SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto ferramentas de inteligência artificial (IA) como ChatGPT e Midjourney impressionam o mundo com truques como ser aprovado em testes universitários e vencer concursos artísticos, a indústria de games já vê nelas utilidades práticas e as coloca em uso para facilitar o desenvolvimento de jogos de primeira linha.

A rapidez do setor para se adaptar a essa tecnologia é explicável. Os games usam formas mais primitivas de IA há décadas, por exemplo, embutidas na programação de personagens não jogáveis (NPCs) e para a construção de cenários gerados proceduralmente. Além disso, algumas dessas ferramentas parecem talhadas para o uso em grandes jogos, que precisam de centenas -às vezes milhares- de imagens e textos em um estilo pré-definido.

Com essa junção de familiaridade técnica e interesse, não foi surpresa quando os primeiros casos de uso de inteligência artificial no desenvolvimento de jogos começaram a aparecer.

Justin Roiland, co-criador da série “Rick and Morty”, confirmou que os desenvolvedores do seu último game, “High on Life”, utilizaram plataformas de IA para complementar o trabalho de ilustradores. A tecnologia também foi usada para fazer protótipos da voz de alguns personagens e um deles acabou sendo usado na versão final do game.

“Isso faz com que o mundo [do jogo] pareça uma estranha versão alternativa do nosso mundo. […] Eu não sei o que o futuro nos reserva, mas a IA é uma ferramenta que tem o potencial de fazer a criação de conteúdo incrivelmente acessível”, disse Roiland em entrevista à Sky News –antes de pedir demissão do estúdio Squanch Games por acusações de violência doméstica.

O Haven Studio, criado por ex-funcionários do Google e comprado pela Sony em julho do ano passado, também aposta na tecnologia. Executivos da empresa revelaram, em entrevista ao site GamesIndustry.biz, estar desenvolvendo softwares de inteligência artificial para, entre outros, criar modelos 3D com base em comandos de texto.

Se por um lado as ferramentas de IA podem ajudar desenvolvedores a fazer jogos grandiosos, reduzindo custos e acelerando a produção de recursos visuais como arte conceitual, ilustrações e modelos 3D, por outro artistas que hoje trabalham na indústria de games veem essas ferramentas como uma ameaça a seus empregos.

A preocupação pode parecer exagerada, já que muitas das tarefas hoje desempenhadas pela inteligência artificial poderiam ser simplesmente cortadas dos projetos com prejuízos mínimos para o produto final. No entanto, situações como o anúncio da demissão de 10 mil funcionários pela Microsoft (cerca de 5% de sua força de trabalho) horas depois de seu CEO, Satya Nadella, fazer elogios à tecnologia de inteligência artificial em uma palestra no Fórum Econômico Mundial dão razão aos mais pessimistas.

Em mensagem enviada aos funcionários da Microsoft sobre as demissões, Nadella afirmou que este é um momento de grandes mudanças, citando um novo padrão de gastos digitais dos consumidores após a pandemia, a necessidade de cautela com a chegada de uma recessão em várias partes do mundo e “o nascimento da próxima grande onda da computação com os avanços em IA”.

Os cortes atingiram ao menos três grandes estúdios de games da empresa: Bethesda responsável pela franquia “The Elder Scrolls”; 343 Industries, desenvolvedores dos últimos jogos da série “Halo”; e The Coalition, time por trás da franquia “Gears”. Dias depois, a Microsoft anunciou “um investimento multibilionário de vários anos” na OpenIA, startup por trás do ChatGPT.

Ainda que a tecnologia de inteligência artificial avance de forma acelerada, a criatividade humana continua sendo imprescindível para a criação de obras de arte, como os games. Essas ferramentas servem para potencializar, e não suplantar, a capacidade humana de criar histórias e mundos incríveis. Medidas como a tomada pela Microsoft, no entanto, preocupam e dão um mau sinal de que os executivos do Vale do Silício podem não compartilhar desse pensamento.

PLAY: dica de game, novo ou antigo, para você testar

Teardown(PC)

Há muitos jogos cuja premissa é construir, mas poucos como “Teardown”, em que o objetivo é destruir. Nesse título indie, o jogador assume o papel do dono de uma empresa de demolição próxima da falência que começa a aceitar propostas escusas de trabalho para tentar reerguer sua firma. De forma geral, o objetivo das fases é abrir uma rota de fuga derrubando paredes e destruindo objetos para pegar algum item específico e deixar o lugar em menos de 60 segundos. Além do modo história, há desafios e um modo “sandbox”, em que o jogador pode destruir livremente o cenário.

UPDATE: novidades, lançamentos, negócios e o que mais importa
– A Microsoft anunciou em seu balanço uma queda de 13% nos lucros da sua divisão de games nos últimos três meses do ano passado, com quedas similares tanto na área de hardware quanto na de conteúdo e serviços.
– Apesar dos números negativos, a empresa comemorou o recorde de 120 milhões de usuários ativos por mês no Xbox Game Pass, seu serviço de games por assinatura.
– Para ajudar a quebrar a maré de más notícias, Microsoft realizou evento virtual na última quarta-feira (27) e anunciou para a própria quarta o lançamento surpresa de “Hi-Fi Rush”, jogo de ação rítmico em estilo cartum da Tango Gameworks para consoles Xbox Series X/S e para PC. A empresa revelou ainda as datas de lançamento do jogo de estratégia “Minecraft Legends” (18 de abril) e do game de vampiros da Arkane, “Redfall” (2 de maio).
– A Riot anunciou que o código fonte de seus jogos “League of Legends” e “Team Fight Tactics” foi roubado por hackers. A empresa disse que se negou a pagar o resgate pedido pelos criminosos e que está tomando medidas para impedir a proliferação de cheats resultantes do vazamento do código. Segundo a Riot, nenhuma informação dos jogadores foi comprometida.
– A Crystal Dynamics afirmou que publicará em 31 de março os últimos conteúdos inéditos para o jogo “Marvel’s Avengers” e que deixará de dar suporte para o game em 30 de setembro. Segundo o estúdio, os modos multiplayer e singleplayer continuarão funcionando mesmo após o fim do suporte.
– Neil Druckmann, diretor de criação da Naughty Dog, afirmou em entrevista ao BuzzFeed que o estúdio não pretende mais trabalhar com a franquia “Uncharted”. “‘Uncharted’ fez um sucesso insano. ‘Uncharted 4’ foi um dos nossos jogos mais vendidos e nós pudemos dar nossa pincelada final nessa história e dizer que estamos satisfeitos. Vamos em frente”, disse.
– A atriz Annie Wersching, 45, que interpretou e dublou a personagem Tess no jogo “The Last of Us” morreu no último domingo (29) devido a um câncer. Ela deixa o marido, o comediante Stephen Full, e três filhos.

DOWNLOAD: games que serão lançados nos próximos dias e promoções que valem a pena

31.jan “Inkulinati”*: R$ 74,95 (Xbox One/X/S), preço não disponível (PC)
“Season: A Letter to the Future”: R$ 133,90 (PS 4/5), preço não disponível (PC)
“SpongeBob SquarePants: The Cosmic Shake”: R$ 107,99 (PC), R$ 199,50 (PS 4), R$ 221,95 (Switch, Xbox One)2.fev
“Deliver Us Mars”: R$ 52,19 (PC), R$ 159,90 (Xbox One/X/S, PS 4/5)
“Tails: The Backbone Preludes”: preço não disponível (PC)

*Disponível no Xbox Game Pass

Promoção da semana

Considerado o último capítulo da franquia “Dishonored”, da Arkane Studios, “Dishonored: Death Of The Outsider” estará disponível