Naftali Bennett

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Naftali Bennett ao lado da mulher, Gilat, em foto de 2013; ex-aliado de Netanyahu pode ocupar seu lugar

Por 12 anos, Israel teve uma certeza: Benjamin Netanyahu como primeiro-ministro. Mas um grupo improvável de políticos concordou em tentar formar uma coalizão que pode finalmente derrubá-lo, tornando o milionário de direita Naftali Bennett o próximo líder de Israel.

E assim o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pode finalmente deixar o cargo.

Por 12 anos, ele conseguiu permanecer no poder, esquivando-se das tentativas de destituí-lo e desviando de um julgamento por corrupção.

Mas agora, um grupo improvável de rivais políticos, de ultranacionalistas a islâmicos árabes, se uniram com um objetivo comum: finalmente derrubar o “Rei Bibi”, como o primeiro-ministro é conhecido.

Se as negociações forem bem-sucedidas, dois homens se revezarão como primeiro-ministro durante dois anos cada um.

O primeiro a assumir será o ex-aliado de Netanyahu, Naftali Bennett. E então ele será sucedido por seu parceiro de coalizão, Yair Labid.

Até a conclusão desta reportagem, os dois ainda estavam negociando para assegurar uma coalizão.

O prazo termina nesta quarta-feira (2/6).

Isso significa que o voto de confiança para o novo governo seria marcado para a próxima quarta-feira (9/6), o mais tardar.

Caso nenhum acordo final seja alcançado, o presidente do Knesset (Parlamento israelense) poderia informar formalmente o Parlamento sobre o novo governo na segunda-feira (7/6), efetivamente adiando a votação por mais uma semana.

Mas quem é Benett?

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Em 2019, Bennett era ministro da Defesa no governo de Netanyahu (à esq)

Milionário de direita

Quando entrou na política, Naftali Bennett era colega de Benjamin Netanyahu, e até seu protegido.

Ele serviu como conselheiro de Netanyahu, foi seu assessor-sênior e chefe de gabinete. Ele também dirigiu os ministérios de Educação e Defesa em governos recentes de Netanyahu.

Ideologicamente, ele está muito mais próximo do primeiro-ministro do que de seus parceiros na coalizão proposta.

Como Netanyahu, ele é um direitista, “e se orgulha disso”, como costuma dizer.

Em algumas questões, ele é considerado ainda mais à direita do que seu ex-chefe, algo com que ele concorda.

Ele disse recentemente ao jornal local Times of Israel: “Sou mais direitista do que Bibi, mas não uso o ódio ou a polarização como uma ferramenta”.

De um lado, ele rejeita abertamente a ideia de um Estado palestino independente na Cisjordânia e em Gaza.

“Eu não daria outro centímetro para os árabes”, disse ele em 2018. “Temos que abandonar a ideia de que, se dermos a eles mais território, o mundo nos amará.”

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Bennett é forte defensor dos polêmicos (e considerados ilegais pela lei internacional) assentamentos judaicos na Cisjordânia e em Jerusalém

Ele é um ex-líder do Yesha, o principal movimento de colonos na Cisjordânia, e fez disso uma parte importante de sua plataforma política.

Mas Bennett nem sempre foi um político. Antes de entrar na política no início dos anos 2000, o filho de imigrantes de São Francisco ganhou milhões trabalhando na indústria de tecnologia.

Ele criou uma start-up em 1999 e acabou vendendo sua empresa de software antifraude, Cyota, por US$ 145 milhões (R$ 745 milhões).

Ele agora é o líder de um partido de direita chamado Yamina (“à direita”, em hebraico), que, apesar de ficar em quinto lugar e apenas ganhar sete cadeiras nas últimas eleições, se tornou um improvável “fazedor de reis”.

Bennett e Bibi: aliados dos rivais

Apesar de sua longa relação de trabalho, Netanyahu e Bennett não são mais aliados.

A dupla teria se desentendido no final dos anos 2000, depois que Naftali Bennett deixou seu cargo de assessor-sênior.

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Bennett participou do gabinete de vários dos governos de Netanyahu

Apesar de um racha público, eles continuaram trabalhando juntos em governos posteriores de coalizão. Bennett inclusive ocupou vários cargos de confiança, incluindo, mais recentemente, o Ministério da Defesa.

Esta é a primeira vez que Bennett desafia formalmente seu antigo mentor, e Netanyahu não encarou isso de maneira amistosa.

“Não há uma pessoa no país que teria votado em você, se te conhecesse”, disse o primeiro-ministro quando a coalizão foi anunciada.

Não escapa de controvérsias

Fluente em inglês e íntimo da mídia, ele frequentemente aparece em redes de TV estrangeiras, defendendo as ações de Israel.

Mas ele não é estranho a comentários controversos ou rejeita o contraditório.

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Yamina, o partido de Bennett, só tem 7 assentos no Parlamento, mas detém a balança de poder

Em um debate na televisão de seu país, uma vez ele advertiu um membro do parlamento árabe israelense: “Quando você ainda se balançava em árvores, tínhamos um Estado judeu aqui”.

Ele também chamou a formação de um Estado palestino de “suicídio” por Israel.

“Mesmo que o mundo nos pressione, não vamos cometer suicídio voluntariamente”, disse ele em 2015.

Quem mais está nesta coalizão contra Netanyahu?

Trata-se de um grupo improvável.

Ao lado de Bennett está Yair Lapid, um ex-âncora de um programa popular de notícias da TV e recentemente nomeado chefe da oposição. Ele é a pessoa encarregada de formar uma coalizão governamental.

Lapid é muito mais centrista e, ao contrário de seu parceiro de coalizão, apoia uma solução com dois Estados.

Segundo o acordo proposto, Lapid assumirá o posto de primeiro-ministro após os dois anos de Bennett no poder.

Outro nome notável entre os oito partidos da coalizão é o de Avigdor Lieberman, um polêmico nacionalista de extrema-direita que certa vez sugeriu que membros “desleais” da minoria árabe do país deveriam ser decapitados.

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Yair Lapid (esq) e Naftali Bennett planejam ficar dois anos cada no cargo de premiê

A coalizão também precisaria do apoio indireto do Ra’am, um pequeno partido de islâmicos árabes. Em troca, o partido quer proteção para estilos de vida muçulmanos conservadores e mais financiamento para cidades dominadas por árabes.

Seria o primeiro partido liderado por árabes a participar de um governo de coalizão em Israel.

Então, o que todos esses grupos tão diversos têm em comum? Praticamente nada, exceto um desejo comum de expulsar Netanyahu.

Se destituído, o primeiro-ministro perderia seu emprego. Enquanto o julgamento por suborno, fraude e quebra de confiança, que ele acusa de ter motivação política, ganharia força.

Netanyahu descreve a coalizão como uma ameaça à segurança de Israel, e há muitos motivos para ela falhar.

O objetivo em comum dela é poderoso, entretanto.

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Fonte: BBC