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O ataque de 14 de fevereiro que matou mais de 40 soldados indianos foi um dos mais mortíferos em décadas

O Paquistão anunciou nesta quarta-feira que derrubou dois caças e capturou um piloto da Força Aérea indiana em meio à escalada da tensão entre as duas potências nucleares na região da Caxemira.

O ataque aconteceu um dia depois de a Índia ter lançado um bombardeio aéreo contra um campo de treinamento de militantes paquistaneses – uma retaliação ao atentado que matou mais de 40 soldados indianos há menos de duas semanas.

A ofensiva do dia 14 de fevereiro é considerada a mais mortífera em três décadas de insurgência contra a administração indiana na Caxemira.

Mas afinal, como começou a disputa pela Caxemira?

Quantos anos tem a disputa?

Mesmo antes de a Índia e o Paquistão conquistarem sua independência da Grã-Bretanha em agosto de 1947, a Caxemira era intensamente disputada.

Pelo plano de divisão territorial apresentado pelo Parlamento britânico, a Caxemira estava livre para aderir à Índia ou ao Paquistão.

O marajá (governante local), Hari Singh, escolheu a Índia – e uma guerra de dois anos eclodiu naquele mesmo ano.

Uma nova guerra se seguiu em 1965, e em 1999 a Índia travou um breve, porém feroz conflito com as forças paquistanesas.

Àquela altura, os dois países já haviam se declarado potências nucleares.

Por que há tanta instabilidade na região controlada pela Índia?

A população do Estado de Jammu e Caxemira, que pertence à Índia, é mais de 60% muçulmana – sendo o único Estado indiano em que os islâmicos são maioria, e não os hindus.

Muitas pessoas que vivem nesta região não querem que o território seja governado pela Índia, preferindo a independência ou a adesão ao Paquistão.



A alta taxa de desemprego e as denúncias do uso de táticas violentas pelas forças de segurança para enfrentar manifestantes nas ruas e lutar contra insurgentes agravaram o problema.

As rebeliões no Estado foram atenuadas desde 1989, mas a região testemunhou uma nova onda de violência após a morte do líder rebelde Burhan Wani, de 22 anos, em julho de 2016. Ele liderava um grupo contrário ao controle da Índia e morreu em uma batalha com as forças de segurança, provocando protestos em massa.

Wani – cujos vídeos nas redes sociais eram populares entre os jovens – é considerado o responsável por revitalizar e legitimar a imagem da militância na região.

Milhares de pessoas compareceram ao funeral dele, realizado em Tral, sua cidade natal, localizada a cerca de 40 quilômetros ao sul da capital Srinagar.

Após a cerimônia, os participantes entraram em confronto com as tropas militares, iniciando uma onda de violência que durou dias. Mais de 30 civis morreram e vários ficaram feridos. Desde então, episódios esporádicos de violência foram registrados no Estado.

Mais de 500 pessoas foram mortas em 2018 – incluindo civis, membros das forças de segurança e militantes – o número mais alto de vítimas em uma década.

Não havia esperança de paz logo após a virada do século?

De fato, a Índia e o Paquistão concordaram com um cessar-fogo em 2003, após anos de derramamento de sangue ao longo da chamada Linha de Controle, que divide a região entre a Caxemira paquistanesa e a indiana.

Mais tarde, o Paquistão prometeu parar de financiar rebeldes no território, enquanto a Índia ofereceu anistia a quem renunciasse à militância armada.

Em 2014, um novo governo indiano chegou ao poder prometendo adotar uma linha dura contra o Paquistão, mas também demonstrou interesse em manter as negociações de paz.


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Sharif e Modi (E) prometeram um acordo de paz em 2014

Nawaz Sharif, então primeiro-ministro do Paquistão, chegou a participar da cerimônia de posse de seu colega indiano, Narendra Modi, em Nova Déli.

Mas, um ano depois, a Índia culpou grupos paquistaneses por um ataque à sua base aérea em Pathankot, no norte do Estado de Punjab. Modi também cancelou uma visita programada à capital paquistanesa, Islamabad, para participar de uma cúpula regional em 2017.

Desde então, não houve nenhum avanço nas negociações de paz entre os países.

Voltamos à estaca zero?

A onda de protestos sangrentos nas ruas da Caxemira indiana em 2016 já afastava a esperança de paz duradoura na região.

Em junho de 2018, o Partido Bharatiya Janata, de Modi, se retirou de um governo de coalizão dirigido pelo Partido Democrático do Povo na região.

E, desde então, o Estado está sob gestão direta de Nova Déli, o que acirrou ainda mais os ânimos.

A morte de mais de 40 soldados indianos, em 14 de fevereiro, em um ataque suicida, acabou com a esperança de paz num futuro imediato.

A Índia culpou grupos militantes paquistaneses pelo ataque – o mais letal contra soldados indianos na Caxemira desde que a rebelião começou há três décadas. E afirmou que vai tomar “todas as medidas diplomáticas possíveis” para isolar o Paquistão da comunidade internacional.

Em retaliação, o país lançou os ataques aéreos de terça-feira contra bases de militantes em território paquistanês.

O Paquistão negou que os ataques tivessem causado grandes danos ou baixas, mas prometeu responder, alimentando o temor de confrontos. Nesta quarta-feira, anunciou ter derrubado os aviões da Força Aérea indiana.



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Fonte: BBC