SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Gloria Pires e Maisa são mãe e filha em “Desapega!”, comédia sobre compulsivos que chega aos cinemas nesta quinta-feira (9). A veterana interpreta Rita, uma mulher de meia-idade solteira que lidera um grupo de apoio para compradores desenfreados depois de supostamente superar o problema. O conflito se dá quando sua única filha Duda, vivida por Maisa, decide fazer intercâmbio em outro país.

O longa tenta expor os problemas que trazem a compulsão por compras com leveza ao levar às telas personagens caricatos -como uma blogueira que filma tudo o que vê pela frente. “É uma oportunidade para falar disso com humor, com todo mundo rindo junto e não um do outro”, afirma Pires.

Hsu Chien, o diretor do longa e criador da trama, já sofreu com vício por compras. Ele conta que quis explorar o tema num filme de comédia que servisse como terapia para ele.

“Desapega!” engorda uma lista extensa de filmes de comédia brasileiros, a seara mais explorada pelo cinema nacional. “A gente aprendeu a rir da nossa desgraça, não é à toa que esse gênero cativa tanto”, afirma Maisa.

Marcos Pasquim, que vive Otávio, o par romântico da personagem de Pires, tem uma percepção semelhante. “Brasileiro gosta de comédia porque a gente sofre, né?”, diz. A atriz concorda. Para ela, são as dificuldades da vida que levam o público a escolher comédias para aliviar o estresse.

Na trama, Rita precisa encontrar um alento quando descobre que a filha quer mudar de país para perseguir o sonho de ser fotógrafa. Desestabilizada, a personagem acaba caindo na tentação das promoções e cede à compulsão que tinha superado.

O filme ganha tons dramáticos quando Duda se decepciona com as decisões da mãe. A trama vai além do bom humor para tentar arrancar lágrimas ao falar de família.

Maisa diz que, apesar da experiência, ainda se intimida ao atuar com veteranos como Gloria Pires. “Minha primeira gravação foi uma cena de reconciliação, das mais importantes do filme. Quando se começa pela parte mais difícil, e dá certo, tudo flui naturalmente.” Hsu abre um sorriso largo enquanto vê ela falando.

O cineasta deu entrevista a este jornal no dia em que os indicados ao Oscar foram anunciados. Ele participou da comissão que escolheu o filme brasileiro enviado para avaliação da premiação. “Marte Um”, aposta nacional para esta edição do prêmio, não foi aprovado para a lista de pré-indicados.

Para o diretor, isso não significa que a premiação tenha resistência com longas brasileiros. “O que precisamos é obras que falam de temas caros à comissão. Amo ‘Marte Um’, mas talvez esse tipo de filme seja muito particular para o universo brasileiro”, afirma.

Pires virou meme ao dizer que não era capaz de comentar um filme do Oscar na cobertura da Globo em 2016, mas agora não hesita em dar pitaco sobre a premiação. Na opinião dela, há uma supervalorização em volta do evento, embora admita que uma estatueta dê mesmo prestígio aos premiados.

“Existe uma expectativa muito grande pelo Oscar. Para se ter chance, é preciso de um filme que esteja disponível no circuito americano. Falta investimento e falta entender que essa é uma indústria superpoderosa.”

“Desapega!” é um dos primeiros filmes brasileiros a estrear após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições do ano passado. O governo de Jair Bolsonaro (PL) ficou conhecido por sucatear a cultura no Brasil e fazer uma condução letárgica da Ancine, a Agência Nacional do Cinema.

Marcos Pasquim tem boas expectativas para o setor audiovisual no novo governo. “Agora, com a Ancine tendo mais dinheiro e a lei Rouanet voltando a ajudar os atores, a tendência é melhorar bastante.”

Para Hsu, a cultura brasileira está em boas mãos sob a condução da ministra Margareth Menezes. “Precisamos voltar a ter produções no cinema para que as pessoas voltem a frequentar esse espaço. Afinal, o cinema brasileiro praticamente desapareceu.”