Sayyida SalmeDireito de imagem Michael Bauer Ruete/Divulgação
Image caption Sayyida Salme era um dos 36 filhos do sultão

Uma dentre os 36 filhos do sultão de Zanzibar, na Tanzânia, Sayyida Salme cresceu tendo tudo, menos liberdade.

Mas, aos 22 anos, a princesa ficou grávida de um comerciante alemão fora do casamento, e a situação gerou um escândalo que a levou a fugir do país por medo de ser morta.

Sua história trágica a inspirou a escrever um livro, mas a história continuou pouco conhecida.

“Salme quebrou a tradição de educação das mulheres ao aprender a ler e escrever sozinha” diz à BBC Said el-gheithy, fundador e gerente do Museu Princesa Salme, em Zanzibar.

Ela é frequentemente creditamente como sendo a primeira mulher do leste africano a escrever um livro autobiográfico.

Poliglota, ela falava suaíli, arábe, turco e alemão.

“Mesmo na Alemanha, para onde ela acabou fugindo, desafiava a percepção das pessoas sobre a África e o Oriente”, afirma Gheithy. “Ela foi uma pioneira em termos de análises interculturais, e foi a primeira mulher a escrever suas observações sobre o modo de vida na Alemanha e no Zanzibar.”

“Ela era especialmente preocupada com o sofrimento de crianças pequenas com frio e fome na Europa, que ela trabalhou para combater.”

A vida do Zanzibar

Nascida em 1844 no Zanzibar, um arquipélago no oceano Índico que hoje é parte da Tanzânia, Sayyida Salme era filha do sultão Said Ibn Sultan Al Bu-Said e de uma das mulheres de seu harém.

Rebelde desde pequena, escrevia as letras do alfabeto arábe em ossos de camelo para aprender a escrever.

Seu irmão mais velho, Majid, herdou o trono depois da morte do pai em 1856, mas ele foi desafiado por outro filho do sultão, Barghash.

Como a maioria dos irmãos, Salme ficou do lado de Barghash e se tornou sua secretária. Aos 15 anos, escrevia cartas para líderes locais que decidiram seguir seu irmão rebelde.

Mas a insurreição de Barghash foi esmagada rapidamente, e Salme acabou se entregando e perdendo o apoio da maioria dos irmãos.

Fazendo amizade com europeus

Abandonada pelos irmãos e sentindo-se cada vez mais sozinha, começou a se aproximar de estrangeiros. A casa onde passou a morar era próxima a do jovem comerciante alemão Rudolph Heinrich Ruete.

Em pouco tempo, os dois se apaixonaram.

Direito de imagem Michael Bauer Ruete
Image caption Sayyida Salme com o marido Rudolph Ruete e 2 de seus 3 filhos

“O caso amoroso dos dois escandalizou tanto a família real quanto a companhia estrangeira de comércio no Zanzibar”, diz El Gheithy, do Museu Princesa Salme.

O casal acabou saindo da cidade, mas suas movimentações eram informadas ao sultão por empresas alemãs.

Fugindo do país

Quando o sultão Majid ouviu sobre os rumores envolvendo sua irmã, decidiu deixar seu carrasco de prontidão. Acalmado pela madrasta, ele ordenou então que Salme viajasse para a Arábia Saudita – sua gravidez já era visível.

“Ela era uma garota esperta. Havia ouvido histórias sobre mulheres em situações como a dela, que eram enviadas em viagens do tipo e acabavam no fundo do mar”, diz El-Gheity.

A jovem então fugiu para o Iêmen, onde deu à luz ao filho, que morreu logo depois.

Salme só juntaria ao amante alemão meses depois, quando se mudaram para a Alemanha e tiveram três filhos. Ao chegar ao país, mudou seu nome para Emily Ruete.

Logo enfrentaria uma nova tragédia: a morte de Rudolph em um acidente de bonde.

A garota então se viu sozinha e sem dinheiro com três crianças pequenas em um país estranho. Foi aí que escreveu sua autobiografia.

Ela morreu aos 80 anos, em 1924, e foi enterrada com uma pequena bolsa com areia de uma praia do Zanzibar, que ela sempre carregava consigo.

Descendentes americanos

“Eu fui à praia onde a princesa Salme foi vista pela última vez quando deixou o Zanzibar”, diz à BBC Michael Bauer Ruete, tataraneto de Salme. “Eu peguei uma garrafa e enchi com areia da praia.”

Hoje xerife aposentado, Michael mora na Flórida, nos EUA, com sua mulher e filhos.

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Image caption Michael Bauer Ruete segurando uma espada que pertenceu à sua tataravó

A avó de Michael, Olga Ruete, era neta de Salme.

“Eu não sabia muito sobre a história de nossa família”, diz ele. “Minha avó sempre manteve tudo em segredo, mas depois que ela morreu eu descobri uma série de itens do Zanzibar, documentos sobre a família real, fotos antigas, baús cheios de coisas que eu nunca tinha visto.”

“Há alguns anos, eu soube sobre nosso parentes no Zanzibar. Nós fomos para a Inglaterra para encontrá-los, incluindo o último sultão do Zanzibar, Jamshid Khalifa”, conta Michael.

“Apesar de sua vida não ter sido fácil, Sayyida Salme é lembrada até hoje por causa de sua forte personalidade e as decisões difíceis e sacrifícios que teve que fazer”, diz seu descendente.

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Image caption Olga, neta de Salme, na década de 1920

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Fonte: BBC