de 80% dos casos de infecção são leves e não necessitam de hospitalização. outros 15% podem precisar de internação sem UTI e menos de 5% precisam de suporte intensivo. São porcentagens, e por isso somam 100%.

80/15/5 é o ponto para entender as medidas que o Governo está tomando. O mais provável é que o coronavírus cedo ou tarde infecte a maior parte da população mundial. Mas se o vírus irá contaminar a quase todos nós, por que se empenhar em deter sua propagação? Não é isso que passa pela sua cabeça?

O óbvio precisa ser desenhado algumas vezes e nessa pandemia não tem sido diferente em todos os países. O objetivo do estado de emergência declarado pelos governos não é proteger uma pessoa somente, mas a maior parte da população.

Com o número global de pessoas idosas – com 60 ou mais anos de idade – projetado para aumentar de 962 milhões em 2017 para 1,4 bilhão em 2030 e 2,1 bilhões em 2050, quando todas as regiões do mundo, exceto a África, terão quase um quarto ou mais de suas populações com 60 anos de idade ou mais? Sendo os idosos, enfermos e portadores de doenças crônicas os mais vulneráveis?

Pois o alarde que muitos falam é a decisão mais sábia tomada pelas autoridades e é voltada, principalmente para que o sistema de saúde não entre em colapso. De acordo com os cálculos geométricos analisados pelos epidemiologistas, 5% de 100 infectados são 5 pacientes na UTI. 5% de um milhão de infectados são 50.000 pacientes na UTI. Nenhum sistema de saúde pode suportar isso e as medidas são necessárias para aplanar a curva de contágio.

A maioria dos hospitais ao redor do mundo está testando o COVID19 apenas em pacientes gravemente doentes e sendo admitidos no hospital com suspeita do vírus ou nenhum deles. Há histórias de pacientes com doença leve a moderada, que não requerem admissão no hospital, que estão sendo recusados para exames em departamentos de emergência e centros de atendimento de urgência e sendo orientados a ir ao departamento de saúde local.

No entanto, pesquisadores chineses e norte-americanos usaram os dados de infecção das primeiras semanas para estabelecer um modelo da evolução temporal e espacial do coronavírus primeiro em Wuhan, foco inicial da pandemia, e depois em outras 375 cidades chinesas.

O modelo matemático, publicado na revista Science, revelou que, a maioria dos contágios era causada por infectados não detectados. Só depois do confinamento estes contagiados invisíveis reduziram seu potencial pandêmico. O modelo matemático aplicado aos primeiros doentes mostrou que os casos mais leves foram cruciais no início da pandemia.

Ou seja, quanto menos pessoas infectadas, menos sobrecarregados ficam os hospitais e leitos. Assim, é possível tratar mais pacientes e evitar mais mortes. É preciso entender que, no fim, o número de infectados pode ser o mesmo, mas o grau de mortalidade depende muito dos atendimentos de casos mais graves.

Sendo assim, os isolamentos e as quarentenas recomendadas pelas autoridades atrasam a propagação do vírus, permitindo que os sistemas de saúde lidem com seus efeitos. Não é para proteger uma pessoa, mas sim várias. E de preferência aqueles que mais precisam.

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Fonte: Gazeta News