SÃO PAULO, SP 9FOLHAPRESS) – O Irã acusou os Estados Unidos de se valer dos protestos que, ao longo dos últimos dez dias, mobilizaram milhões de pessoas pelo país, para tentar desestabilizar o regime.

“Washington está sempre tentando enfraquecer a estabilidade e a segurança do Irã, embora não tenha tido sucesso”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Nasser Kanaani, em comunicado divulgado nesta segunda-feira (26).

Diversas cidades iranianas têm tido manifestações contra o governo, quase sempre violentas, desde a morte recente de Mahsa Amini sob custódia policial. A mulher de 22 anos foi detida em Teerã pela polícia moral acusada de não usar o hijab, o véu que cobre os cabelos -o Irã proíbe também o uso de calças rasgadas e roupas brilhantes.

Em sua conta no Instagram, Kanaani acusou os líderes dos EUA e de alguns países europeus de abusar do que chamou de “um trágico incidente” para apoiar manifestantes e ignorar a presença de milhões de pessoas nas ruas e praças do país favoráveis ao regime.

Na semana passada, Washington impôs sanções à polícia iraniana por alegações de abuso de mulheres, dizendo que responsabilizava a unidade pela morte de Amini. Em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, o presidente americano, Joe Biden, elogiou as mulheres do Irã, a quem chamou de corajosas.

A morte de Amini vem gerando cada vez mais represália internacional. Nesta segunda, o Canadá disse que vai aplicar sanções a dezenas de autoridades e entidades iranianas, incluindo as forças de segurança.

“Juntamos nossas vozes, as de todos os canadenses, com as de milhões de pessoas ao redor do mundo exigindo que o governo iraniano ouça seu povo, acabe com a repressão de liberdades e direitos e permita que mulheres e todos os iranianos vivam suas vidas e se expressem pacificamente”, afirmou o primeiro-ministro Justin Trudeau, em entrevista coletiva.

Também nesta segunda, a Alemanha convocou o embaixador iraniano em Berlim. Questionado sobre a possibilidade de novas sanções a Teerã em resposta aos protestos, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores alemão disse que o país vai considerar “todas as opções” junto com outros membros da União Europeia.

No domingo (25), o Irã convocou os embaixadores britânico e norueguês a respeito do que chamou de interferência e cobertura hostil da imprensa sobre as manifestações, as mais violentas a tomarem as ruas do país desde 2019, quando levantes contra o aumento do preço dos combustíveis resultaram em ao menos 1.500 mortos.

Desta vez, pelo menos 41 já perderam suas vidas nos protestos, informou a televisão estatal iraniana, sendo a maioria de manifestantes e o restante de oficiais das forças armadas. A ONG Direitos Humanos do Irã, sediada na Noruega, porém, coloca a contagem em 76 mortos, mas destaca que os cortes de internet promovidos pelo governo do aiatolá Ali Khamenei dificultam a confirmação do balanço dos protestos.

Até agora, mais de 1.200 pessoas foram presas pelas forças de segurança na região norte do Irã, segundo contagem das autoridades locais divulgada nesta segunda. Cerca de 450 das detenções se deram em Mazandaran e mais de 700 na província vizinha de Gilan. Não há dados sobre as outras regiões.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas informou que 18 repórteres foram detidos desde o início dos protestos.

Os atos são marcados pela forte participação feminina -as mulheres têm queimado seus véus em fogueiras ou cortado o cabelo, em desafio ao código de vestimenta islâmico vigente no país.

As forças de segurança usaram balas letais e de borracha, de acordo com grupos de defesa dos direitos humanos, enquanto os manifestantes respondem com pedras, queimam viaturas policiais e incendiam prédios públicos.

O governo tem patrocinado manifestações para conter a crise, organizando comícios em várias cidades em apoio ao uso do hijab. O presidente Ebrahim Raisi afirmou que o país garante a liberdade de expressão e que a morte de Amini será investigada.