Falta informação e cruzamento de dados. Também faltam testes. Os números divulgados sugerem que a contabilidade das mortes realizada pelo Ministério da Saúde no Brasil, que até a tarde de quarta-feira, 21, chegou a 2.906, não representa a realidade. Está subestimada. Assim como o número de infectados.

A impressão é de que o impacto da pandemia no Brasil já está sendo e vai ser menor do que em outros países. Numa visão mais otimista, acredita-se que as medidas de isolamento que foram adotadas em todo o país, mas de forma desigual, sabemos, começaram a surtir efeito e contribuíram para achatar a curva de contágio.

Mas, infelizmente, não é bem assim que tem ocorrido essa pandemia mundo afora. O pico de transmissão no Brasil ainda está por vir. Pelo menos é o que apontam as previsões: Final de abril até maio. Em alguns estados, como Minas Gerais, a previsão já mudou para o final de maio. Ou seja, o real impacto é que pode estar sendo achatado, e não a curva de contágio na realidade.

“Não se trata apenas da dificuldade em avaliar o total de casos, em virtude da falta de testes ou da profusão de pacientes assintomáticos. Há subnotificação provável no próprio número de mortes, em tese a estatística mais objetiva, mais fácil de apurar e menos sujeita à controvérsia’, analisa Helio Gurovitz, diretor de redação da revista Época.

Segundo Gurovitz, os números da Fiocruz ainda são estimados, sujeitos a alteração. “Consideram as mortes por aquilo que os médicos chamam de Síndrome Respiratória Aguda Grave (ou SRAG), uma condição cujos sintomas são semelhantes aos da Covid-19, mas que também engloba gripes e doenças respiratórias causadas por outros tipos de vírus”.

Por que a simples soma de casos não explica a evolução da doença? Segundo Vítor Sudbrack, mestrando do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (IFT-Unesp) e membro do Observatório Covid-19 BR, em entrevista ao G1, o motivo é que, em uma epidemia, a doença se espalha pelo contágio, por isso, o número de novos casos depende do número de casos já existentes.

“Epidemias são exemplos de reação em cadeia: quanto mais pessoas estão infectadas, mais pessoas se infectam. Então de cada pessoa infecta outras 3, iríamos de 1 para 3, para 9, para 27… assim por diante”, explicou Sudbrack.

A falta de informação relevante e precisa sobre a doença em todos os estados, ou pelo menos naqueles mais atingidos, e o cruzamento dessas informações com o Ministério da Saúde, universidades, Fiocruz e outros órgãos que acompanham a pandemia, dificulta saber qual a realidade.

Pesquisadores alertam há semanas que o estado de São Paulo, o mais afetado, ainda não consegue rastrear adequadamente o crescimento da doença por causa da fila de testes da Covid-19.

Para tentar sanar essa dúvida de quantas pessoas realmente estão infectadas e obedecendo recomendação da OMS, as autoridades de saúde começam a testagem em massa em alguns lugares. Em Brasília, por exemplo, um total de 100.000 testes devem ser realizados até a sexta-feira, 24, em cinco pontos drive-thru da capital, o equivalente a 3,3% da população do Distrito Federal (3 milhões).

Em São Paulo, mais de 1 milhão de testes de Covid-19 transportados pela DHL Global Forwarding encomendados pelo Instituto Butantan serão utilizados pelo Governo no combate ao coronavírus.

A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas, anunciou, na terça-feira, 21, o envio ao Brasil de 10 milhões de testes PCR para detecção do novo coronavírus, considerado o mais eficaz para o diagnóstico da doença.

Caso seja ampliado mesmo o número de testes na população e melhorado o repasse de informações das cidades – consequentemente dos estados-, ao Ministério da Saúde, a subnotificação dos casos vai diminuir e poderemos ter uma noção mais realista do impacto da COVID-19 no Brasil.

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Fonte: Gazeta News