BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Os moradores de Montevidéu sofreram nesta segunda-feira (17) com os impactos de uma das mais fortes chuvas dos últimos anos no Uruguai. A tempestade deixou ruas alagadas e carros cobertos até o teto, afetando serviços públicos e causando prejuízos em imóveis.

A chuva se deu após uma semana de temperatura recorde no país. Na sexta (14), a cidade de Florida, a 85 quilômetros de Montevidéu, registrou 44°C, o que não acontecia desde 1943 no Uruguai. “Entre quinta-feira (13) e sexta, várias estações meteorológicas ultrapassaram seus valores históricos para o mês de janeiro”, informou o Instituto Uruguaio de Meteorologia na ocasião.

Na tarde desta segunda, a instituição informou que a precipitação registrada em Montevidéu foi de 50 a 100 milímetros, sendo mais intensa entre 5h e 7h da manhã -a título de comparação, nos temporais dos últimos dias em Minas Gerais, choveram 241,7 milímetros em Belo Horizonte entre os dias 8 e 10.

“Posso dizer que a quantidade de água que caiu [nessas últimas horas] não caía há muitos anos”, disse Jorge Cuello, diretor do Centro de Coordenação de Emergência Departamental de Montevidéu, acrescentando que “choveu em poucas horas mais do que chove em um mês”.

De acordo com o jornal uruguaio El País, em alguns locais os ventos chegaram a 90 quilômetros por hora. A cidade de Canelones, a 45 quilômetros da capital, também foi fortemente atingida pelo temporal. A expectativa, segundo as autoridades uruguaias, é que as chuvas continuem, ainda que em menor intensidade, pelo menos até o final do mês.

A Administração Nacional de Centrais Elétricas e Transmissões calcula que cerca de 24 mil serviços foram afetados por causa do temporal. Às 18h, a companhia informou no Twitter que 14 mil clientes estavam sem eletricidade no país e que os problemas persistiam em sete subestações, inundadas.

“Estima-se que entre terça e quarta-feira (em alguns departamentos) seja possível restabelecer a eletricidade aos clientes”, disse a agência.

Em vídeos publicados nas redes sociais, é possível ver carros e ônibus tentando passar pelas enchentes. Em um deles, um motorista opta por sair do veículo, coberto de água pela metade, para esperar por resgate.

A forte chuva também atingiu várias casas de Montevidéu. “A água pressionou a porta da garagem que fica no andar de baixo e entrou como um tsunami”, disse uma moradora do bairro costeiro Malvín ao jornal El País. “Chegou como uma maré. Meu marido tentou guardar as coisas que tínhamos, algumas de valor. As fotos dos meus filhos quando nasceram, por exemplo, estavam na garagem.”

Outro vizinho afirmou que há quem tenha perdido tudo. “Eles ficaram apenas com o que estavam vestindo, eu nunca imaginaria que algo assim pudesse acontecer”, relatou. No prédio onde mora, no mesmo bairro, a garagem também foi inundada. “No momento, há cerca de dez ou 12 carros debaixo d’água.”

O diretor do Centro de Coordenação de Emergência de Montevidéu, Jorge Cuello, defendeu a gestão municipal e disse que os fatos desta segunda “não são um problema de manutenção”. “A natureza às vezes nos pune, como acontece em todas as partes do mundo, não só em Montevidéu”, disse à imprensa.

As chuvas foram registradas também em Buenos Aires, na vizinha Argentina. O país igualmente vem enfrentando a mais forte onda de calor desde 1906, quando começaram as medições oficiais. Na madrugada do sábado (15), Buenos Aires registrou 30°C, mais alta temperatura mínima da história.

Em Córdoba, onde nos últimos anos vêm-se registrando grandes incêndios, as autoridades esvaziaram a localidade turística de San Marcos Sierras. Os bombeiros contam que tiveram dificuldades para controlar o fogo devido à temperatura acima de 40°C e aos fortes ventos.

O calor também pode ter tido relação com um apagão na semana passada, que afetou o abastecimento de água e energia para 700 mil pessoas na região metropolitana de Buenos Aires. Na ocasião, comércios tiveram que fechar as portas e centros de teste de detecção de Covid alteraram o esquema de operação.

Nesta segunda, a tempestade aliviou um pouco o calor, para a casa dos 25°C durante a tarde.